Ficou para a história (entre outros aspetos), na campanha eleitoral de 2016, a forma como a equipa de Hillary Clinton deu por garantida a vitória em certos estados, em especial no chamado cinturão de ferrugem, no centro-oeste e nordeste, não tendo visitado esses locais fulcrais, ou realizado ações demasiado tarde. Perdeu o Michigan, Wisconsin (democrata desde 1984) ou a Pensilvânia para um adversário que prometeu acabar com a decadência industrial..Se a campanha democrata ainda não tiver acordado para a importância de jogar em todos os estados, uma ferramenta disponibilizada pelo The Washington Post mostra como a combinação da manutenção dos chamados estados seguros com algumas conquistas serão fulcrais para a vitória de Joe Biden e Kamala Harris no dia 3 de novembro..Num ano dominado pela violência policial com motivações racistas a questão do racismo sistémico pode revelar-se decisiva, mas curiosamente poderá ser o voto dos eleitores brancos a levar o ex-vice-presidente à vitória no colégio eleitoral..E de nada serve por si só o voto popular, recorde-se. Hillary Clinton recebeu a preferência de quase três milhões de eleitores a mais do que Donald Trump (ou 2,1%), mas apenas 227 dos 538 votos do colégio eleitoral oriundos de cada estado e do Distrito de Columbia, tendo em conta a distribuição demográfica e os resultados das eleições. A título de curiosidade, o ex-secretário de Estado Colin Powell, que não concorreu às eleições de 2016, recebeu três votos..Trump foi o preferido entre os eleitores brancos em 2016. Daí que se Joe Biden captar apenas um ponto percentual dos eleitores brancos que Trump obteve em 2016, inverteria os resultados em quatro estados (Wyoming, Michigan, Pensilvânia e Florida) e ganharia as eleições..Noutro cenário, se a participação eleitoral do eleitorado branco subir dos 65% de 2016 para 70% e se a dos restantes grupos se mantiver, mesmo que Biden capte alguns votos junto dos caucasianos isso não será suficiente para vencer na Florida e na Pensilvânia, o que daria 280 votos e a vitória para o atual presidente..A importância do que um presidente diz.Foi no Wyoming que Joe Biden esteve na quinta-feira. Primeiro esteve em Milwaukee, reunido com a família de Jacob Blake, e depois seguiu para a terra onde aquele afro-americano foi baleado pela polícia, Kenosha..Apesar de o presidente da câmara ter pedido para que não o fizesse, Trump viajou até àquela localidade na terça-feira e realçou a importância do restabelecimento da lei e da ordem, tendo visitado os estabelecimentos comerciais atacados pela fúria dos manifestantes..A iniciativa de Biden foi oposta no sentido e no conteúdo. Durante a reunião realizada numa igreja, o democrata de 78 anos retratou a retórica de Trump como responsável pelas divisões e a sua presidência dando o beneplácito para o racismo violento.."As palavras de um presidente são importantes", disse Biden, num dia em que Trump apelou aos eleitores da Carolina do Norte para cometerem uma ilegalidade, votarem por correio e presencialmente.."Quando alguém com autoridade respira oxigénio debaixo daquela rocha [do ódio], legitima as pessoas a saírem", continuou, tendo recordado o comício da supremacia branca de 2017 em Charlottesville, onde um manifestante antirracista foi morto e em que na sequência Trump defendeu os supremacistas.."Não tinha planeado voltar a candidatar-me a nada depois da morte do meu filho até ver aquelas pessoas marcharem em Charlottesville com tochas", disse..A campanha de Biden tinha anteriormente descrito o aparecimento de Trump no estado como "uma divisão egocêntrica acompanhada de zero soluções".."Trump falhou mais uma vez o momento, recusando-se a pronunciar as palavras que os habitantes do Wisconsin e os americanos de todo o país precisavam de ouvir hoje do presidente: uma condenação da violência de todos os géneros, independentemente de quem a comete", disse..De manhã, Joe Biden e a mulher, Jill, estiveram reunidos com o pai e os irmãos de Jacob Blake, o homem de 29 anos que foi atingido múltiplas vezes nas costas pela polícia no dia 23 de agosto. Na ocasião falou por telefone com a vítima e a mãe, num encontro de hora e meia. "A família ficou grata pela reunião e ficou muito impressionada com o facto de os Bidens estarem tão empenhados e dispostos em escutar de facto", disse o advogado da família..Em 2016, Trump ganhou este estado por menos de um ponto percentual, ou 20 mil votos, um feito inédito para os republicanos em 32 anos. Segundo as análises, fê-lo ao conquistar os eleitores brancos que tinham votado anteriormente em Barack Obama..Neste momento, Biden lidera nas preferências do Wisconsin com uma vantagem média de 4% tendo em conta sondagens recentes, embora a mais recente, da Fox News, atribui 8% de vantagem ao democrata..Outros estados decisivos.O Michigan é outro estado do Centro-Oeste que o candidato republicano venceu por menos de um ponto percentual em 2016. No entanto, muita água correu debaixo da ponte..A governadora democrata Gretchen Whitmer, eleita em 2018, viu aumentar a sua popularidade pela forma como lidou com a pandemia. Biden está à frente de Trump no Michigan por uma média de 8% segundo o Washington Post, ou de apenas 2,6% segundo a Real Clear Politics. A vitória de Biden não é um dado adquirido: segundo o Post precisa de mais eleitores negros e dos votos de alguns antigos eleitores brancos de Trump. O Minnesota é um dos estados em que todos estarão com os olhos postos. Este é um estado democrata, do governador aos eleitos locais, além de tradicionalmente votar azul para a presidência. Mas Trump perdeu a eleição em 2016 apenas por 1,5% e vê uma oportunidade em explorar o medo dos eleitores na ressaca dos protestos relativos ao escândalo George Floyd, que ocorreu na cidade mais populosa do estado, Minneapolis..A mensagem é a de que os eleitores não irão ficar em segurança com os democratas no poder. "Os democratas no Minnesota têm registado uma erosão constante no apoio popular ao movimento Black Lives Matter e às remodelações da polícia desde o início do verão", disse um democrata ao Washington Post, que explica a reação dos cidadãos ao receio das exigências dos manifestantes em tirar recursos à polícia..Além do Centro-Oeste, o Sul é a outra grande batalha eleitoral em perspetiva, com a Carolina do Norte no centro. Outrora conservador, o estado tem alterado o seu comportamento nas urnas, graças, em parte, à diversificação étnica ocorrida nos subúrbios..Biden lidera no estado por uma margem de seis pontos, de acordo com uma média das sondagens recentes realizada pelo Post ou por apenas 0,6% de acordo com a Real Clear Politics..Trump venceu em 2016 por 3,5%, mas o estado tem agora um governador democrata e na corrida ao Senado (que pode determinar quem obtém a maioria em Washington) o candidato Cal Cunningham está na frente..Resta dizer que em termos nacionais a média das sondagens realizada pela Real Clear Politics atribui uma vantagem de 7,2% a Biden. Quanto ao mandato de Trump, a média dos estudos atribui 44% de eleitores com opinião favorável e 53,3% com opinião desfavorável..O site FiveThirtyEight dá a Joe Biden 71% de hipótese de vencer - exatamente as mesmas que atribuiu a Clinton no dia das eleições de 2016.