A Visita

O regresso de M. Night Shyamalan numa Visita de dois jovens a casa dos avós. Ou como um filme com poucos recursos pode ser um bom filme. Leia as críticas de Rui Pedro Tendinha e Inês Lourenço
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RUI PEDRO TENDINHA (4/5)

O reencontro com o medo de Shyamalan

Quando pensávamos que já não sairia nada de jeito dos filmes de terror de "filmagens amadoras", também conhecidos como "found footage films", eis que nos chega este monumento. Quando pensávamos que M. Night Shyamalan já não voltava à pureza do seu cinema de todos os medos, eis que surge isto. Isto é o grande, grande regresso de um dos maiores mestres do cinema de terror moderno dos nossos tempos. Shyamalan continua a ser o contador de histórias com um imaginário oriental não formatado. Em A Visita abdica das estrelas, do orçamento gigante e dos efeitos. Através de um falso documentário feito por uma teenager que ser cineasta, pergunta ao espetador sobre a ética do cinema. O que deve ser mostrado, até onde a câmara pode filmar. O pretexto é uma visita dessa adolescente e do seu irmão à casa dos avós que nunca conheceram. O que acontece é que depois das 21h30 estranhas coisas se passam lá em casa e a câmara está sempre ligada.

Claro que mete muito medo. Um medo novo, neste caso com a improvável desconfiança perante a ameaça da terceira idade. Na cultura americana, cada vez mais, os velhos são os novos monstros.

INÊS LOURENÇO (4/5)

O medo não "custa" assim tanto

M. Night Shyamalan decidiu, finalmente, inverter a marcha. Depois de alguns reveses na mais recente filmografia, temos de volta à fonte primordial o realizador de O Sexto Sentido e Sinais, introduzindo no drama familiar o dispositivo do medo. Com efeito, A Visita é um brilhante resultado de parcos recursos. Financiado pelo próprio Shyamalan, com apoio da Blumhouse Pictures (Insidious, Whiplash), este filme prova de que se pode criar uma atmosfera tremenda, com requisitos mínimos de produção. Dois irmãos vão visitar os avós - que não conhecem -, e decidem filmar esses dias, para um futuro "documentário conceptual" (palavras da rapariga). Da simplicidade do ponto de partida seguimos para um registo "em direto" da estada na quinta onde, por entre biscoitos e sustos, os miúdos se vão tornando uma espécie de Hansel e Gretel. Sem se valer de banda sonora, A Visita mantém-nos a tensão corporal ao rubro, porque não temos um guia musical a sugerir "prepare-se, é agora" - esse momento é o tempo todo, num véu de aparente normalidade. E Shyamalan está de parabéns, porque gere com destreza a aparência.

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