Há russos pró-Putin a receber refugiados em todo o país, denuncia associação

A Associação dos Ucranianos em Portugal alertou "há mais de um mês, os serviços secretos portugueses (Serviço de Informações de República Portuguesa) para a presença de agentes infiltrados nas organizações que estavam a dar apoio aos refugiados.
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A Associação dos Ucranianos em Portugal revelou esta sexta-feira que há "por todo o país" elementos pró-Putin nas organizações que estão a acolher refugiados ucranianos, alertando trata-se de um fenómeno que se repete em toda a Europa.

"Desde que os refugiados começaram a chegar a Portugal, em março, começámos a receber alertas de que tinham sido recebidos por pessoas de elementos pró-russos que se faziam passar por elementos de organizações internacionais e até ucranianas", contou à Lusa o presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadoka, garantindo que as denúncias chegaram "de norte a sul do país".

Nestes encontros, os ucranianos acabados de fugir da guerra temiam pela sua segurança assim como dos familiares e amigos que tinham ficado no país, acrescentou Pavlo Sadoka.

A Associação dos Ucranianos em Portugal alertou "há mais de um mês, os serviços secretos portugueses (Serviço de Informações de República Portuguesa) para a presença de agentes infiltrados nas organizações que estavam a dar apoio aos refugiados e a recolher informações sobre as suas famílias", disse.

O jornal Expresso revela hoje o caso concretos dos serviços de apoio a refugiados da Câmara Municipal de Setúbal, onde alguns ucranianos se sentiram ameaçados por terem sido recebidos por responsáveis de uma associação pró-russa.

"Os russos têm a melhor rede de espionagem de todo o mundo e utilizam todo o tipo de esquemas. Claro que nós não podemos provar, porque não somos nenhuma agência de investigação, mas a História diz-nos que esta é uma situação muito perigosa", explicou Pavlo Sadoka.

Segundo o representante da Associação, esta situação está a repetir-se por toda a Europa: "A Associação de Ucranianos em Portugal esteve reunida esta semana com outras organizações e vimos que é igual em toda a Europa".

De acordo com o semanário, pelo menos 160 refugiados ucranianos já terão sido recebidos por Igor Khashin, antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos, e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município setubalense.

Igor Khashin, líder da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), subsidiada desde 2005 até março passado pela Câmara de Setúbal, e a mulher terão, alegadamente, fotocopiado documentos de identificação dos refugiados ucranianos, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara Municipal de Setúbal.

Segundo o Expresso, Igor Khashin e a mulher terão também questionado os refugiados sobre os familiares que ficaram na Ucrânia, mas a Câmara Municipal de Setúbal garante que "nunca foi feita tal pergunta".

O jornal refere ainda que Igor Khashin é um dirigente associativo com dupla nacionalidade, que se apresenta como "gestor de projetos", e que as associações a que terá estado ligado estavam nos 'sites' da Ruskyi Mir e da Rossotrudnichestvo, instituições estatais criadas pelo Kremlin para divulgar a cultura e o mundo russos, mas que, segundo fontes citadas pelo jornal, "podem servir de cobertura a elementos dos serviços secretos" da Rússia.

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu hoje que a primeira questão que se coloca no caso do acolhimento de refugiados pela câmara municipal de Setúbal é saber se "é um caso único".

Questionado pelos jornalistas no parlamento, Jerónimo de Sousa disse que, tanto quanto sabe, existe "um conjunto de câmaras que naturalmente são solidárias com os imigrantes, com os refugiados, sempre, mas sempre solidários com essas situações".

O secretário-geral comunista defendeu que "a primeira pergunta que se coloca é de facto se isto é um caso único ou se existe uma generalidade de associações que são solidárias com os imigrantes", após questionado se o PCP vai acompanhar os pedidos de audição no parlamento do presidente da Câmara de Setúbal anunciados por quase todos os partidos.

"Portanto não percebemos o enfoque em relação à câmara" de Setúbal, acrescentou.

O semanário Expresso notícia hoje que refugiados ucranianos são recebidos na Câmara de Setúbal por russos simpatizantes do regime de Vladimir Putin e que responsáveis pela Linha de Apoio aos Refugiados estão a fotocopiar documentos dos refugiados, entre os quais passaportes e certidões das crianças.

Questionado se esta é uma questão sensível, dado que os dois países estão em guerra, o secretário-geral do PCP referiu que "aquela associação, aqueles que lá estão associados convivem bem uns com os outros", ressalvando no entanto não ter "informações precisas".

Já se esta situação pode prejudicar o PCP, Jerónimo disse desconfiar que "esse é o objetivo".

"Mas que não é verdade, tendo em conta que existe por parte de diversas instituições essa solidariedade com aqueles que vêm para o nosso país", defendeu.

Já se o Governo deverá esclarecer a situação, Jerónimo de Sousa disse que "sim, convém esse esclarecimento".

"Mas eu acho que é possível esclarecer", afirmou o secretário-geral comunista.

O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Valente Martins, do Partido Ecologista "Os Verdes", foi eleito pela lista da CDU (PCP/PEV/ID) nas últimas eleições autárquicas.

Antes de retomar o debate parlamentar sobre o Orçamento do Estado para 2022, Jerónimo de Sousa, acompanhado pela líder parlamentar, Paula Santos, e pelo deputado Bruno Dias, saíram do gabinete do Grupo Parlamentar do PCP, tendo-se cruzado nos corredores com os membros do Governo.

Nessa altura, o líder comunista conversou, durante alguns minutos, com o primeiro-ministro, longe dos microfones dos jornalistas.

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