Hamon promete uma "esquerda inovadora" contra uma "extrema-direita destruidora"
Com resultados ainda parciais, o ex-ministro da Educação Benoît Hamon conseguiu 58,65%% dos votos na segunda volta das primárias da esquerda em França, contra 41,35% para o ex-primeiro-ministro Manuel Valls.
Começando a falar ainda antes de Valls ter terminado, Hamon afirmou que é preciso "escrever uma nova página da nossa história". O ex-ministro sublinhou que face a "uma extrema-direita destruidora, a França precisa de uma esquerda inovadora"
Pouco antes Valls reconhecera a derrota. "Benoît Hamon é agora o candidato da nossa família política", sublinhou Manuel Valls na Casa da América Latina, em Paris. Diante de uns apoiantes desiludidos, o ex-primeiro-ministro saudou o adversário e lembrou que agora é tempo de união. Depois de agradecer a toda a equipa e aos eleitores, Valls garantiu que "as derrotas fazem parte da vida política e da democracia", afirmando-se "sem rancores".
A vitória foi avançada pela AFP antes ainda do anúncio oficial dos resultados por Thomas Clay, presidente da alta autoridade das primárias.
Os temas de Hamon têm gerado polémica no PS, nomeadamente a questão do rendimento universal. O candidato defende que cada pessoa em França, seja qual for a idade ou os rendimentos, passe a receber 750 euros por mês. É também favorável à introdução da eutanásia, à liberalização do consumo da canábis e da procriação medicamente assistida para todos e barrigas de aluguer.
O antigo primeiro-ministro Manuel Valls tinha obtido 31,48% dos votos na primeira volta da esquerda francesa, no dia 22, a pouco menos do que cinco pontos percentuais de Benoît Hamon (que venceu, com 36,03%). Arnaud Montebourg ficou na terceira posição (com 17,52%), pelo que os seus votantes (consoante se mobilizem para votar Valls ou Hamon) poderão decidir a contenda.
Os dois candidatos socialistas esgrimiram na noite de quarta-feira os seus argumentos num último debate televisivo. Valls, de 54 anos, apostou em valorizar a sua "credibilidade" contra um candidato que considerou apostar em "ilusões" e que vai gerar "deceção". Já Hamon, de 49 anos, propôs aos franceses um "futuro desejável" contra a "velha ordem" na política.
Valls apresentara a demissão de primeiro-ministro a 5 de dezembro, dias depois de o presidente François Hollande ter anunciado que não iria ser candidato às primárias da esquerda.
As 7500 assembleias de voto abriram às 7:00 locais (menos uma em Lisboa) e fecharam às 19:00. Para evitar as críticas da primeira volta sobre o verdadeiro número de votantes, Christophe Borgel, presidente da Comissão Organizadora da primária, prometeu "uma grande vigilância". E à medida que começavam a cair os primeiros resultados parciais, os media tiveram acesso à sala onde estavam a ser compiladas as informações vindas das assembleia de voto.
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Com apenas 1,6 milhões de votantes na primeira volta (menos um milhão que em 2011 e bem abaixo dos quatro milhões das primárias da direita), a esquerda sabe que precisa de mobilizar os eleitores para ter alguma hipótese de passar à segunda volta nas presidenciais de abril/maio.
E com François Fillon, o candidato da direita, envolvido em vários escândalos - o primeiro envolvendo a mulher, Penelope, a quem terá dado emprego como assessora parlamentar, o segundo sobre o desvio de 25 mil euros quando era senador (ver caixa) - esta pode ser a janela de oportunidade para o candidato da esquerda.
As sondagens continuam a dar Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional, à frente na primeira volta, seguida de Fillon e de Emmanuel Macron, o ex-ministro da Economia que entretanto lançou o seu próprio partido, o En Marche!. Numa eventual segunda volta entre Le Pen e Fillon, o ex-primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy venceria facilmente, com mais de 60% dos votos. Mas a verdade é que os últimos estudos ainda não refletem o impactos do escândalo já conhecido como Penelopegate. Em caso de duelo Le Pen-Macron, o líder da extrema-direita francesa sairia também derrotada.