Finalmente um militar. Será que é desta?

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Os conceitos de estratégia, planeamento e tática tiveram a sua origem no domínio militar. Mas acabaram por ser incorporados noutros domínios como o político ou o empresarial e têm sido utilizados sempre que se pretende adotar decisões de forma a garantir o máximo de eficácia com o emprego eficiente de recursos.

Clausewitz, na sua obra, Da Guerra, alicerçado nos estudos que fez sobre as campanhas napoleónicas, definiu estratégia como uma metodologia científica para elaborar projetos ou planos de ação, tendo em consideração os recursos disponíveis para alcançar determinados objetivos com vista à concretização de um fim. Por conseguinte, e intrinsecamente conexo a este conceito de estratégia, surgem os conceitos de planeamento estratégico e de tática. Assim, o planeamento consiste na definição do caminho a percorrer para, com os recursos disponíveis, alcançar os objetivos que foram definidos ao nível político-estratégico. A tática, por seu turno, é a execução desse plano.

Esta é uma das razões mais elementares para defendermos que a cultura e a "arte" militares são decisivas para envolver as Forças Armadas na preparação e na implementação de uma operação desta envergadura e com a complexidade por todos reconhecida: planeamento da vacinação da população portuguesa contra a covid-19.

A nomeação do vice-almirante Gouveia e Melo para liderar esta task force, que por acaso já integrava esta comissão em representação do Ministério da Defesa Nacional, é o reconhecimento de que o comando de um processo desta complexidade deve ser atribuído a um militar. Está o governo a tentar fazer à segunda aquilo que deveria ter sido feito à primeira. Mais vale tarde do que nunca.

O PSD tem defendido o envolvimento das Forças Armadas desde o início desta pandemia mas não como meros dispensadores de materiais e de recursos. As Forças Armadas devem ser chamadas para o cumprimento desta missão num momento em que possam contribuir para o sucesso da operação com a sua estratégia, planeamento e tática. Afinal, as Forças Armadas são o agente de proteção civil por excelência para missões desta complexidade.

Mas não nos podemos esquecer de que uma andorinha não faz a primavera e um militar sozinho não faz a "tropa": precisa de soldados. Importa, por isso, que as Forças Armadas sejam empenhadas nas situações em que a sua experiência, prontidão, rapidez de resposta, cultura organizacional e a facilidade com que os militares se adaptam à exigência de um cenário, possam produzir o melhor resultado.

Esperemos que o militar agora nomeado para liderar esta equipa de planeamento da operação de vacinação consiga impor a sua cultura militar (e, já agora, pessoal) para restabelecer a ordem no caos já instalado! Sendo que, para isso, é necessário que as ordens sejam claras e muito precisas para que todos as consigam entender e executar sem erros.

Para alcançar esse desiderato só a comunicação oportuna e honesta de uma fonte credível será capaz de conter o medo durante uma epidemia e restabelecer a tão desejada e necessária confiança nesta operação de vacinação. A regra é muito simples: identificação de informações que as pessoas necessitam mesmo de saber e explicá-las em termos claros e confiáveis. Porque só devidamente informados conseguiremos mitigar os efeitos de uma situação desta envergadura.

Porque ordens e contraordens só geram desordem. E se Portugal e os portugueses têm, infelizmente, perdido algumas batalhas recentes, não podemos perder esta guerra!

Deputada e coordenadora do GPPSD na Comissão de Defesa Nacional

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