Fillon sob investigação por ter dado emprego à mulher

A três meses das presidenciais, favorito vai ter que justificar os 500 mil euros que Penelope recebeu como assessora parlamentar
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A lei francesa autoriza que deputados e senadores possam contratar membros da família. De facto, segundo dados de 2014, essa era uma realidade para entre 10% a 15% dos 900 parlamentares. Mas a lei estabelece que o emprego não pode ser fictício. E é aí que se complica a situação para François Fillon, o favorito à vitória nas presidenciais de 23 de abril, que contratou a mulher para assessora parlamentar. É que nunca ninguém soube de nada. "Ela trabalhava na sombra", disse ontem o porta-voz do candidato de direita, face à notícia de que Penelope Fillon recebeu quase 500 mil euros dos cofres públicos sem ter trabalhado. A procuradoria já está a investigar.

A revelação foi feita ontem pelo semanário satírico francês Le Canard Enchainé (conhecido pelo jornalismo de investigação). Penelope foi assessora parlamentar de 1998 a 2002, quando o marido era deputado eleito por Sarthe. Depois, quando Fillon foi para primeiro-ministro, em 2007, tornou-se colaboradora do seu suplente, Marc Joulard, antes de voltar a assessorar o marido, que regressou ao Parlamento em 2012. O semanário fez as contas e diz que ganhou "cerca de 500 mil euros brutos" em oito anos. Além disso, recebeu mais outros cem mil a trabalhar para uma revista cultural, propriedade de um amigo de Fillon.

O facto de Fillon contratar a mulher não seria ilegal, mas uma colaboradora do ex-primeiro-ministro, questionada pelo jornal francês, disse nunca ter trabalhado com ela: "Só a conhecia como mulher do ministro." Em outubro, numa das raras entrevistas que concedeu, ao jornal Le Bien Public, Penelope afirmou: "Até agora, nunca me tinha envolvido na vida política do meu marido." A procuradoria antifraude já abriu uma investigação por apropriação indevida de fundos públicos, o que poderá complicar a campanha de Fillon - que já disse que se quer encontrar com os investigadores o mais rapidamente possível para calar "estas acusações sem sentido".

Mais cedo, reagindo ao artigo, o candidato d"Os Republicanos (venceu as primárias da direita em novembro) dissera estar "escandalizado pelo desprezo e misoginia" da notícia. Sem responder diretamente às acusações, Fillon avisou os eleitores que "começou a época do jogo sujo". O assessor, Thierry Solère, confirmou que Penelope trabalhou para o marido "na sombra, porque não é o seu estilo chegar-se à frente".

Penelope nasceu em 1956 no País de Gales (o seu nome de solteira é Clarke) e estudou Direito. Mas nunca exerceu advocacia, optando por se dedicar à família. Casada com Fillon desde 1980 (que conhecera durante um ano sabático em França), teve cinco filhos - curiosamente, a sua irmã, Jane, casou com um dos irmãos do marido, Pierre. Em 2014, Penelope foi eleita conselheira municipal de Solesmes, no departamento de Sarthe (onde a família tem uma mansão), um cargo que Fillon também teve no passado.

Na última sondagem Ipsos, conhecida no sábado, o candidato da direita surge com entre 25% e 26% na primeira volta, atrás da candidata da Frente Nacional (extrema-direita), Marine Le Pen, com 27%. Numa eventual segunda volta entre os dois (a 7 de maio), vence com 62%. Este escândalo poderá alterar a situação, eventualmente beneficiando a esquerda - que ainda não escolheu oficialmente o candidato, mas tem estado atrás nas sondagens. O ex-primeiro-ministro socialista, Manuel Valls, que espera ganhar as primárias, exortou Fillon a explicar este caso. "Não pode ser o candidato da honestidade e da transparência e não responder".

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