Gerwig, Moss e Kidman vão brilhar
Na temporada dos prémios mais renhida de sempre não há propriamente favoritos. Nos últimos dias, ao olhar para a imprensa especializada americana poderemos mesmo concluir que há uma grande divisão. Uma divisão enorme entre A Forma da Água, de Guilhermo Del Toro, Três Cartazes à Beira da Estrada, de Martin McDonagh; Lady Bird, de Greta Gerwig e The Post, de Steven Spielberg.
Por outro lado sabemos que a estrutura da Hollywood Foreign Press Associaton (HFPA) dá sinais de envelhecimento e correm boatos que os membros são muito influenciados com as entrevistas e encontros com os nomeados (supostamente Gary Oldman, que odeia esses jornalistas, foi muito charmoso quando fez a promoção de A Hora Mais Negra, embora tenha protestado pelo facto de estar sem companhia de outros nomeados).
No ano em que as piadas e os discursos vão ter de tocar na ferida dos efeitos de choque dos casos dos escândalos de assédios sexuais em Hollywood, sabe-se que vão ser muitas estrelas a vestirem-se de negro, elas e eles. Trata-se de uma ação de solidariedade e de homenagem às vítimas que não tiveram medo de denunciar os abusos de que foram alvo. As apresentadoras de prémios Angelina Jolie, Penélope Cruz e Isabelle Hupert deverão querer marcar uma posição. Espera-se por isso que o habitual tom de galhofa possa baixar um pouco.
Na categoria de melhor filme Comédia/Musical não deixa de ser estranho a inclusão de Lady Bird, de Greta Gerwig, que é realmente um drama. E deverá ser mesmo esse o grande vencedor. Desde o Festival de Toronto que a obra de estreia na realização da atriz de Frances Ha ganhou um "hype" imparável. Se estivesse na categoria dramática não seria tão favorita. Aí, as apostas mais seguras devem ser em Chama-me pelo Teu Nome, de Luca Guadagnino, Três Cartazes à Beira da Estrada, The Post e A Forma da Água, embora este último esteja agora com mais força.
Nas atrizes, na secção Comédia/Musical, tudo indica que Saoirse Ronan seja a vencedora, embora quem tenha a grande interpretação seja a australiana Margot Robbie, em Eu, Tonya, enquanto que nos Globos "sérios" seja muito complicado prever se os membros da HFPA vão para a britânica Sally Hawkins ou preferem consagrar a tremenda força interior de Frances McDorman. Nas secundárias tudo também está dividido entre Allison Janney e Laurie Metcalf, sem esquecer Mary J. Blidge (que também está nomeada na melhor canção).
Quanto a eles, Gary Oldman deve mesmo arrecadar o Globo (só se houver surpresa é que Timothée Chalamet, a revelação de Chama-me pelo Teu Nome, pode provocar um golpe de teatro...) e na Comédia/Musical, James Franco (há quem veja a hipótese de Daniel Kaluuya, mas mais para premiar o "cavalo negro" do ano, Foge). Certo, completamente garantido, estará o prémio de ator secundário para Willem Dafoe, sublime em The Florida Project, ainda que nos últimos dias Christopher Plummer, em Todo o Dinheiro do Mundo, esteja a ter algum falatório...
A maior incógnita da noite provavelmente está na categoria de melhor realizador. Sem P.T. Anderson nomeado em Linha Fantasma, Steven Spielberg e Guillhermo Del Toro estão a competir muito juntinhos para o Globo. Del Toro fez uma fantasia que todos amam e Spielberg, se ganhar, servirá como um gesto político para celebrar o poder da imprensa...E estes são prémios dados por jornalistas (ok...e por alguns experts de fofoquice de celebridades...). Interessante será perceber se as concessões às vedetas vão chegar à categoria de melhor filme em língua não inglesa e Primeiro Mataram o Meu Pai, de Angelina Jolie, é uma possibilidade. O filme de Jolie é muito recomendável mas está a milhas de O Quadrado, de Ruben Ostlund.
Relativamente à categoria de animação, também aí não encontramos um favorito declarado. Coco, da Pixar, é o melhor filme, mas A Paixão de Van Gogh pode contar muito...
Momento emocional da noite poderá ser o discurso feminista de Oprah Winfrey, que vai receber o Cecil B. deMille Award, o habitual prémio de carreira. Oprah certamente vai discursar em nome de todo este novo movimento feminino de Hollywood que luta por igualdade de salários e de respeito perante as mulheres. Um prémio que é também uma forma da HFPA consagrar uma figura televisiva, já que nos outros anos este prémio tenha ido sobretudo para figuras do cinema. Por coincidência ou não, este é o ano em que a apresentadora regressa ao cinema na fantasia da Disney, Uma Viagem no Tempo.
Na TV vamos ter Nicole Kidman
Como se sabe, o gosto televisivo dos membros da HFPA não tem nada a ver com os da Academia televisiva. As séries que aqui triunfam nem sempre ganham nos Emmys (exemplos recentes: Mozart in The Jungle e The Affair). Nesse sentido, a dose de imprevisibilidade aqui é ponto assente.
A série da Hulu, The Handmaid"s Tale tem tudo para ganhar a larga escala, apesar de The Crown, jóia da Netflix, tenha também uma palavra a dizer.
Nas séries de duração limitada, talvez seja boa ideia metermos as fichas em Big Little Lies, a tal série com Nicole Kidman e Reese Whiterspoon. Fala-se que nessa categoria Nicole possa vir ser a vencedora. Nos atores, também uma estrela de cinema deve levar para casa o Globo: ou Ewan McGregor em Fargo ou Jude Law em O Jovem Papa. Talvez por tudo isso, esta possa ser uma cerimónia com um inimaginável número de super-estrelas, podendo mesmo superar os Óscares do próximo mês de março.