"Isto é um problema e não é de agora. Temos poucos mestres, e os poucos que temos não são justamente recompensados." Pedro Mateus, representante do Sindicato dos Transportes Fluviais, Costeiros e da Marinha Mercante (STFCMM), fala ao DN a meio da greve de três dias dos mestres dos barcos que fazem a travessia do Tejo, propriedade da empresa Soflusa..Quando os mestres julgavam ter alcançado a reivindicação de maio passado - um prémio de chefia no valor de 60 euros - souberam que a folha salarial de julho viria sem esse valor. "Suspenderam o que tínhamos acordado e não nos deixaram alternativa que não seja voltar à luta. Sabemos que as pessoas saem prejudicadas, mas não há outra forma", afirma o representante dos mestres..Margarida Perdigão, secretária-geral da Soflusa, desmente, no entanto, que o acordo (assinado com o governo, os sindicatos do setor e a administração da empresa) tenha sido suspenso: "É do conhecimento dos sindicatos que as valorizações remuneratórias - como as de 31 de maio - só podem produzir efeitos se decorrerem de instrumento de regulamentação coletiva. E é isso precisamente que a administração da Soflusa está a procurar concretizar neste processo negocial em curso", afirmou em declarações à TSF..A mesma responsável sublinha que os mestres sabiam disso desde a primeira hora - que o valor só será efetivo quando constar do acordo de empresa, depois de concluído "o processo negocial em curso"..Mas ainda que as negociações cheguem a bom porto - o que pode acontecer já na reunião agendada para a próxima quinta-feira, entre todas as partes interessadas - o sindicato insiste numa quebra do acordo. "Então pessoas que estão no governo e na Soflusa não sabiam disso? Quem não sabe de leis não pode ir negociar estas coisas. É como andar num navio e não saber onde é que é a popa", afirma Pedro Guedes..Dos quadros da Soflusa fazem parte 20 mestres, mas apenas 17 estão no ativo. Três estão de baixa há já algum tempo. E mesmo com a entrada dos quatro em formação, não estará cumprido o número mínimo (24) que o STFCMM defende para assegurar a escala..O que afasta os candidatos a mestre?.Mas por que razão não há mestres nos barcos que asseguram o transporte de passageiros do Barreiro para Lisboa? Pedro Guedes acredita que a remuneração não é atrativa e que a responsabilidade é imensa, "quando comparada com a dos marinheiros e maquinistas, que recebem apenas menos 49 euros por mês"..Para se tornar mestre de tráfego local é preciso ser-se marinheiro. O curso (Mestre de Tráfego Local) é ministrado pelo Centro de Formação das Pescas e do Mar, tem a duração de 225 horas e está aberto a "inscritos marítimos com a categoria de marinheiro do tráfego local ou com a categoria de marinheiro de 1.ª classe, que após a obtenção dessa categoria tenham um ano de embarque; e que pretendam preparar-se para exame de avaliação da aptidão para mestre do tráfego local", refere o centro, nos requisitos anunciados no site..Desde meados de junho que os mestres começaram a recusar o trabalho extraordinário. Entretanto, no último sábado acabaram por entrar em greve a esse serviço excedentário, numa ação paralela à paralisação destes três dias (segunda, terça e quarta-feira desta semana). De acordo com o sindicato, essa greve irá prolongar-se até 31 de dezembro. Segundo a Soflusa, "a regularidade do serviço só pode ser assegurada com recurso à prestação de trabalho suplementar pelos mestres", pelo que são evidentes as perturbações nas ligações fluviais. A empresa ativou na sexta-feira à noite um plano de contingência, que prevê diversas carreiras extra entre o Cais de Sodré e o Seixal, às 00.15, 01.15 e 02.15. A ligação entre o terminal do Seixal e o terminal do Barreiro é feita posteriormente de táxi..Os 17 mestres que se encontram no ativo aderiram na totalidade à paralisação de três dias, que termina esta quarta-feira. Num comunicado emitido ontem, o sindicato afirma que "serão prejudicados 32 mil passageiros que utilizam diariamente a ligação fluvial".