É uma luta que se arrasta há cerca de um ano. A partir de segunda-feira, os professores voltam a recusar trabalhar além das 35 horas semanais (22 de aulas e 13 de componente não letiva), num protesto que deverá afetar reuniões de avaliação intercalar dos alunos, formações e outras atividades. A greve às horas extraordinárias foi convocada por dez organizações sindicais, entre as quais a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e Federação Nacional da Educação (FNE), que acusam o Ministério da Educação de nada ter feito para garantir que os docentes trabalhariam apenas 35 horas por semana.."O Ministério da Educação teima em não aceitar produzir legislação ou dar orientações às escolas para que façam que o trabalho além das 35 horas termine. Assim, não há outra opção que não seja dar continuidade à greve que se iniciou no ano passado", diz ao DN Pedro Barreiros, vice-secretário-geral da FNE, destacando que - embora o governo tenha dito que a greve do ano passado não teve impacto - "houve uma forte adesão dos professores, o que se traduziu numa mudança de práticas em algumas escolas"..As reivindicações prendem-se com "o trabalho em excesso que é pedido aos professores e que faz que ultrapassem em muito as 35 horas semanais". Pedro Barreiros adianta que essas horas são "sistematicamente ultrapassadas", havendo professores a trabalhar "40, 41 e até 48 horas por semana"..Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, reforça: "Há um desgaste enorme dos professores." O que está em causa, explica, "é a sobrecarga de trabalho, que impede que possam fazer um bom trabalho com os alunos porque andam completamente esgotados"..Segundo o dirigente sindical, o impacto da greve irá sentir-se, para já, nas reuniões de avaliação intercalar, que começam na próxima semana, embora a maioria esteja marcada para depois do dia 21. "Há escolas em que para se realizar essas reuniões é suspensa a atividade letiva. Mas há escolas que obrigam os professores a permanecer durante uma semana com aulas e reuniões que vão além do horário de trabalho.".No ano letivo passado, lembra Mário Nogueira, "muitas [reuniões de avaliação intercalar] foram adiadas e muitas acabaram por não se realizar" devido à greve dos professores ao trabalho extraordinário..Há casos, denuncia o dirigente, em que os próprios horários dos docentes têm mais de 35 horas por semana e outros de omissão. "Há escolas que não colocam no horário as horas destinadas às reuniões, mas os professores têm de as fazer para lá do trabalho", diz. Além disso, prossegue, há escolas em Lisboa e Setúbal a atribuir "trabalho direto com alunos aos professores [com mais de 50 e 60 anos], com turmas que a escola não consegue preencher nas suas horas de redução de aulas". Isto é, sublinha, "absolutamente ilegal"..Mário Nogueira conta que estas situações já foram denunciadas ao Ministério da Educação, mas "até ao momento não houve feedback", o que levou as organizações sindicais a avançar com o pré-aviso..Greve pode prolongar-se.Ambos os dirigentes admitem a possibilidade de a greve se prolongar para lá do dia 25 de outubro, o último para que existe pré-aviso. "Vamos ter a apresentação de um novo governo, que há de ter um novo ministro da Educação, esperamos. Se tiver o mesmo, as coisas começam logo mal. Seria até entendido como uma afronta aos professores", diz Mário Nogueira.."Quando tomar posse, iremos reunir com os responsáveis e colocar estas questões, entre outras. E veremos... Se houver medidas para ultrapassar o problema, a greve acaba. Se o governo tiver um ministro da Educação que acha que não tem de fazer nada, a greve irá manter-se", refere o secretário-geral da Fenprof..Além das reuniões intercalares, o pré-aviso incide sobre as reuniões gerais de docentes, de conselho pedagógico, de turma e outras; sobre as formações que estejam marcadas fora das 35 horas semanais e "atividades de coadjuvação e de apoio a grupos de alunos, em todos os casos em que as mesmas não se encontrem integradas na componente letiva dos docentes"..Pedro Barreiros considera que os professores "não podem aceitar" que o Ministério da Educação "exija que trabalhem muito mais tempo do que o legal", "numa altura em que o tempo de serviço não é contabilizado" e que os professores lutam "para recuperar os nove anos quatro meses e dois dias, que só foram recuperados em parte".