Governo investiga espancamento de dez formandos da GNR

Alguns perderam os sentidos, outros terão ficado até com lesões irreversíveis. O caso já chegou ao Ministério da Administração Interna, que pediu a abertura de um inquérito para averiguar responsabilidades e Comando da GNR já confirmou as agressões.
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Graves lesões e traumatismos que acabaram na hospitalização de dez guardas provisórios da GNR. Tudo terá acontecido durante um "curso de bastão extensível" - uma arma considerada possivelmente letal -, no início de outubro, no Centro de Formação da GNR, em Portalegre. Alegadas vítimas dizem ter sido espancadas e humilhadas por um formador, tendo alguns perdido os sentidos e ficado em risco de perder a visão devido a mazelas oculares. A notícia foi avançada pelo Jornal de Notícias.A GNR confirmou a ocorrência, mas a Associação de Sargentos prefere afastar a possibilidade de agressões. O Ministério da Administração Interna já terá pedido a abertura de um inquérito.

"Red Man" - "homem vermelho" -, assim apelidam o agressor e formador da GNR. Este ter-se-á apresentado com luvas de boxe, chumaços, caneleiras e capacete protetor, para lutar com os recrutas, que se encontravam sem proteção, vestidos à civil e apenas com um bastão de plástico revestido a esponja ou borracha na mão. Fonte anónima disse ao Jornal de Notícias que os lesados terão dado entrada nas urgências "com narizes partidos, fraturas nos dedos das mãos e, no caso de um deles, lesões oculares". Pontapés na cara e socos do nariz foram algumas das principais queixas dos guardas agredidos, que terão seguido para internamento ou mesmo intervenções cirúrgicas no Hospital de São José, em Lisboa.

De acordo com a mesma fonte, os recrutas não se terão dirigido à enfermaria inicialmente devido ao "medo de represálias"."No caso dos guardas provisórios do sexo feminino, houve casos de socos na cabeça, mulheres empurradas e com os peitos pisados. Muitas delas tinham medo de ir à enfermaria com receio de chumbar o curso", conta, acrescentando ser "a primeira vez que situações desta natureza estão a ocorrer".

Em declarações ao Jornal de Notícias, o Comando Geral da GNR, que confirmou as agressões, já garantiu ter aberto "um processo de averiguações para se apurarem as circunstâncias do sucedido". "Confirmamos a ocorrência e que foi determinado um processo de averiguações, que não está concluído", afirmou à agência Lusa o porta-voz do Comando Nacional da GNR, Helder Barros.

O presidente da Associação Nacional de Sargentos da Guarda, José Lopes, afasta cenário de agressões na formação da GNR em Portalegre, mas considera que, a confirmar-se, "é grave" e exige apuramento de responsabilidades. "Não quero acreditar que tenha havido agressões, porque haveria dolo, e tornaria o caso ainda mais grave porque há lesões com gravidade", disse José Lopes à agência Lusa. O dirigente associativo explicou ser "normal" algumas lesões nestes exercícios, "mas não deste tipo".

José Lopes critica ainda o "desinvestimento na formação, a nível estrutural" na GNR. "Aqueles que dão formação têm menos experiência de vida e profissional. Têm dois ou três anos de experiência e, além de formadores, são responsáveis por unidades curriculares. Têm muita responsabilidade", acrescentou.

A verdade é que o episódio pode mesmo trazer marcas para a vida. As dez vítimas correm agora o risco de deixar por concluir o curso de formação e até de nem sequer exercer a profissão.

Face ao exposto, o Ministério da Administração Interna já terá dado ordem para que a Inspeção Geral da Administração Interna abra um inquérito sobre o alegado espancamento, para "apuramento dos factos e determinação de responsabilidade". Acontecimentos que o governo considera que "não são toleráveis numa força de segurança num Estado de Direito democrático".

O ministério acrescenta ainda que o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, já terá dado seguimento a um pedido de "esclarecimentos ao Comando Geral da GNR sobre os factos descritos na notícia".

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