É uma responsabilidade muito grande suceder a Pedro Passos Coelho na liderança da lista em Lisboa? Eu tenho o peso da responsabilidade e tenho muito respeito por Pedro Passos Coelho, mas objetivamente quem lhe está a suceder é Rui Rio..É vereadora da Câmara de Cascais, com realidades diferentes de Lisboa. Com que dificuldades se tem defrontado na campanha? O que me preocupa são os problemas das pessoas, e aqui no distrito a questão que se põe é ser desenhado como um todo, deste grande território dos 16 concelhos, que estão aqui entalados entre o Atlântico, o Tejo e as duas serras. As políticas são muito centradas em zonas e muito pouco distribuídas por todo o território. Tenho essa perspetiva territorial, como arquiteta e urbanista, e tenho a certeza absoluta de que esta região tem necessariamente de começar a ser pensada como um todo, que não é. Nomeadamente ao nível dos transportes, no caso da ferrovia, há estratégias muito localizadas que nunca têm em conta toda a rede, o que numa área metropolitana, com movimentos pendulares, que vão até aos concelhos mais a norte, não tem sentido. Aqui o grande desafio é continuar a pensar o território a uma escala maior e a tentar identificar as grandes fragilidades. O caso dos transportes é uma grande fragilidade, mas também a habitação..Uma das suas grandes apostas é na habitação. Que proposta tem levado até aos eleitores que a diferenciem do PS? Temos duas grandes propostas no programa. A primeira é a de disponibilizar em força tudo o que são propriedades do Estado para habitação acessível, o que não foi feito nestes quatro anos. Não percebo bem porquê, porque quando se consegue que as propriedades do Estado que estão abandonadas sejam disponibilizadas para habitação acessível, as próprias rendas pagam as obras, o que podia ter sido feito nestes quatro anos sem grande impacto. A segunda parte é a regulação do mercado, já que mantiveram todas as políticas que foram implementadas na altura de Pedro Passos Coelho, quando o mercado estava congelado, e eram políticas justas por esse motivo, e com os vistos gold a ideia era tentar aquecer o mercado e atrair rapidamente investimento. Mantiveram-se as políticas com um mercado especulativo, que se alterou nestes quatro anos, nestes últimos tem subido 20% ao ano, pelo menos 2017 e 2018, muito acima daquilo que são os rendimentos das famílias. O que é bom, por um lado, porque está a atrair investimento, mas por outro lado temos de ajustar as políticas ao mercado. O ajustar era tentar redefinir os vistos gold para conseguir que o investimento se deslocalizasse para zonas que precisam..Para o interior? Não é só para o interior do Alentejo, é para o território dentro do distrito para zonas que precisem. Quando vemos uma concentração muito grande em zonas que já não precisam daquele apoio, a política de investimento convém ir sendo ajustada e alterada para outros sítios. A ideia do PSD é ter o mercado a funcionar, mas acima de tudo ajustando-o ao que se está a passar e ir indo regulando-o sem estar a tomar medidas drásticas como congelar rendas ou coisas assim quando as coisas já estão fora de controlo. Portanto, a política dos vistos gold tem de ser redefinida e as políticas públicas têm de ser postas em força para a habitação acessível a estudantes e a famílias jovens. O que o PS põe no seu programa é o chamado Fundo de Reabilitação do Edificado, que é um programa que congeminaram em 2016 e que propõe utilizar 1400 milhões de euros da Segurança Social nos edifícios do Estado. Tudo bem, mas isto sem passar pelo código de Contratação Pública, que é uma coisa que temos muita dificuldade em perceber. Se é uma política pública de habitação, que vai buscar dinheiro à Segurança Social, que vai gastá-lo em edifícios do Estado, há aqui dois riscos: que isto tudo seja feito e não desapareça o dinheiro da SS, porque se houver uma bolha imobiliária é um risco real; e depois temos sérias dúvidas por que motivo não passa pela contratação pública. Nós pretendemos fazer esta política de habitação cumprindo as regras da contratação pública. Todas estas propostas de habitação pública têm de ser paradigmas de cidades sustentáveis. Em Cascais desenhamos o primeiro bairro que vai ser certificado como sustentável porque achamos que já que estamos nesta fronteira de ter de chegar a metas mais ambiciosas, então os próprios projetos municipais têm de levar esta bandeira à frente e sem o grande custo do mercado imobiliário..Concorda com a polémica lei das rendas de Assunção Cristas? As pessoas esquecem-se de que essa lei de 2013 dizia que em 2018 o governo devia implementar um subsídio de renda que ia ajustar quando o mercado estivesse todo a funcionar e para todas as pessoas que não conseguiam acompanhar o aumento. Mas em 2018, o governo resolveu adiar isso por mais cinco anos. O que eles adiaram por mais cinco anos não foi os despejos, foi o compromisso do Estado em pagar aquilo que o Estado tem de pagar. É o Estado que tem de assegurar esta função social da habitação, o PSD não acha que têm de ser os proprietários a assegurar. O que se está a passar em Portugal é que há algumas pessoas a aguentar a função social do Estado com a habitação de outras. E ninguém quer pôr ninguém na rua, mas há qualquer coisa que não está bem, não está justo. O Estado é que tem de resolver esta questão. Havia essa cláusula da lei que nunca foi implementada e se tivesse sido não tinha os efeitos trágicos que nós vemos..Quais são as grandes apostas do PSD nos serviços públicos na Área Metropolitana de Lisboa? A nossa mensagem geral é a de que houve um desinvestimento nos serviços públicos, no Serviço Nacional de Saúde investiu-se factualmente menos nominalmente, em valores absolutos, do que no tempo da troika. No que diz respeito à educação, a nossa ideia é que as creches gratuitas comecem logo a partir dos 6 meses. É um compromisso que Rui Rio já assumiu várias vezes e é fundamental para as famílias. E por oposição ao PS, não nos importamos que se as IPSS tiverem vagas o Estado possa contratualizar com essas instituições para o programa começar mais cedo. Não quer dizer que não se monte o sistema público. Mas, tal como na saúde, complementamos se for mais eficiente e se for mais rápido para as pessoas não esperarem durante anos por que aconteça. A falha de creches é dramática para as famílias..Também tenta convencer o eleitorado com a mensagem da baixa de impostos? Isso é uma mensagem para o país todo. Sobretudo a baixa do IRC para as empresas é muito importante porque é mudar o modelo de desenvolvimento económico baseado no consumo, que é a ideia socialista, para um modelo baseado na produção e na exportação e aí tem de haver um apoio às pequenas e médias empresas para conseguirem não andar de joelhos e é mesmo estrutural porque se andarmos sempre dependentes do consumo vamos andar sempre a aumentar a dívida e os impostos..Rui Rio tem conseguido fazer passar a sua mensagem política de alternativa ao governo e ao PS? Depois destes debates todos, acho que é um ponto de viragem, e logo após aquele primeiro debate que fizeram os dois. Ele tem aquele estilo... é uma pessoa séria, não é uma picareta, tem uma postura que vai até ao fim. E nos debates isso é muito visível e as pessoas perceberam isso. Ele tem aqueles valores e sem grandes histerismos mostra que há uma alternativa real com uma linguagem muito simples. As pessoas percebem bem qual é, em termos económicos, uma alternativa socialista e uma social-democrata. Ele explica isto de uma maneira muito clara. Não tem o estilo agressivo de algumas pessoas porque não é populista. Com esta intensidade de debates as pessoas têm percebido muito bem que somos verdadeiramente uma alternativa..É suficiente para mobilizar o eleitorado de centro-direita que as sondagens apontavam muito desmobilizado? Espero que seja, temos essa esperança. Fiz uma ação de campanha de manhã e sentimos isso na rua, mas não sei o que quererá dizer no dia 6, que é o que importa. As pessoas sentem que, finalmente, estão a perceber o discurso de Rui Rio que não estava a passar..Têm-lhe dito isso? Sim, tem dito. Os debates foram fundamentais porque havia muita desinformação, e se calhar ele também não aparecia tanto, e agora que apareceu tantas vezes, e em contraponto, acho que ficou muito mais claro que é uma alternativa real. E eu sinto isso, está a consolidar-se com uma alternativa de centro-direita..Nas eleições regionais da Madeira o PSD perdeu a maioria absoluta, mas venceu-as. É um estímulo para as legislativas nacionais? Após 43 anos continuar o PSD a ganhar é obra, e depois do carismático Alberto João Jardim continuar o PSD à frente tem sido obra. Para nós é um bom sinal porque António Costa estava sempre a dizer que queria ganhar a Madeira..Mas houve uma subida estrondosa do PS na Madeira... Sim, mas também houve um desaparecimento absoluto do Bloco de Esquerda. A subida foi mais pela neutralização dos pequenos partidos à esquerda. Não sei se dá para transpor porque na Madeira depende muito das pessoas..É muito personalizado. É, é um meio muito mais pequeno e que é muito dependente das pessoas que estão à frente dos partidos e das relações entre eles que deu esta configuração. Mas o sentido do PSD ganhar manteve-se e antes das eleições é sempre melhor uma vitória..Há um conjunto de pequenos partidos novos à direita - entre outros, o Aliança de Santana Lopes e a Iniciativa Liberal - que podem provocar erosão no espaço político do PSD e CDS? Vamos ver, não têm tido muita visibilidade. Não sei. São tantos, que não sei que expressão vão ter. O que está realmente consolidado é que há uma grande alternativa entre o PS e o PSD..Os estudos de opinião mostram que o eleitorado é muito pragmático e vota muito pela "carteira" e, apesar de todos os problemas que a oposição aponta, as pessoas sentem que melhoraram as suas condições de vida. Neste momento em que acontecem as eleições, o eleitorado já estará sensível a um projeto alternativo ao de Costa? A questão da habitação, por exemplo, é dramática. As pessoas já sentiram muito bem o que se está a passar..Então a esperança é que essa sensibilização seja por efeito dos setores? Tenho a certeza absoluta de que as pessoas já perceberam que estão a ser expulsas dos centros históricos, a dúvida é se elas acham isso relevante ou não. Este modelo é um grande problema a vários níveis, não é só as pessoas saírem como destruímos o centro, que sem o património social desaparece e ficará uma cidade vazia de gente, que acabará por matar o próprio turismo, que vem cá para ver a cultura local. É um modelo que já se viu noutras cidades europeias que pode ser autofágico. O que dizemos às pessoas é têm de votar pensando no presente e no futuro. Também há a questão do Serviço Nacional de Saúde, quem lá tentou lá ir já percebeu como as coisas estão. As pessoas têm a noção de que já pagámos a dívida, e sem os credores é suposto ser melhor, e que viver melhor não tem nada que ver com o PS. Há aquele momento histórico das eleições entre a Dra. Manuela Ferreira Leite e o Eng. Sócrates, e eu pergunto às pessoas: "Acham que teríamos sofrido tanto se tivesse sido Manuela Ferreira Leite a ganhar as eleições?" É que eu tenho a certeza de que não. A dívida com Sócrates subiu de 60% para cento e tal por cento..Mas o eleitorado não percebeu isso na altura... Mas hoje temos de nos lembrar muito bem daquele dia. Naquele dia não se aperceberam, mas rapidamente perceberam, foi logo no ano seguinte..Tem havido muito cuidado no PSD de não invocar esse governo de Sócrates... Mas eu não estou a falar da questão da justiça. Estou a falar do governo dele, são agora as mesmas pessoas. Esta é uma das razões por que estou nisto, porque são as mesmas pessoas que nos levaram àquela situação que estão no governo. Não foi só a figura de José Sócrates que levou a tudo aquilo. O que me preocupa é que são as pessoas que estão agora no governo que não souberam levar este país a estar preparado para o embate que foi a crise mundial. Não estou a dizer que foi Sócrates o responsável pela crise mundial, mas não estávamos de todo preparados para ela. E tenho a certeza absoluta de que estaríamos se tivesse ganho a Dra. Manuela Ferreira Leite. Não é uma coisa de papão, mas passámos por isso. Eu pergunto às pessoas: "Vocês confiavam o futuro dos vossos filhos a Rui Rio ou a António Costa?" E essa é que é a grande pergunta a que têm de responder quando fazem a cruz. Estamos a votar para o presente, mas também para o futuro, e sabemos que passamos agora uma situação benéfica mundial em termos económicos e pode continuar a ser ou não. Há vários riscos. Quando pomos a cruz no boletim de voto estamos a dar o futuro dos nossos filhos a alguém. Eu não tenho qualquer espécie de dúvida e por isso é que estou nisto e aqui. Temos de deixar de ser o país com esta anestesia perante uma série de situações e incapacidade de olhar em frente e construir um projeto europeu e moderno, um país digno. Somos um país que pode ser muito mais e temos de ter confiança nas pessoas que estão a dirigir um país que é muito pequenino e onde a economia varia muito segundo a envolvente mundial. E por isso precisamos de gente com competência e seriedade para ter a certeza de que não nos condiciona muito o nosso futuro. Este PS não tem o menor quadro ético, estrutural, para levar este projeto por diante..Então não teme uma maioria absoluta do PS? E que o PSD fique abaixo dos 25%? Não sinto isso na rua, nem é isso que se sente agora nas sondagens. Espero que isso não aconteça porque é mau para Portugal. Se isso acontecer, vamos estar daqui a cinco anos a chorar a dizer como é que foi possível e como perdemos aquela oportunidade. Não podemos ter um PS que chega ao poder e cria uma rede de interesses e nunca mais o país anda para a frente. António Costa não está a pensar no futuro, está a pensar no presente, a tentar anestesiar as pessoas com o mínimo para não andarem muito incomodadas