Está ao rubro a guerra interna na maçonaria nacional. Fernando Lima Valada, chefe (grão-mestre) do Grande Oriente Lusitano, a mais antiga obediência maçónica em Portugal, fez emitir uma ordem que ameaça de expulsão os "irmãos" que se relacionarem com outra obediência, a Grande Loja Simbólica de Portugal (GLSP)..Numa "prancha" (diretiva interna) de 10 de outubro passado, o "chanceler" do GOL - que é o responsável pelas relações internacionais da obediência - determinou que corre risco de ser considerado "irregular" na organização (o equivalente a ser expulso) quem se relacionar com uma determinada obediência, a GLSP..A ordem - que traduz diretamente uma vontade do próprio grão-mestre - lembra que o GOL não reconhece a GLSP e recorda normas dos regulamentos internos, nomeadamente as que definem o que é um "maçom irregular": "os que sido iniciados ou recebidos em oficinas ou outras organizações não reconhecidas pelo Grande Oriente Lusitano" e "os que se corresponderem sobre assuntos maçónicos com maçons, oficinas ou corpos irregulares, ou assistirem aos seus trabalhos sem para isso estarem expressamente autorizados pelo Conselho das Ordens (o órgão de direção executiva do GOL)".."Ente vil, sem honra nem dignidade".Também recorda que, na sua iniciação, um "irmão" do GOL jura "abster-se" de "todos os grupos maçónicos irregulares", consentindo ao mesmo tempo que se faltar à sua palavra correrá o risco de ser "expulso de toda a sociedade de homens de bem", devendo estes vê-lo apenas como um "ente vil, sem honra nem dignidade"..Para este corte de relações com a GLSP, o autor da "prancha" argumenta que aquela obediência só está internacionalmente reconhecida por uma organização - a Ordem Internacional do Rito Antigo e Primitivo de Memphis-Misraim (OIRAPMM) - com quem o GOL tem um "tratado" que "está, de momento, suspenso"..Esse tratado está suspenso porque houve uma cisão na OIRAPMM, existindo agora "dois grupos distintos que reclamam o mesmo nome e legitimidade" - e, enquanto a situação não se esclarecer, mantém-se a suspensão.."Não faz sentido".Além do mais, a GLSP passou a certa altura a adotar o rito egípcio, "conforme patente do Grande Oriente de França". Ora "como o Grande Oriente Lusitano já tinha anteriormente a mesma patente não é possível haver reconhecimento da Grande Loja Simbólica de Portugal"..Por outro lado, o GOL "não reconhece automaticamente regularidade ou reconhecimento" à GLSP só pelo facto de ambas terem as mesmas organizações internacionais a reconhecê-las..Falando ao DN, um porta-voz do GLSP disse que a posição do GOL "não faz sentido", recordando até que a obediência nasceu dentro da sede do Grande Oriente Lusitano, o Palácio Maçónico do Bairro. "Temos há muito relações institucionais.".O mesmo interlocutor sublinhou a legitimidade da Grande Loja Simbólica de Portugal dizendo que pertence a várias organizações internacionais maçónicas a que o Grande Oriente Lusitano também pertence. Para a GLSP, o Grande Oriente Lusitano estará apenas a travar dissidências no seu seio..Direção do GOL na estrada.Entretanto, a menos de um ano das eleições gerais na organização (30 de junho de 2020), a direção executiva do GOL (Conselho das Ordens) lança um vasto programa de ação em que promete, nomeadamente, dar pelo menos duas voltas ao país..Está programada a realização de dois ciclos de reuniões descentralizadas do Conselho das Ordens nas regiões norte, Porto, centro, Lisboa, sul e Açores, bem como "visitas de trabalho" à Madeira, Cabo Verde e Macau..Em fevereiro haverá um congresso da obediência (não eletivo). Depois, em abril, será reeditado o evento "Maçonaria de Portas Abertas", celebrados os 200 anos da Revolução Liberal, lançado Prémio António Arnaut e promovidos encontros de associações de inspiração maçónica, entre diversos projetos..Membros do GOL enquadram estas iniciativas numa espécie de pré-campanha para as eleições de junho - mas, para já, o grão-mestre Fernando Lima Valada não diz se estará ou não disponível para mais um mandato (o quarto).