O emergente líder da direita extremista, João Martins, estará a negociar com o Partido Nacional Renovador (PNR) a sua integração nas listas para as eleições europeias. O DN sabe, junto a fontes que acompanham estes movimentos, que este terá sido um dos assuntos tratados entre Martins e o já anunciado cabeça-de-lista João Patrocínio, num "jantar-convívio" neste sábado, em Sintra, seguido de uma "sessão de esclarecimento" na qual João Martins foi orador..As autoridades, da Polícia Judiciária, da PSP e das secretas, têm notado, no último ano, um crescendo de atividade dos grupos de extrema-direita ligados aos chamados "grupos identitários" ou "fascistas do terceiro milénio", agora com um novo elemento: a aproximação de organizações mais recentes, como os Portugueses Primeiro e o Escudo Identitário, para criarem uma frente comum e entrar nas corridas eleitorais, com o PNR - o único registado como partido - a servir de "barriga de aluguer"..O DN tentou esclarecer com João Martins e o PNR os objetivos desta cooperação, bem como a possível integração de João Martins na lista do PNR às europeias - segundo as nossas fontes será o número três -, mas ainda não obteve resposta.."A extrema-direita nunca teve o hábito de cooperar entre si, mas agora tudo parece estar a mudar - pelo menos para parte dela. Partido Nacional Renovador, a Associação Portugueses Primeiro e o Escudo Identitário estão a colaborar, organizando eventos em conjunto. As relações pessoais, de camaradagem e de confiança estabelecidas ao longo dos últimos anos são a cola que os une e permite trabalhar sem sectarismos entre si", descreve o Observatório Antifascista, uma plataforma online que tem "como objetivo acompanhar os mais recentes desenvolvimentos no campo da extrema-direita tanto em Portugal como no resto do mundo"..Estes grupos - Portugueses Primeiro (P1) e Escudo Identitário - estão ligados a movimentos extremistas europeus, por exemplo, o Casa Pound, um partido italiano assumidamente neofascista. Conforme o DN noticiou, em julho passado, houve um encontro em Lisboa com estes grupos - designados academicamente por "fascistas do terceiro milénio" e já na ocasião um dos convidados foi João Pais do Amaral, do PNR..Também a 10 de junho, Dia de Portugal, do ano passado, o PNR convidou um dos ativistas do Portugueses Primeiro para intervir nas suas celebrações. "A Associação Cívica Portugueses Primeiro dedica-se essencialmente ao combate cultural, complementando, desta forma, o combate que o PNR trava no campo político", escreveu o partido na sua página online..Este ativista, que o PNR indica como porta-voz do P1, foi também orador de uma conferência do PNR, intitulada "Porque combatemos o islão", onde se sentou ao lado do líder do partido, José Pinto-Coelho..Do racismo declarado à aclamação da identidade nacional.João Martins, 44 anos, traz da sua juventude uma convivência com cabeças rapadas e uma condenação de 17 anos de cadeia (cumpriu metade da pena mais um ano, tendo saído por "bom comportamento") pelo homicídio de Alcindo Monteiro, em 1995, no Bairro Alto..Tido como o ideólogo destes grupos, principalmente o Portugueses Primeiro, o protagonismo de Martins tem sido notado pelas autoridades que o apontam como "líder emergente" da extrema-direita. Desde Mário Machado, o ex-líder dos skinheads, também condenado no caso do Bairro Alto, que não havia outra personagem com este perfil e capacidade de recrutamento..Casado, com dois filhos, tem insistido em que o passado ficou para trás e que já cumpriu a sua pena. Os seus dotes de orador e o seu conhecimento aprofundado da ideologia nacionalista podem ser trunfos para o PNR.."Se, no passado, estes grupos assumiam discursos declaradamente racistas e xenófobos, nos últimos tempos a narrativa é de aclamação da história e da identidade portuguesas. O resultado é que há muita gente, que antes refutava o seu discurso fascista, que se começou a aproximar. Mas na essência são a mesma coisa e não perderam os ideais racistas e xenófobos", sublinha uma fonte policial..O Observatório Antifascista assinala que "a P1 dedica-se sobretudo a atividades culturais, como conferências e ações de cariz social, lavando a imagem da extrema-direita. A associação pode ser encarada, na prática, como braço cultural do partido de extrema-direita. Desconhece-se se mais membros estarão formalmente ligados ao PNR, mas sabe-se que a associação, ainda que com poucos membros, é um dos polos de recrutamento para a extrema-direita"..(Atualizado a 6/3/2019 às 12.15 h com a fotografia de João Martins no jantar-convívio do PNR em Sintra)