O governo conservador da Austrália anunciou planos para duplicar as propinas universitárias dos estudantes de humanidades, numa tentativa de empurrar as pessoas para cursos tidos como mais úteis e "relevantes para o emprego", como matemática e ciências..De acordo com a proposta - que os críticos consideram um "ataque ideológico" - o custo de diplomas como história ou estudos culturais subirá até 113%, para cerca de 29 mil dólares australianos (17 700 euros), enquanto outros cursos, como enfermagem ou tecnologias da informação (TI), ficarão mais baratos..O ministro da Educação, Dan Tehan, licenciado em artes e com dois mestrados em relações internacionais, disse que o governo queria encaminhar os jovens para "empregos do futuro", para impulsionar a recuperação económica do país após a pandemia do coronavírus.."Se queres fazer filosofia, o que será ótimo para o teu pensamento crítico, pensa também em fazer TI", disse Tehan..O plano ajudará a pagar mais 39 mil lugares universitários até 2023 bem como a reduzir os custos de cursos como ciências, agricultura, matemática e línguas..Mas os críticos dizem que este plano é "inconsciente" e que faz parte de uma "guerra cultural" mais vasta, que coloca a utilidade económica acima da aprendizagem.."Sou licenciada em artes e o ministro da Educação também, por isso não tenho a certeza de que se possa tirar a conclusão de que somos completamente inúteis", disse a deputada da oposição Tanya Plibersek. "As pessoas não são burras, não querem endividar-se milhares de dólares sem a perspetiva de um emprego"..Os estudantes universitários australianos não têm de pagar adiantado pelos seus estudos. A maioria utiliza empréstimos do Estado para aceder a cursos e depois é tributada a uma taxa mais elevada para pagar a sua dívida..A presidente da Academia Australiana de Humanidades, Joy Damousi, disse ser insondável a razão para atingir está área. "Há uma clara desconexão no pensamento do governo em torno da questão das qualificações e do emprego", disse Damousi, indicando que os empregadores querem licenciados que possam pensar de forma crítica..A Associação Nacional dos Estudantes disse que o plano deu aos estudantes uma "sentença de dívida". "Os futuros estudantes não merecem suportar o peso da agressão ideológica deste governo contra o ensino superior", declarou..O anúncio é o último abanão para um setor que sofre as consequências do coronavírus..A educação é a terceira maior exportação da Austrália - atrás apenas do minério de ferro e do carvão -, com mais de 500 mil estudantes internacionais matriculados no ano passado, levando para a economia cerca de 22 mil milhões de dólares..O encerramento das fronteiras bloqueou cerca de 20% dos estudantes internacionais deste ano, afirmou Tehan.