Filmes (e séries) para passar o Halloween no sofá
"É Halloween; toda a gente tem direito a um bom susto", ouve-se dizer no filme de John Carpenter com o título homónimo desta época, que apresentou ao mundo a máscara de Michael Myers. Cumpra-se a tradição: celebrar o 31 de outubro, mesmo sem trajar a rigor e andar pelas ruas a bater às portas, significa predispor-se ao medo miudinho, quiçá àquele terror mais pronunciado que acelera o bombear do músculo no lado esquerdo do peito. Sim, neste dia todos temos direito a um ou outro salto no sofá, ao riso nervoso do suspense e, se for caso disso, às gargalhadas de pura diversão negra - basta carregar nos botões do comando para escolher o filme ideal.
Os canais TVCine, por exemplo, empenharam-se na temática e nos últimos dias passaram alguns clássicos como A Lojinha dos Horrores (1986), Poltergeist (1982) e Pesadelo em Elm Street (1984). Já neste sábado, continuando nesse espírito, há maratona do universo de M. Night Shyamalan, a começar com O Protegido (às 18.50), o primeiro filme da trilogia Eastrail 177, que dá a conhecer um homem inquebrável como aço (Bruce Willis) e o seu encontro com um aficionado de comics (Samuel L. Jackson); depois há Sinais (20.40), essa grande ficção-científica centrada numa família a lidar com fenómenos extraterrestres; e A Vila (22.30), sobre o mal que se esconde na fronteira de um bosque. O ciclo especial Shyamalan prolonga-se no domingo, com destaque para A Visita (22.30), que é como quem diz, umas férias assustadoras na casa dos avós...
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Por sua vez, no catálogo streaming da Netflix há boas propostas para um programa em família. Desde logo, As Bruxas (1990), de Nicolas Roeg, a competir com a chegada às salas de cinema da nova versão de Robert Zemeckis, que recupera a história de Roald Dahl sobre as feiticeiras malvadas que odeiam crianças e planeiam exterminá-las como ratos. No filme de Roeg, tão medonho quanto ternurento, Anjelica Huston interpreta a Grande Bruxa-Mor e é irrepetível no charme perverso, ou não fosse ela também a mãe Morticia de A Família Addams (1991), de Barry Sonnenfeld, outra bela sugestão de aventura com estética e humor de Halloween na companhia da mais excêntrica das famílias... Quer dizer, se não contarmos com a disfuncional de Sombras da Escuridão (2012), de Tim Burton, em que um Johnny Depp vampiro é libertado do túmulo após duzentos anos e aprende a viver no século XX (também disponível na Netflix).
Na animação, sem pensar muito, o prato forte temático será Hotel Transylvania (2012). Mas se a intenção é mesmo desbunda total, os Gremlins (1984) de Joe Dante é o grande valor seguro. Tudo começa com um pequeno mogwai fofinho, presente natalício de pai para filho, que traz exigências muito específicas: não deve apanhar luz intensa nem água e, mais importante, não pode ser alimentado depois da meia-noite. Obviamente, todas as regras serão quebradas e as consequências assemelham-se a qualquer coisa como uma cidade tomada por bárbaros duendes verdes que curtem à fartazana enquanto destroem a paz dos lares e os estabelecimentos de comércio local, perante a incredulidade de um locutor de rádio que pensa estar perante outro episódio da Guerra dos Mundos de Orson Welles: "Estamos no Natal, não no Halloween!" Engana-se...
Continuando na oferta da Netflix, os adultos poderão estar mais inclinados para o Drácula de Bram Stoker (1992), clássico do terror assinado por Francis Ford Coppola com uma extraordinária interpretação de Gary Oldman, ou o Shining (1980) de Stanley Kubrick - ambos com um cirúrgico sentido de espaço onde não se brinca em serviço.
De resto, as séries também são uma escolha possível, desde a óbvia Stranger Things à nova criação de Ryan Murphy, Ratched, na Netflix, esta última focada na história da enfermeira sinistra do hospital psiquiátrico de Voando Sobre um Ninho de Cucos (1975), de Milos Forman, aqui na composição de Sarah Paulson. Já na plataforma HBO recomenda-se a série The Outsider, a partir de um romance de Stephen King, que é do melhor que se fez este ano em matéria de sobrenatural e dramas realistas, sendo ainda de espreitar Lovecraft Country, dez episódios de aventura, monstros e terror racial, com passado e presente a dar combustível ao imaginário. No fim de contas, as abóboras iluminadas nem fazem muita falta.