O filme "L'événement", da realizadora francesa Audrey Diwan, venceu o Leão de Ouro de melhor filme, o prémio máximo do Festival Internacional de Cinema de Veneza, que hoje encerra a 78.ª edição..Baseado no romance homónino da escritora francesa Annie Earnaux, autora de "Uma Paixão Simples" e "Os Anos", títulos já editados em Portugal, o filme narra a angústia de uma jovem estudante que faz um aborto clandestino, em França, em 1964, 11 anos antes da despenalização.."L'événement" é a segunda longa-metragem de Audrey Diwan, sucedendo a "Mais vous-êtes fous", de 2019, e a argumentos como os de "O Homem do Coração de Ferro" e "A Rede do Crime", que escreveu a Cédric Jimenez..O filme de Diwan mobilizou as preferências do júri presidido pelo sul-coreano Bong Joon Ho, o realizador de "Parasitas", e superou o favoritismo dos novos filmes de Pedro Almodóvar, Paolo Sorrentino e Jane Campion, que as crónicas do festival, iniciado no passado dia 01, confirmavam no dia-a-dia..Paolo Sorrentino conseguiu, porém, o Leão de Prata do Grande Prémio do Júri, o segundo mais importante do certame, com "È stata la mano di dio" ("Foi a mão de Deus", em tradução livre), obra de caráter autobiográfico, sobre um miúdo a crescer em Nápoles, nos anos de 1980, quando o avançado Maradona jogava no principal clube da cidade. Sorrentino, já premiado nos festivais de Cannes e Veneza, é conhecido por filmes como "A Grande Beleza", "Juventude" e "Silvio e os Outros"..O Leão de Prata de Melhor Realização foi este ano para a neozelandesa Jane Campion, pelo filme "The power of the dog" ("O poder do cão", em tradução livre). Vencedora de um Óscar por "O Piano", Campion é igualmente conhecida por obras como "Um Anjo à Minha Mesa" e "Retrato de Uma Senhora".."Il Bucco", de Michelangelo Frammartino, inspirado na exploração das mais profundas grutas italianas, conquistou o Prémio Especial do Júri..O prémio de Melhor Argumento foi para a atriz norte-americana Maggie Gyllenhaal, que se estreou na realização com "The Lost Daughter", filme baseado num dos livros da tetralogia da escritora italiana Elena Ferrante..O prémio de Melhor Atriz, para a espanhola Penélope Cruz, garantiu o único grande prémio de Veneza para a mais recente longa-metragem de Almodóvar, "Madres Paralelas" ("Mães Paralelas"), a história de duas mulheres grávidas que são mãe no mesmo dia. O filme tem estreia prevista, em Portugal, em 02 de dezembro..Como Melhor Ator foi distinguido John Arcilla, pelo desempenho em "On the Job: The Missing 8", de Erik Matti, uma história sobre o abuso do poder e a corrupção da classe dirigente, nas Filipinas..O Prémio Marcello Mastroianni para o Melhor Ator Emergente foi para Filippo Scotti, pelo desempenho em "È stata la mano di dio"..Na secção Horizontes, dedicada a novos valores, o prémio de Melhor Filme foi para "Pilgrims", de Laurynas Bareisa, o de Melhor Realização para Éric Gravel, por "À plein temps", e o Prémio Especial do Júri, conquistado em 2020 pela realizadora portuguesa Ana Rocha de Sousa, com o filme "Listen", foi este ano para "El gran movimiento", de Kiro Russo..Nesta secção, foram ainda distinguidos os atores Laure Calamy e Piseth Chhun e a curta-metragem "Los huesos", de Cristóbal León e Joaquín Cociña..O Prémio do Público, nesta edição, foi para "The blind man who did not want to see Titanic", do finlandês Teemi Nikki, que toma a cegueira por tema..Na secção Giornate degli Autori (Jornadas dos Autores, em tradução livre), paralela ao festival, o Prémio do Público foi para o filme "Deserto Particular", do realizador brasileiro Aly Muritiba, coproduzido pela portuguesa Fado Filmes e pela Grafo Audiovisual..O 78.º Festival Internacional de Cinema de Veneza abriu no passado dia 01, com "Madres Paralelas", de Pedro Almodóvar, tendo contado, em competição, com filmes como "America Latina", dos irmãos Damiano e Fabio D'Innocenzo, "La caja", do realizador venezuelano Lorenzo Vigas, e "Spencer", de Pablo Larraín..O festival distinguiu ainda os atores Jamie Lee Curtis e Roberto Benigni com o Leão de Ouro de carreira, e homenageou o realizador e produtor britânico Ridley Scott, pelo contributo para o cinema contemporâneo..No programa "Final Cut" de Veneza, dedicado a obras em fase de finalização, estiveram o documentário "As noites ainda cheiram a pólvora", do realizador moçambicano Inadelso Cossa, numa coprodução entre Moçambique, Alemanha, França, Noruega, Países Baixos e Portugal.