"Fui o último a sair vivo da mesquita". Relatos de quem assistiu ao horror
À medida que as horas passam, os relatos de sobreviventes que assistiram ao ataque terrorista desta sexta-feira em duas mesquitas da cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, contam uma história de terror. Morreram 49 pessoas e 48 ficaram feridas. O atirador disparou indiscriminadamente contra homens, mulheres e crianças.
Ramzan Ali estava a rezar na mesquita de Al Noor- onde foram assassinadas 41 pessoas - e viu o homem ao seu lado a ser baleado. "Posso dizer que sou abençoado. Tive sorte. Alá estava a olhar por mim", disse ao The New Zealand Herald.
Normalmente, às sextas-feiras, estão muitas pessoas na mesquita e o homem acredita que estariam cerca de 300 naquele momento. Quando começou o tiroteio, estava a ser dito o sermão.
"Vi pessoas a correr em direção a todas as portas. Não é fácil saírem 300 pessoas ao mesmo tempo por duas portas - porque ele [o atirador] entrou pela porta principal e a mesquita tem mais duas portas laterais", contou.
Escondeu-se atrás de um banco, mas lembra-se que ainda tinha as duas pernas visíveis. "Ele começou ´bang, bang, bang". O meu primo estava ao meu lado e foi atingido numa perna".
Ramzan Ali conta que rezou para que o terrorista ficasse sem munições. Depois, pensou em fugir. Um outro homem, que estava perto da entrada principal da mesquita, gesticulou e disse para Ali ir na sua direção.
"O atirador disparou e atingiu-o no peito. Mesmo à minha frente". O homem conseguiu sair da mesquita através de uma janela partida e fugiu para a zona do Hagley Park. "Fui o último a sair vivo da mesquita", afirma.
O irmão de Ali ainda estava na mesquita e quando olhou para trás para o procurar viu vários corpos de pessoas mortas ao lado das duas portas.
Noor Hamzah, de 54, também foi obrigada a fugir das balas para salvar a vida. Como outros que conseguiram fugir - mal os disparos começaram - escondeu-se atrás das grades de um parque de estacionamento perto da mesquita. Pelas suas contas, o ataque terá durado 15 minutos - o atirador publicou um vídeo do tiroteio com a duração de 17 minutos.
Armed assistiu, depois, à entrada da polícia no edifício. Através das janelas da mesquita, viu "pilhas de corpos".
"Isto é um desastre para a Nova Zelândia. Um dia negro", disse Hamzah, ainda com as roupas ensanguentadas depois de ter ajudado vários feridos.
Mohan Ibrahim é outra das cerca de 400 pessoas que rezavam na mesquita de Al Noor, na cidade de Christchurch. Não viu o atirador quando os disparos começaram porque estava numa outra sala, mas assim que se ouviram os tiros lembra-se que as pessoas começaram a fugir.
"Muitos foram mortos e outros ficaram feridos. Vi uma rapariga morta no meio da estrada", conta, ainda em choque e sem conseguir segurar as lágrimas.
"Tenho medo pelos meus amigos. Alguns ainda lá estão dentro, nós não podemos entrar para os ir buscar", contava, pouco depois da entrada da polícia na mesquita.
Ibrahim contou também que outros amigos estavam na segunda mesquita atacada em Linwood e que estes lhe contaram que o ataque começou à mesma hora - às 13:40 locais (00:40 em Lisboa). Facto que ainda não é claro, uma vez que as autoridades estão a apontar para já Brenton Tarrant como único atirador.
"Tenho amigos nas duas mesquitas - isto é aterrorizante e eu não sei o que fazer", desabafou. "Pensamos que a Nova Zelândia é o país mais pacífico do mundo, isto é mesmo inesperado", acrescentou.
Sophie Nears, de 19 anos, que também estava no interior da mesquita, disse ao jornal neozelandês que a sua amiga gritava a dizer que tinha sido atingida numa perna. Não sabe se sobreviveu.
Idris Khairuddin, de 14 anos, confirmou que as orações tinham acabado de começar quando se ouviram os disparos. "Primeiro pensei que fosse o barulho de obras, depois vi e ouvi pessoas a correr e a gritar". O tio de Khairuddin, que foi atingido nas costas, disse que seis pessoas que conhecia também foram atingidas.
Idris estava sentada perto de uma das portas e por isso conseguiu fugir rapidamente. "Corri o mais depressa que pude. O som dos disparos soava como pop, pop, pop... ouvi mais de 50", recorda.
Rahimi Ahmad, de 39 anos, também foi esta sexta-feira à mesquita de Al Noor com o filho de 11 anos, como acontece todas as semanas.
O filho estava a brincar no exterior da mesquita quando o tiroteio começou - alguém pegou nele e levou-o para uma casa perto da mesquita para o proteger. Ainda ninguém sabe o que aconteceu a Rahimi. A mulher tem tentado contactá-lo, mas ainda não conseguiu saber se está vivo, ferido ou se foi uma das 49 vítimas mortais.
A polícia criou um site - o RFL - onde as pessoas podem registar os nomes dos desaparecidos ou marcarem-se a eles mesmos como "seguros".