Na véspera de lançar o seu programa eleitoral e a pouco mais de um mês de eleições legislativas, a líder do CDS lançou o desafio. Seria "desejável" e "perfeitamente possível" que os partidos do centro-direita, à exceção do Chega!, de André Ventura, se sentem à mesa a conversar para que nasça uma "geringonça à direita".."Eu sempre disse que, para termos 116 deputados de maioria, faria sentido, depois das eleições, ter uma coligação com aqueles que elegerem. Devo dizer que desses todos, parece-me que há um que está a mais, que é o Basta [coligação que integrou o Chega! às eleições europeias], mas com os outros todos acho que é perfeitamente possível conversarmos, e desejável", afirmou Assunção Cristas, em resposta a um espectador da TVI24, onde foi entrevistada na terça-feira à noite..A líder centrista incluía neste lote dos entendimentos PSD, a Aliança e a Iniciativa Liberal. Admitiu, no entanto, que "Não sei se vão eleger, se não vão eleger, eu espero que o CDS eleja e que eleja muito para poder ter um peso e uma contribuição forte nessa maioria de 116 deputados. Mas, sim, aquilo que existe agora à esquerda, um dia, agora, em 2019, pode acontecer no espaço político do centro-direita.".Rui Rio foi lesto a responder. Admitiu a coligação à direita mas só após as eleições e pôs a condição que faz sentido para o PSD como maior partido do centro-direita: liderar a coligação..Ao remeter a possibilidade de entendimento para o pós-6 de outubro, o líder do PSD quis demarcar-se do que aconteceu à esquerda em 2015, quando se percebeu que o secretário-geral socialista António Costa tinha andado a conversar com Jerónimo de Sousa, líder do PCP, e com Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, para ter apoio para um governo minoritário do PS, caso a esquerda conseguisse maior número de votos do que o PSD e o CDS.."Ninguém disse que não fazia isso [uma coligação com o CDS depois das eleições]. Haverá um resultado eleitoral e depois logo se vê. Mas seguramente, à direita, se liderada por mim, nunca haverá uma geringonça montada à pressa e de qualquer maneira só para se conseguir o poder, terá uma uniformidade fundamental que com o CDS sempre existiu", admitiu Rui Rio. O líder social-democrata nunca mencionou as outras duas forças à direita que são mais recentes, o Aliança, de Pedro Santana Lopes, e a Iniciativa Liberal, presidida por Carlos Guimarães Pinto..Rio manteve, aliás, a ideia de que o PSD continua a ser a única alternativa ao governo. E um entendimento com o CDS nunca seria uma geringonça porque essa pressupõe uma "coisa mal-amanhada que se vai ver se consegue funcionar mais ou menos"..Pedro Santana Lopes, que foi o primeiro mentor da ideia de sentar à mesa os partidos de centro-direita, parece já não acreditar na ideia. Do Aliança, Margarida Neto afirma ao DN que "já foi chão que deu uvas e neste caso uvas nenhumas". Considerou essa hipótese "um assunto do passado"..Em janeiro deste ano, o líder do Aliança insistia na ideia de uma convergência à direita. E apesar de ter saído do PSD, Santana colocava o seu novo partido próximo dos sociais-democratas e do CDS. Em julho, renovou o apelo e mostrou-se convicto de que só se o centro-direita se reunisse à mesa é que poderia travar o "avanço eleitoral" da esquerda..Numa nota publicada na página oficial do Aliança na rede social Facebook, Pedro Santana Lopes considerava "essencial que os líderes dos partidos de centro-direita se reúnam e conversem para avaliarem o que devem fazer para impedir o domínio ou influência da esquerda, nomeadamente a mais radical"..Num texto intitulado "imperativo patriótico", defendia também que "está em causa combater e derrotar a ditadura moral da extrema-esquerda, evitar o esbulho fiscal e pôr a funcionar os serviços públicos". Mas admitiu posteriormente que o PSD e o CDS não lhe deram resposta e que o desafio lançado anteriormente também tinha tido o mesmo destino..Da Iniciativa Liberal vem a disponibilidade para conversar, ainda que com muitos "mas". "O país está estagnado há 20 anos, ao ser governado por forças políticas com pouco ímpeto liberal e reformista", afirma ao DN Carlos Guimarães Pinto, presidente do partido. Aceita conversar com as outras forças "se houver mudança de rumo no sentido mais liberal nas propostas políticas", o que não vê acontecer nos outros partidos de centro-direita..Carlos Guimarães Pinto lança mesmo uma farpa a Assunção Cristas. "O CDS é reconhecidamente uma força que esteve no governo e que foi travão a algumas reformas." Lança outra em direção ao líder do PSD: "Rui Rio é o primeiro a dizer que o PS copiou algumas das suas propostas. Está a revelar que não traz muito de novo." E remata, "se for conversar para mais do mesmo, então mais vale sermos uma oposição liberal e aguerrida como temos sido"..O histórico eleitoral comparado não é linear sobre os efeitos no PSD ou no CDS do crescimento de cada um dos dois partidos (ver quadro no fim)..A regra é que não há regra nenhuma: em certas alturas - nas maiorias de Cavaco Silva de 1987 e 1991, por exemplo - foi notório que um crescimento muito forte do PSD conduziu o CDS até à quase inexistência (o chamado "partido do táxi")..E também aconteceu o contrário: quando o PSD perdia força o CDS crescia (nas legislativas de 1995)..E ainda a terceira opção: os dois partidos a crescerem ao mesmo tempo (nas legislativas de 2009 e 2011) ou os dois partidos a "encolherem" ao mesmo tempo (legislativas de 1999 e de 2005)..Para já, todas as sondagens dizem que é isto que ambas as formações arriscam no próximo dia 6 de outubro: perderem ambas força.