Genocídio? Trudeau junta-se a Biden, ao contrário de Macron e Scholz
Os líderes francês e alemão recusaram-se esta quarta-feira (13) a repetir a acusação do presidente dos EUA, Joe Biden, de que a Rússia está a cometer um "genocídio" contra os ucranianos, alertando que as escaladas verbais não ajudariam a acabar com a guerra. Já o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, não hesitou em juntar-se ao vizinho do sul e considerou "certo" descrever os ataques da Rússia na Ucrânia como "genocídio".
Na terça-feira, Biden acusou as tropas de Vladimir Putin de estarem a cometer genocídio na Ucrânia e disse que "tornou-se cada vez mais claro que Putin está apenas a tentar acabar com a ideia de se poder ser ucraniano".
"Acho absolutamente certo que mais e mais pessoas estejam a falar e usar a palavra genocídio para catalogar o que a Rússia está a fazer, o que Vladimir Putin está a fazer", disse o canadiano Trudeau, perante repórteres, na província do Quebec.
Em França, no entanto, numa entrevista à televisão France 2 em plena campanha eleitoral para a reeleição no Eliseu, contra a líder de extrema-direita Marine Le Pen, o presidente francês Emmanuel Macron foi mais defensivo e disse que os líderes devem ter cuidado com a linguagem.
"Eu diria que a Rússia desencadeou unilateralmente a guerra mais brutal, que agora está estabelecido que crimes de guerra foram cometidos pelo exército russo e que agora é necessário encontrar os responsáveis e fazê-los enfrentar a justiça", disse Macron.
"Mas, ao mesmo tempo, olho para os factos e quero continuar a tentar o máximo possível parar esta guerra e reconstruir a paz. Não tenho certeza de que as escaladas verbais sirvam essa causa", disse.
Para Macron, é melhor ser "cuidadoso" com a terminologia sobre genocídio nestas situações, especialmente porque "os ucranianos e os russos são povos irmãos".
Os comentários de Macron, que tem mantido o diálogo com Putin durante o conflito, ecoam as preocupações que o líder francês já expressou no mês passado depois de Biden ter chamado Putin de "carniceiro".
Na entrevista à France 2, Macron indicou que realizará novas conversas telefónicas com Putin e Zelensky nos próximos dias.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky denunciou a recusa de Macron em classificar os assassinatos na Ucrânia como "genocídio", bem como a sua referência aos russos como um povo "irmão" dos ucranianos.
"Essas coisas são muito dolorosas para nós, então definitivamente farei o meu melhor para esclarecer essa questão com ele [Macron]", disse Zelensky, em conferência de imprensa com os líderes da Polónia e dos países bálticos que viajaram para Kiev.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolenko, também questionou a afirmação do líder francês de que ucranianos e russos são "povos fraternos", dizendo que esse "mito começou a desmoronar em 2014", quando a Rússia anexou a Crimeia. "Já não há razão moral ou real para falar de laços fraternos", disse.
O chanceler alemão Olaf Scholz também falou de crimes de guerra na Ucrânia, mas evitou mencionar a palavra genocídio. "Esta é uma guerra terrível na Europa Oriental. E acho que é isso que não deve ser minimizado", disse Scholz à rádio alemã RBB. "Crimes de guerra estão a ser cometidos", acrescentou.
O chanceler alemão também esclareceu que não pretendia viajar para a Ucrânia num futuro próximo, embora estivesse em contacto regular com Zelensky. Scholz visitou o país no final de fevereiro, antes da invasão russa.