Governo espanhol recebeu alerta a 7 de março sobre aumento de infeções. Não cancelou eventos
Nos dias 7 e 8 de março, o Departamento de Segurança Nacional (DSN), em Espanha, avisou o Governo de Pedro Sánchez, os vice-presidentes e os 11 principais ministros sobre o aumento de infeções e mortes relacionadas com o novo coronavírus que se registavam nas "últimas horas".
O jornal El Mundo teve acesso ao conteúdo dos relatórios confidenciais e revela que apesar dos vários alertas, não foram cancelados eventos como a manifestação para a igualdade - a 8 de março - ou o congresso do Voz e o jogo Atlético de Madrid-Sevilla, que aconteceram nesse fim de semana na capital, mesmo quando Madrid estava no pico das preocupações do Departamento de Segurança Nacional.
O primeiro alerta incidiu sobre o aumento da letalidade da epidemia e o segundo apontou o crescimento acelerado da famosa curva de contágio: "O aumento dos casos nas últimas horas tem sido maior do que o normal."
Das seis anotações que o DSN fez naquele fim de semana sobre a covid-19, quatro foram comunicadas no sábado 7 de março. Foram recebidos por membros do Governo às oito da manhã, segundo fontes consultadas pelo jornal.
"Não está descartado que o número de mortos suba nas próximas horas", dizia o primeiro alerta. O segundo já alertava para o crescimento acelerado da famosa curva de contágio: "O aumento dos casos nas últimas horas tem sido maior do que o normal."
Segundo um estudo da Fundação de Estudos de Economia Aplicada (Fedea), citado pelo El Mundo, se o Governo de Espanha tivesse declarado o estado de alarme naquele dia 7 de março, 62% das infeções teriam sido evitadas.
O quarto alerta da Segurança Nacional já previa a escassez de material para os profissionais de saúde.
O Ministério da Saúde vetou a venda de máscaras para as comunidades autónomas, por distribuidoras nacionais, no dia 2 de março, mas só no dia 25 procedeu a uma aquisição de material.
No domingo, 8 de março, também às 08.00, duas outras frases aparecem nos telemóveis dos ministros, vice-presidentes e de Sánchez.
"Madrid continua a ser a comunidade autónoma com o maior número de casos e já há mortes", alertava a Segurança Nacional.
Os relatórios confidenciais de 7 e 8 de março são os dois mais contundentes das dezenas que alertaram sobre a ameaça do vírus. O El Mundo noticiou na segunda-feira que o Governo de Pedro Sánchez recebeu informações deste tipo pelo menos 11 vezes, de 27 de janeiro a 14 de março: nos dias 27 e 31 de janeiro; 7, 13, 17, 20, 23 e 29 de fevereiro; e 5, 6 e 7 de março.
Um dos alertas mais graves é o do dia 29 de fevereiro: o risco de propagação do novo coronavírus em todo o mundo é elevado a "muito alto".
Três dias antes, a Agência Europeia de Controle de Doenças (ECDC) recomendou que se evitasse a presença em "eventos de massas" devido ao risco de contágio.
Entretanto, o El País revela hoje que mais de 5,2 milhões de espanhóis - 4,7 em Madrid e nove em outras cidades da comunidade - enfrentam restrições à mobilidade nos seus municípios, onde só podem sair para trabalhar, ir à escola ou por motivos de força maior.
Os últimos a juntarem-se a estas limitações foram nesta segunda-feira Leão, Palência e San Andrés del Rabanedo, em Castela e Leão, e La Almunia de Doña Godina, em Aragão.
Mas os especialistas alertam que, embora seja necessária, esta medida será insuficiente se não for acompanhada de limitações sociais dentro do território confinado.
A opinião é de que se não se quiser chegar ao confinamento extremo para baixar a curva, como aconteceu em março, o país terá de se habituar a estes confinamentos específicos para manter a curva epidémica sob controlo.