Graça Freitas: "Temos pena, mas os próximos tempos serão de grandes restrições [quanto a eventos]"

No dia com mais mortes por covid-19 desde o início da pandemia em Portugal, a diretora geral da Saúde, Graça Freitas, voltou a uma das expressões mais ouvidas na primeira vaga: "achatar a curva" e relembrou as medidas básicas de prevenção dos contágios.
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Repetindo várias vezes a ideia de que é preciso conter o crescimento de novos casos no país, de forma a "achatar a curva" e controlar a pandemia, Graça Freitas pediu paciência, espírito de sacrifício e um esforço adicional no cumprimento das regras e medidas restritivas, uma vez que, chamou a atenção, são "os nossos comportamentos que travam a onda epidémica".

Apelando não só à responsabilidade individual, mas à dos responsáveis por cada setor para que criem as condições para que as regras sejam cumpridas e as medidas respeitadas, a diretora geral da Saúde lembrou que faz exatamente hoje oito meses que o primeiro caso surgiu em Portugal.

"Todos estamos a aprender a cada dia que passa e estamos todos cansados, mas não podemos baixar a guarda, por mais cansados que estejamos, porque disso depende a nossa proteção e a dos outros", disse, explicando mais uma vez que o vírus não se transmite sozinho de depende de nós para se propagar.

"O vírus passa de pessoa para pessoa e, se nada for feito, novas curvas de infeção surgirão na população. Estamos numa fase ascendente e temos de recordar que é preciso achatar a curva, que só acontecerá quando tivermos menos novos casos, menos internamentos, menos óbitos e menos contactos a vigiar".

Para achatar a curva, que aliviará a pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde e permitirá ganhar fôlego até que uma vacina ou tratamentos eficazes existam, só existe uma estratégia: a prevenção.

Além das regras repetidas até à exaustão - manter o distanciamento físico, usar máscara, lavar e desinfetar as mãos frequentemente, respeitar a etiqueta respiratória, evitar o mais possível levar as mãos à cara, especialmente à boca e ao nariz, e arejar os espaços fechados -, Graça Freitas destacou a importância nesta fase de "reduzir o número de contactos entre as pessoas. Esta é a grande medida".

Nesse sentido, esclareceu o conceito de "bolha", basicamente constituída pelas pessoas com quem vivemos. Outros familiares, amigos e colegas de trabalho e de escola não fazem parte da bolha e em relação a estes devem observar-se as medidas de distanciamento e prevenção que aplicaríamos com um estranho.

"Somos todos agentes de saúde pública", realçou após elencar as grandes linhas gerais de combate à pandemia em Portugal por parte da DGS: prevenir, testar, acompanhar os doentes, rastrear, isolar e humanizar a ação das autoridades de saúde.

Já em resposta às perguntas dos jornalistas, Graça Freitas esclareceu que muito brevemente serão diariamente divulgados os dados relativos à taxa de incidência a 14 dias por concelho, o que permitirá às populações perceber o crescimento da pandemia na sua região.

Também a razão por que os mercados e feiras de levante, ao ar livre, são encerrados enquanto os centro comerciais, espaços fechados, se mantém abertos, que está a causar alguma polémica, foi explicada pela responsável da saúde: prende-se com a maior capacidade por parte destes últimos em controlar o cumprimento das medidas e regras sanitárias.

Sobre as equipas em espelho nos locais de trabalho, Graça Freitas, realçou a importância da medida, quando existem condições para a implementar, mas chamou também a atenção para a importância de as pessoas manterem os cuidados e as regras, por exemplo, nas pausas para almoço e para café, quando o uso da máscara não é possível. "São momentos em que ainda é mais importante não baixar a guarda".

Quanto à necessidade que agravar as medidas nas escolas ou passar mesmo para o ensino à distância, Graça Freitas afastou esse cenário e garantiu que os estabelecimentos escolares, sobretudo do ensino básico e pré-escolar é onde a transmissão está mais controlada. As medidas nas escolas têm produzido bons resultados e são as necessárias e adequadas, havendo apenas a melhorar a comunicação entre as autoridades escolares e autoridades de saúde, esclareceu.

Sobre a idade dos internados em unidades de cuidados intensivos, Graça Freitas afirmou que têm na sua maioria entre 50 e mais de 80 anos, embora existam casos de pessoas mais novas com doença grave a necessitar de internamento em UCI.

Sobre quando será atingido o pico desta segunda onda, Graça Freitas disse ser impossível de prever, dada a falta de histórico desta doença, que é nova. "Esperemos que se atinja rapidamente, mas temos que ter a noção de que estamos a correr uma maratona sem fim e que não sabemos quando vai acabar. Vamos ter mais ondas, mais curvas, mais picos. Isto acaba por ser uma cordilheira".

Para tentar evitar que o seja, a diretora geral de saúde, aproveitou uma pergunta sobre uma prova Todo-o-Terreno, em Portalegre, agendada para 7 de novembro, para voltar a frisar que "a nossa responsabilidade nos próximos tempos é achatar a curva, é conseguirmos enfrentar os meses mais frios com menor circulação de vírus, menor número de internados, doentes, internados em cuidados intensivos e óbitos, portanto, temos pena, porque há eventos que merecem todo o apoio, mas estamos num período excecional que exige medidas excecionais. As próximas semanas serão semanas de grandes restrições [nomeadamente nos eventos com público] para conseguirmos achatar a curva", explicou

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