Proclamado pelos ambientalistas como a amazónia da África Ocidental pela riqueza do seu banco de ecossistema no continente africano, o Parque Nacional da floresta de Cantanhez é uma autêntica biblioteca para as gerações vindouras da Guiné-Bissau, de África e do mundo pois reúne todas as condições técnicas e científicas para o estudo da fauna e da flora. Atualmente é um dos espaços mais procurados para o turismo científico para desenvolver os estudos e as investigações, principalmente, na área de medicina uma vez que possui várias plantas medicinais..Na floresta de Muna, em Cantanhez, os estudiosos das plantas medicinais descobriram, durante o inventário nacional, a Astraesculoide Barteri que pertence a família das plantas medicinais que, de acordo com um estudo feito pelos técnicos português de 1996 a 1997, pode prolongar a vida das pessoas infetadas com o vírus do VIH-Sida..O interior do Parque de Cantanhez tem aproximadamente 20 mil habitantes distribuídos por 13 tabancas. Situado no Sul da Guiné-Bissau, na região de Tombali, este parque natural foi, desde a era colonial, reconhecido pela sua importância como um ecossistema rico em população de fauna e da flora. Mas infelizmente no período colonial praticava-se de forma desorganizada a caça e a agricultura no parque. Com a independência do país os ambientalistas estabeleceram uma lei da caça e da agricultura na zona passando essas atividades a serem reguladas com indicações precisas para os caçadores..Não obstante a sua riqueza em ecossistema, a floresta de Cantanhez ainda está longe de ser uma preocupação para as autoridades da Guiné-Bissau. E isto porque ainda não foi definida uma política clara sobre a proteção e conservação do parque, faltando um investimento visível nesta zona..Os ambientalistas lamentam que o governo da Guiné-Bissau tenha vindo a assinar vários tratados e convenções sobre a proteção das florestas no país, mas, frisam, que infelizmente não cumpre na prática essas convenções. Por exemplo, atualmente o país não está em condições de fazer face a qualquer catástrofe natural no Parque nacional de Cantanhez. Garantem que se a floresta for agora atingida por um incêndio o governo não estaria em condições de dar uma resposta eficaz o que poderia trazer consequências devastadoras para o país, para o continente africano e o mundo. Por isso, os ambientalistas da Guiné-Bissau sustentam que "não basta o governo ratificar no Parlamento as convenções sobre as áreas protegidas, mas é urgente a sua implementação no terreno para obter resultados palpáveis"..Na opinião de engenheiro agropecuário e técnico da Ação para o Desenvolvimento, Abubacar Serra, que montou todas as estruturas da criação do Parque Nacional da Floresta de Cantanhez "é preciso que o governo se decida pela preservação do parque e dar forças às Organizações Não Governamentais para valorizar e conservar o Parque de Cantanhez sem mexer com o seu ecossistema"..Ainda na visão de Abubacar Serra não obstante a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e outras organizações ligadas a proteção da floresta financiarem os projetos de proteção e da conservação estes acabam por não serem concretizados. A maioria dessas ideias desaparece por falta de sustentabilidade, pois o governo da Guiné-Bissau deveria ajudar as referidas organizações a terem sustentabilidade financeira para poder expandir os projetos ambientais de forma consistente em todo o território nacional..Este engenheiro agropecuário da Ação para o Desenvolvimento lamenta o facto de os deputados eleitos na zona do Parque Nacional de Cantanhez terem receio de exigir o cumprimento das regras de conservação ambientais para não perderem a popularidade junto dos eleitores. A população, por sua vez, pretende alargar cada mais na floresta a prática de agricultura e da caça na floresta.."A floresta de Cantanhez ainda existe hoje graças à ação desenvolvida pelo Instituto da Biodiversidade das Áreas Protegidas (IBAP), da Ação para Desenvolvimento (AD) e da Organização Não Governamental Ianda Guiné na área da conservação e proteção do meio ambiente. Se estas organizações não desenvolverem atividades no sentido da proteção do meio ambiente a floresta de Cantanhez deixaria de existir na Guiné-Bissau," explicou ao DN Abubacar Serra que lamenta "existirem várias legislações sobre a floresta na Guiné-Bissau, mas infelizmente nenhuma delas é rigorosamente respeitada na prática". No seu entender "há um conflito entre a segurança alimentar das comunidades que vivem no parque com a política de conservação do meio ambiente"..É esse conflito, na visão de Abubacar Serra, que "viola na maioria de vezes o limite dos espaços concedidos para as atividades de agricultura"..Conciliar a segurança alimentar das comunidades locais com a preservação da floresta é hoje uma das maiores preocupações que exige do governo da Guiné-Bissau a utilização de um verdadeiro método de sensibilização para reeducar a população da comunidade que vive no parque. Na opinião de Abubacar Serra a regulamentação da prática da caça nas zonas de Parque de Cantanhez não está a ser respeitada. Até as espécies em extinção como os búfalos, gazelas, chimpanzés, panteras e elefantes têm sido alvos dos caçadores..Além de diferentes espécies de flora, o Parque Nacional de Cantanhez é rico também em espécies de fauna. Por exemplo, em termos de primatas tem os chimpanzés Pantragrolitos Vieros e ainda os chimpanzés Babuinos ou Papiu-Papiu (vulgo Kon). Também existem em Cantanhez dois tipos de cercopitecas: Mona (vulgo Santchu Mona), e Cercopitecos Cerqueopes (vulgo Santchu de Tarrafe). Existem ainda dois tipos de Colobos: Badius (vulgo Fatango) e Policomose (vulgo Santchu Fidalgo).O Parque Natural de Cantanhez acolhe centenas de espécies diferentes de aves migratórias que procuram um espaço para repousar. Ocupando a nona posição em 200 ecorregiões do mundo e a sexta posição no continente africano, a floresta de Cantanhez, de acordo com avaliação dos botânicos, possui uma das floras mais antigas de África. Existe na flora de Cantanhez a Estrombose Apostulata, uma espécie que atinge entre 50 a 60 metros de altura e considerado pelos botânicos como um dos indicadores de que é uma floresta primata que existe há 500 anos sem serem explorada pelo homem. Esta espécie da flora só se encontrava apenas na amazónia brasileira..A Guiné-Bissau é um país de grande porosidade fronteiriça, em particular, na zona Sul e Leste do país onde não existe hoje controle sobre os imigrantes vindos dos países vizinhos, em particular, da Guiné-Conacri. A imigração descontrolada dos guineenses de Conacri constitui uma das principais ameaças da floresta de Cantanhez porquanto a sua utilização do parque para agricultura e caça põe em causa todo o sistema de conservação da floresta..Nos últimos anos o número da população de Cantanhez aumentou consideravelmente em virtude de imigração interna de norte para sul do país, em particular para a zona das florestas esbarrando no corredor transfronteiriço que permite os animais viajar de um lado para outro na floresta de Cantanhez. O que na realidade constitui uma série ameaça a fauna e a flora. Por outro lado, a campanha de castanha de caju que ganhou agora um interesse vital na vida económica da população da Guiné-Bissau levou os populares a colocarem caju nas zonas de bebedouros dos búfalos impedindo-os a ter o acesso a água..Hoje os búfalos andam à procura da água na floresta de Cantanhez, provocando consequências devastadoras na agricultura da população local. Por exemplo, na saga de encontrar água para consumo, os búfalos destruíram, por completo, uma horticultura da população de uma das Tabancas de Cantanhez.."Um dia os búfalos estavam à procura de um bebedouro para beber água, por sorte, encontraram água nuns bebedouros dos campos de horticultura nos arredores de uma das aldeias", explica ao DN, Abubacar Serra, acrescentando que "depois de beberem água destruíram toda a plantação de horticultura que ali se encontrava.".Quem visitar a zona da floresta Natural de Cantanhez no sul da Guiné-Bissau pode constatar que na realidade o fenómeno de imigração descontrolada da população do norte para sul do país e a invasão dos imigrantes vindos da Guiné-Conacri, têm sido uma dor de cabeça para os ambientalistas que trabalham no parque. Porque, além da intensificação da caça e da agricultura, a população imigrante está a destruir também a floresta para construir as suas habitações e plantações generalizadas de Quintas de Caju para poder ter uma economia familiar sustentável..Não obstante existir alguns inventários feitos em Cantanhez por iniciativas de organizações de ambientalistas, é necessário e urgente a realização de cinco em cinco anos de um inventário a nível de todo o território nacional para saber e ter clara noção das espécies que existem, as que estão em via de extinção e as que já foram extintas para poder trabalhar no sentido de salvaguardar a conservação da floresta em Cantanhez..Recorde-se que o Parque Nacional da Floresta de Cantanhez está situada na aldeia de Cabucare na região de Tombali no Sul da Guiné-Bissau. Foi criada pela Organização Ação para o Desenvolvimento em 2011. É considerado por muitos ambientalistas como um dos maiores bancos de ecossistema do continente africano onde se pode desenvolver um estudo científico sobre a flora e fauna, sobretudo, o estudo sobre as plantas medicinais.