Frente Nacional com novo nome e mais anti-imigração

Pressionada pelas críticas do pai e pela ambição da sobrinha, Marine Le Pen quer reinventar o partido no congresso de Lille.
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Depois de uma derrota nas presidenciais de maio, de um resultado dececionante nas legislativas de junho e da saída do seu número dois para fundar o próprio partido, Marine Le Pen sabe que precisa de fazer algo para dar nova vida à Frente Nacional. As últimas sondagens não são favoráveis à líder da extrema-direita francesa - com um estudo da Kantar Sofres a mostrar que 73% dos inquiridos não a veem como uma boa presidente - que procura agora relançar o partido mudando-lhe o nome e colocando a imigração no centro da sua política.

Única candidata à sua própria sucessão à frente do partido, Marine pode ter a vitória garantida, mas isso não a poupa a várias dores de cabeça. Desde as críticas do pai e fundador da FN, Jean-Marie Le Pen, à mal disfarçada ambição da sobrinha Marion, passando pela necessidade de reinventar uma formação com 45 anos para se adaptar a um cenário político francês que Emmanuel Macron e o seu La République En Marche! veio revolucionar. Primeiro ao conquistar a presidência, depois ao obter a maioria absoluta no Parlamento.

O lema de Marine neste congresso, que termina amanhã, é "implantar-se, aliar-se, governar". Uma mudança em relação à tradição de oposição e isolamento da extrema-direita. O objetivo, explicou à France 3, é promover a união dos "nacionalistas" contra os "mundialistas" já nas europeias do próximo ano.

Pressionada pela viragem à direita d"Os Republicanos sob a liderança de Laurent Wauquiez, muitos analistas apostam que Marine Le Pen vai colocar um discurso ainda mais anti-imigração no centro da sua política. Um caminho que rendeu frutos a outros partidos em países como a Holanda, a Áustria (onde a extrema-direita está na coligação de governo), na Alemanha e em Itália nas eleições de dia 4.

A refundação da Frente Nacional vai começar por uma mudança de nome que já foi aprovada pelos militantes através de um questionário enviado antes do congresso. A nova denominação deverá ser proposta por Marine Le Pen durante a reunião do partido, tendo depois de voltar a ser aceite pelos militantes através de um voto por correspondência. Para já, a única pista que a líder deu sobre a escolha que vai anunciar amanhã foi que acha "foleiro" Os Patriotas - nome do novo partido criado por Florian Philippot, seu ex-número, após deixar a FN. "Sempre preferi a palavra "nação" à palavra "pátria"", explicou Marine aos jornalistas na quinta-feira.

Para Jean-Marie Le Pen, a mudança de nome é um suicídio político. O fundador da FN decidiu não participar num congresso que deve extinguir o cargo de presidente de honra que ocupa apesar da sua expulsão da formação em 2015, quatro anos depois de Marine lhe ter sucedido na liderança. "Demora anos, décadas, a construir um nome político credível. Querer mudá-lo é... inexplicável", garantiu numa entrevista à agência Reuters.

Desde que assumiu a liderança da Frente Nacional, Marine tem procurado afastar o partido das declarações mais polémicas do pai, sobretudo as posições racistas e antissemitas. E se o pai Le Pen conseguiu chegar à segunda volta das presidenciais em 2002, tendo obtido apenas 17,8% dos votos face a Jacques Chirac devido à mobilização da chamada "frente republicana", Marine obteve 33,9% perante Macron. Com exceção das legislativas de 1986, em que uma mudança do sistema eleitoral (logo invertida) para proporcional deu 35 deputados à FN, os melhores resultados da formação aconteceram nos últimos anos, incluindo a vitória nas europeias de 2014. Depois da desilusão das últimas presidenciais e legislativas, a liderança de Marine Le Pen passou, no entanto, a ser contestada dentro da própria FN. A líder garante, citando Winston Churchill, que "o fracasso não é fatal, o que conta é a coragem de continuar", mas vai alimentando as dúvidas sobre o seu futuro, afirmando não querer "eternizar-se" no cargo.

Problemas judiciais

No início do mês, um juiz colocou Marine Le Pen sob investigação formal por suspeita de disseminação de imagens violentas. A investigação refere-se a três imagens de execuções pelo Estado Islâmico que a líder da Frente Nacional publicou no Twitter em dezembro de 2015, incluindo a decapitação do jornalista americano James Foley. Meses depois de lhe ter sido retirada a imunidade parlamentar, Marine Le Pen mostrou-se desafiadora. "Em declarações à televisão LCI, garantiu que "se estão a tentar silenciar-me, não vão conseguir". Numa fase anterior da investigação já denunciara a "interferência política" neste caso.

A poucos dias do Congresso da FN, Le Pen enfrentou ainda com outra investigação aos alegados pagamentos indevidos de eurodeputados da formação aos assistentes. O Tribunal Geral da União Europeia confirmou a decisão do Parlamento Europeu de considerar indevidos montantes pagos por Jean-Marie Le Pen e Bruno Gollnish. Os acórdãos confirmam a decisão de 2016 do Parlamento que considerava terem sido indevidamente pagos como assistência parlamentar os montantes de 320 mil euros e de 276 mil euros.

O caminho de Marion

Afastada oficialmente da política depois da derrota da tia na segunda volta das presidenciais francesas, Marion Maréchal-Le Pen fez um regresso em grande às aparições públicas a 22 de fevereiro quando discursou na Conservative Political Action Conference em Washington, nos EUA. Apontada sempre como potencial futura líder da Frente Nacional, a neta de Jean-Marie Le Pen defendeu que os franceses devem seguir o caminho de Donald Trump e pôr a "França primeiro".

Ao discursar numa conferência que contou com intervenções do presidente Trump e do vice-presidente Mike Pence, Marion reforçou a ideia de que pode ser uma ameaça para a liderança da tia na Frente Nacional. Eleita deputada em 2012, tornou-se aos 22 anos na mais jovem de sempre na Assembleia Nacional francesa. Hoje com 28 anos, prepara-se para abrir uma escola de gestão e ciência política para treinar os líderes do futuro. Mais conservadora em termos sociais e mais liberal em termos económicos do que a tia, Marion recebeu elogios dos media conservadores americanos pela sua intervenção.

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