Guindos no cargo de Constâncio. Weidmann no lugar de Draghi?
Era uma corrida a dois. Mas ainda antes da reunião de ontem dos ministros das Finanças da zona euro passou a haver apenas um candidato à vice-presidência do Banco Central Europeu (BCE). Luis de Guindos, ministro da Economia de Espanha e antigo alto quadro do Lehman Brothers, é o mais que provável sucessor de Vítor Constâncio, que termina o mandato no final de maio, já que a Irlanda retirou o seu candidato. A nomeação deverá acontecer no Conselho Europeu de 22 de março. A escolha do espanhol pode aumentar as hipóteses de no próximo ano Mario Draghi ser substituído por Jens Weidmann, o atual presidente do Bundesbank, o banco central alemão, que é, de momento, o favorito dos economistas.
Antes da entrada na reunião de ontem, Mário Centeno, o presidente do Eurogrupo, confirmou que "o candidato irlandês já não estará como candidato, o que nos deixa Luis de Guindos como o candidato a vice-presidente do BCE". Em comunicado, o Eurogrupo disse apoiar o espanhol. Antes de entrar na corrida para o banco central, o espanhol de Guindos chegou a ser apontado como pretendente à liderança do Eurogrupo. Mas Madrid acabaria por apoiar Mário Centeno. Para a escolha do substituto de Constâncio, o governo português retribuiu o apoio que tinha obtido do país vizinho.
Philip Lane, governador do banco central da Irlanda, saiu da corrida. Paschal Donohoe, ministro das Finanças irlandês, explicou que "é crucial que a eleição do novo vice-presidente do BCE seja baseada no consenso". Segundo responsáveis da zona euro, citados pela Reuters, é provável que Lane fique com um prémio de consolação, o de economista-chefe da instituição, cargo que fica livre no próximo ano.
No final da semana passada, a imprensa espanhola avançava que Guindos tinha o apoio da maior parte dos países da zona euro e que existiam pressões para que Lane desistisse. O irlandês era o favorito do Parlamento Europeu. "A maioria dos grupos políticos consideraram o desempenho de Lane como convincente e alguns grupos expressaram reservas sobre a nomeação de Guindos." Alguns eurodeputados sublinharam que a participação de Guindos no Eurogrupo poderia ameaçar a sua independência no papel que irá ter no BCE.
No entanto, os pareceres do Parlamento Europeu não são vinculativos. Mas podem levar a atrasos no processo, como aconteceu em 2012 com Yves Mersch, um dos atuais membros da comissão executiva do BCE.
Weidmann favorito ao lugar de Draghi
Entregar o segundo lugar da hierarquia do BCE a um responsável de uma das grandes economia do Sul da Europa pode aumentar a probabilidade de a presidência da autoridade monetária ir para um país do Norte, de forma a equilibrar o poder nas instituições europeias. Mario Draghi termina o mandato em outubro de 2019 e no mercado já se fazem apostas de quem será o seu sucessor. Na frente da corrida está Jens Weidmann, presidente do todo-poderoso Bundesbank, que no passado foi um crítico das medidas postas em prática pelo BCE para segurar a economia europeia.
Uma sondagem feita neste mês pela Reuters junto de 34 economistas que acompanham a atividade do BCE deu o alemão como o grande favorito. A grande distância, no segundo lugar, estava o governador do banco central francês, Villeroy de Galhau. Contrariamente a França e Itália, a Alemanha nunca teve um presidente do BCE. Apesar do favoritismo de Weidmann, uma fonte europeia disse à Reuters que "é um jogo de xadrez e ainda não conhecemos todos os jogadores. Depende da distribuição dos grandes cargos em 2019".
Além de um novo presidente do BCE, a União Europeia terá de escolher também no próximo ano presidentes para a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Parlamento Europeu.