"Grândola" à janela. Em Portugal, em Espanha e até no Brasil (com Chico Buarque)
O apelo foi da Associação 25 de Abril. Tendo decidido, por causa do covid-19, não realizar este ano o tradicional desfile do 25 de Abril na Avenida da Liberdade, a Associação pediu aos portugueses que pelas 15h00 cantassem à janela a "Grândola, Vila Morena", a canção de Zeca Afonso imortalizada como hino da revolução.
Nas redes sociais são às dezenas os "posts" que dão conta dessa celebração, um pouco por todo o país - mas porventura sem o fulgor que a Associação 25 de Abril esperaria.
Mas o que se percebe é que a celebração cruzou as fronteiras de Portugal. O hino da revolução foi também cantado à janela em cidades espanholas. Pontevedra (Galiza), por exemplo, como mostra este vídeo colocado no Twitter.
A celebração atravessou, inclusivamente, o Atlântico. O cantor Chico Buarque prometeu que iria também cantar a canção de Zeca Afonso à janela de sua casa, no Rio de Janeiro.
Numa mensagem vídeo partilhada no Facebook da sua editora, Chico Buarque contou que, se não fosse o covid-19, estaria agora em Portugal a receber o Prémio Camões (cuja atribuição o Presidente brasileiro Jair Messias Bolsonaro recusou assinar, aliás).
Não tendo sido possível a viagem, Chico Buarque prometeu que iria encher a sua janela de cravos vermelhos e cantar "alto e bom" a "Grândola, Vila Morena".
Numa referência à situação no Brasil, vivendo agora um tempo de grave crise política interna e onde o coronavírus já matou mais de 3700 pessoas, Chico Buarque pediu também aos portugueses que não se esqueçam dos "irmãos brasileiros, agora mais do que nunca necessitados de um cheirinho de alecrim", como na canção com que ele próprio homenageou em 1974 a Revolução de Abril, "Tanto Mar".
"Grândola, Vila Morena" foi composta por Zeca Afonso (1929-1987) em maio de 1964, depois de uma sua visita à Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, que ainda hoje existe.
Na madrugada de 25 de Abril de 1974, logo pelas 00H20, no programa "Limite" da insuspeita Rádio Renascença, o antigo jornalista do DN Carlos Albino colocou a canção a tocar. Foi a segunda senha do 25 de Abril (a seguir a "E depois do adeus", de Paulo de Carvalho, que tinha passado às 22h55 de dia 24 nos Emissores Associados de Lisboa) - aquela que determinaria que a sublevação do Movimento das Forças Armadas iria definitivamente avançar.