Para definir Pedro Henrique, 36 anos, ex-campeão nacional, ex--campeão mundial júnior e ex-surfista do World Tour, talvez não haja melhor declaração do que a do próprio a propósito da sua participação no Allianz Figueira Pro, terceira etapa da Liga Meo que decorre no Cabedelo de 1 a 3 de junho: "Há quem vá aos campeonatos porque é bonito ser surfista; eu não. Nos campeonatos eu não vou brincar, vou para vencer, seja qual for a prova. Por que se pensar noutra coisa qualquer, se não estiver focado a 100% no objetivo... você vai perder. Não só no surf como na vida, é preciso dar o melhor para vencer.".A quem esteja agora a entrar no mundo do surf, numa era em que os brasileiros são, provavelmente, a nação mais dominadora da modalidade, as palavras de Pedro Henrique ajudam a perceber um pouco mais a filosofia de uma escola em que este internacional português de origem carioca foi formado. Uma filosofia que ele transporta para o dia-a-dia competitivo e não só..Pedro Henrique é um trabalhador do surf. Sem patrocinador principal que sustente condignamente a sua ambição de regressar ao palco maior do surf mundial, o World Tour, o luso-brasileiro divide o tempo entre os treinos, a competição e a gestão de um café na zona de Algés. "É um investimento fora do surf. Mas a prioridade continua a ser o surf e os objetivos de carreira também", remata, sem negar que ajuda a compor a pesada conta de quem tem de gastar muito dinheiro, sobretudo, em viagens. Afinal, correr atrás das ondas é caro e muito mais para quem tem na mira para este ano um bom resultado no WQS, o circuito mundial de qualificação, que este ano passa, para Pedro Henrique, pelas provas europeias e, "se tudo correr bem", por incursões ao Brasil e Havai..Quanto aos patrocínios que não chegam, tem uma posição em que se mistura já algum conformismo: "É muito complicado conseguir um patrocínio em Portugal, por várias razões. Penso que hoje em dia também tem muito que ver com o facto de a maioria das marcas de surf já terem as suas sedes lá fora, sobretudo em França, e passa tudo por aí. Não só mas também.".E para a Figueira da Foz, o que esperar do homem que ganhou ali o ano passado na primeira vez que competiu naquela onda? "Sim, foi a primeira vez que entrei num campeonato ali. Já tinha ouvido falar muito bem do Cabedelo, que era uma direita muito boa, e realmente encontrámos condições excelentes no campeonato. E adorei a cidade e outras ondas ali à volta. Foi uma bela experiência que gostava de repetir novamente neste ano.".A boa concorrência.É quase estranho que à terceira etapa da Liga Meo 2018, Pedro Henrique ainda não tenha logrado uma final. Um mau momento de forma? "Na primeira etapa as coisas não me correram bem porque o mar superou as expectativas e estava maior do que esperava. Faltou-me uma prancha maior, das que praticamente só uso no Havai. E, no Porto, simplesmente não me encontrei com as ondas.".Se Pedro Henrique não esteve muito em foco, tivemos outros surfistas a destacar-se, casos de Miguel Blanco e Marlon Lipke. Este último, aliás, não ganhava uma prova da Liga há cinco anos. Para o campeão nacional de 2016 essa variedade é um bom testemunho da vitalidade e competitividade da Liga: "Sim, as coisas este ano estão diferentes e vimos surfistas que já não apareciam em finais há algum tempo, como o Marlon Lipke e o Francisco Alves. Os surfistas do top 10 da Liga têm todos condições de ganhar uma etapa e é bom que assim seja.".Quanto a favoritos, sublinhando a extrema competitividade da Liga, Pedro Henrique recusa dar nomes, mesmo argumentando com as características de um spot, o Cabedelo, que se caracteriza por uma onda potencialmente tubular e poderosa para a direita: "No meu caso, eu surfo qualquer onda, independente das características, e não creio que seja só quem surfa bem point breaks de direita que vai tirar vantagem ali. Acho que fundamentalmente vai ganhar quem estiver bem naquele dia. E isso é bom. Para o espetáculo e para o campeonato."