Guerrilheiros Kachin atacaram uma esquadra da polícia no norte de Myanmar (antiga Birmânia) nesta quarta-feira. Dias antes, guerrilheiros Karen assumiram o controlo de um posto militar no leste do país e a junta militar respondeu bombardeando uma aldeia. Ao mesmo tempo, outras três guerrilhas étnicas ameaçaram rasgar o cessar-fogo que assinaram em 2015 se os militares não pararem a repressão contra os manifestantes que exigem nas ruas o fim do golpe. Com mais de 500 mortos na repressão dos protestos e a situação a ficar fora de controlo, EUA, Espanha ou Alemanha deram ordens aos seus cidadãos para partir..Por detrás do país que conquistou a independência do Reino Unido em 1948 esconde-se uma manta de retalhos de mais de uma centena de grupos étnicos que, no passado, se têm envolvido em confrontos em busca de maior autonomia ou maior controlo dos recursos naturais. O seu alvo é o exército, dominado pela maioria (68% da população) Bamar - também conhecidos como bramás ou simplesmente birmaneses. Estima-se que um terço do território seja controlado por 20 grupos armados, sendo que dez tinham assinado em 2015 um acordo de cessar-fogo com o governo, após avanços na transição democrática..Após o golpe de 1 de fevereiro, muitos destes grupos condenaram a destituição e a prisão da líder civil, Aung San Suu Kyi. Com o aumento da repressão às manifestações, muitos birmaneses fugiram para os territórios no sudeste, controlados pela União Nacional Karen - o mais velho grupo insurgente em Myanmar. No fim de semana, em resposta à captura de uma base militar por parte dos Karen, a junta respondeu com um ataque aéreo - o primeiro em duas décadas, levando muitos a cruzar a fronteira com a Tailândia. Os Karen serão 7% da população de Myanmar..Já na quarta-feira, o Exército Independente de Kachin, braço armado da Organização para a Independência de Kachin, atacou uma esquadra de polícia em Shwegu, apreendendo armas e outros materiais e ferindo um polícia. Apesar de ter havido um cessar-fogo entre os Kachin e a Junta entre 1994 e 2011, desde então tem havido vários confrontos e há registo de pelo menos 1677 mortes na região norte do país..Na terça-feira, outros três grupos - o Exército Arakan (AA), o Exército de Libertação Nacional de Ta"ang e o Exército da Aliança Democrática Nacional de Myanmar -, que formam a coligação militar da Aliança das Três Irmandades e até agora tinham ficado em silêncio em reação ao golpe, assinaram uma declaração conjunta. Nela avisaram que se o exército birmanês não parar com as ações violentas e não atender às demandas da população, eles irão colaborar com os dissidentes. Se as forças de segurança "continuarem a matar civis, vamos colaborar com os manifestantes e retaliar", indicaram..A repressão aos protestos contra o golpe de 1 de fevereiro já causou pelo menos 521 mortes. Com a escalada da violência, o governo alemão deu ontem indicações para os seus cidadãos deixarem Myanmar o mais rapidamente possível, tal como o governo espanhol. Na véspera, Washington tinha dado ordens aos seus diplomatas não essenciais para partirem..Myanmar: Alemanha pede aos seus cidadãos que saiam e empresa abandona território.O Conselho de Segurança das Nações Unidas manteve ontem ao final do dia uma reunião à porta fechada sobre a situação em Myanmar. Mas com Rússia e China a terem o poder de veto para qualquer ação, especialistas não esperam que saia nada de concreto da reunião. Pequim, que tem interesses económicos em Myanmar, vetou uma condenação ao golpe militar, no rescaldos dos eventos, e defende que sanções ou pressão internacional só pioram a situação..susana.f.salvador@dn.pt
Guerrilheiros Kachin atacaram uma esquadra da polícia no norte de Myanmar (antiga Birmânia) nesta quarta-feira. Dias antes, guerrilheiros Karen assumiram o controlo de um posto militar no leste do país e a junta militar respondeu bombardeando uma aldeia. Ao mesmo tempo, outras três guerrilhas étnicas ameaçaram rasgar o cessar-fogo que assinaram em 2015 se os militares não pararem a repressão contra os manifestantes que exigem nas ruas o fim do golpe. Com mais de 500 mortos na repressão dos protestos e a situação a ficar fora de controlo, EUA, Espanha ou Alemanha deram ordens aos seus cidadãos para partir..Por detrás do país que conquistou a independência do Reino Unido em 1948 esconde-se uma manta de retalhos de mais de uma centena de grupos étnicos que, no passado, se têm envolvido em confrontos em busca de maior autonomia ou maior controlo dos recursos naturais. O seu alvo é o exército, dominado pela maioria (68% da população) Bamar - também conhecidos como bramás ou simplesmente birmaneses. Estima-se que um terço do território seja controlado por 20 grupos armados, sendo que dez tinham assinado em 2015 um acordo de cessar-fogo com o governo, após avanços na transição democrática..Após o golpe de 1 de fevereiro, muitos destes grupos condenaram a destituição e a prisão da líder civil, Aung San Suu Kyi. Com o aumento da repressão às manifestações, muitos birmaneses fugiram para os territórios no sudeste, controlados pela União Nacional Karen - o mais velho grupo insurgente em Myanmar. No fim de semana, em resposta à captura de uma base militar por parte dos Karen, a junta respondeu com um ataque aéreo - o primeiro em duas décadas, levando muitos a cruzar a fronteira com a Tailândia. Os Karen serão 7% da população de Myanmar..Já na quarta-feira, o Exército Independente de Kachin, braço armado da Organização para a Independência de Kachin, atacou uma esquadra de polícia em Shwegu, apreendendo armas e outros materiais e ferindo um polícia. Apesar de ter havido um cessar-fogo entre os Kachin e a Junta entre 1994 e 2011, desde então tem havido vários confrontos e há registo de pelo menos 1677 mortes na região norte do país..Na terça-feira, outros três grupos - o Exército Arakan (AA), o Exército de Libertação Nacional de Ta"ang e o Exército da Aliança Democrática Nacional de Myanmar -, que formam a coligação militar da Aliança das Três Irmandades e até agora tinham ficado em silêncio em reação ao golpe, assinaram uma declaração conjunta. Nela avisaram que se o exército birmanês não parar com as ações violentas e não atender às demandas da população, eles irão colaborar com os dissidentes. Se as forças de segurança "continuarem a matar civis, vamos colaborar com os manifestantes e retaliar", indicaram..A repressão aos protestos contra o golpe de 1 de fevereiro já causou pelo menos 521 mortes. Com a escalada da violência, o governo alemão deu ontem indicações para os seus cidadãos deixarem Myanmar o mais rapidamente possível, tal como o governo espanhol. Na véspera, Washington tinha dado ordens aos seus diplomatas não essenciais para partirem..Myanmar: Alemanha pede aos seus cidadãos que saiam e empresa abandona território.O Conselho de Segurança das Nações Unidas manteve ontem ao final do dia uma reunião à porta fechada sobre a situação em Myanmar. Mas com Rússia e China a terem o poder de veto para qualquer ação, especialistas não esperam que saia nada de concreto da reunião. Pequim, que tem interesses económicos em Myanmar, vetou uma condenação ao golpe militar, no rescaldos dos eventos, e defende que sanções ou pressão internacional só pioram a situação..susana.f.salvador@dn.pt