Gays preferem confidenciar orientação sexual às mães
Esta é uma das conclusões do relatório "LGBT - Identidades e Discriminação" feito com base nas respostas de 443 gays, 260 lésbicas, 179 mulheres bissexuais, 75 homens bissexuais e 15 "queer" ou pansexuais. No total, responderam 972 pessoas. Segundo os inquiridos, ainda existe discriminação em Portugal e, por isso, no momento de assumir a sua orientação sexual, a comunidade LGBT escolhe os amigos para o fazer, mesmo quando os "confidentes" são heterossexuais.
As mães e colegas de trabalho também permitem "discutir de forma aberta a orientação sexual, podendo funcionar como redes de apoio", revelam os investigadores, que concluíram que "o mesmo não acontece com o progenitor". É que a figura do pai ainda é imaginada como alguém que tem menos abertura, conclui a equipa composta por João Manuel de Oliveira, Miguel Pereira, Carlos Gonçalves Costa e Conceição Nogueira.
Também não é fácil falar sobre o assunto com as chefias profissionais e a família alargada. Um receio que poderá estar relacionado com a necessidade que estas pessoas têm de se proteger do estigma que existe em torno das sexualidades não heterossexuais. Para os investigadores, esta situação "indica a expectativa de preconceitos e de comportamentos discriminatórios".
Através das entrevistas foi também possível detectar que o local de residência faz a diferença: no sul do país e áreas metropolitanas de Lisboa e Porto fala-se mais abertamente sobre orientações sexuais e identidades de género, enquanto nas ilhas ainda existe "muita discriminação". Em termos gerais, os homossexuais têm menos problemas em falar sobre a sua orientação sexual do que as pessoas bissexuais, mas sentem-se mais estigmatizados.
Numa comparação entre homens e mulheres, eles sentem-se mais "insatisfeitos" com a sua identidade e "mais sensíveis à estigmatização" do que elas. Entre as várias explicações para o fenómeno, o estudo lembra que os homens são educados para serem dominantes e as mulheres estão "mais habituadas a uma condição coletiva estigmatizante".
Outra das denúncias do estudo prende-se com o facto de os inquiridos terem admitido já terem sido "insultados três ou mais vezes em função da sua orientação sexual da identidade". Para os especialistas, "este dado ilustra o modo como, em Portugal, o insulto é usado como forma de estigmatização destes grupos e assume um carácter surpreendentemente banalizado e frequente".
A elevada frequência de insultos "deve ser encarada como uma situação grave, expressão de homofobia/transfobia, pois implica a construção de identidades negativizadas", lê-se no relatório agora publicado no "Estudo sobre a discriminação em função da orientação sexual e da identidade de género", promovido pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. LGBT é o acrónimo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.