Feijóo, um líder veterano para voltar a unir o PP
Voltar a unir o Partido Popular (PP) e travar a sangria de votos, seja para o PSOE à esquerda ou o Vox à direita. Estes são os desafios que enfrenta o galego Alberto Núñez Feijóo, de 60 anos, que depois de quatro maiorias absolutas na Galiza dá agora o salto para a política nacional. Em plena crise dos conservadores espanhóis, Feijóo será entronizado no congresso que decorre hoje e amanhã em Sevilha, sob o lema "Vamos fazê-lo bem".
Aquele que será o novo líder do PP nasceu em setembro de 1961 em Os Peares, Ourense. Oriundo de uma família da classe trabalhadora, estudou Direito em Compostela e tornou-se funcionário da região autónoma em 1985. Foi secretário-geral do titular da pasta da Agricultura, José Manuel Romay Beccaría (o seu padrinho político no PP, partido em que na realidade só se filiou em 2002), seguindo-o quando este passou para a Saúde. E depois quando ele saltou, em 1996, para Madrid, ao ser nomeado ministro por José María Aznar.
Feijóo tornou-se então presidente do Sistema de Saúde e passaria ainda pelos Correios, antes de voltar à Galiza, em 2003, primeiro como responsável pela pasta da Política Territorial, Obras Públicas e Habitação e um ano depois já como vice-presidente do histórico Manuel Fraga. Quando este ficou fora do governo regional, nas eleições de 2005, e se afastou da liderança do PP galego, Feijóo aproveitou. Quatro anos depois, conquistaria a primeira de quatro maiorias absolutas na Xunta da Galiza (2009, 2012, 2016 e 2020). A última numa altura em que o Vox, de Santiago Abascal, já ameaçava noutras regiões espanholas - na Galiza continua sem representantes.
Em 2018, quando Mariano Rajoy foi afastado do governo numa moção de censura e renunciou à liderança do partido, Feijóo - que admitiu que no passado tinha votado nos socialistas - já tinha sido apontado para lhe suceder. Mas renunciou a essa possibilidade, dizendo que queria concluir o seu "compromisso" com os galegos, que tinham votado nele por "coerência". Desta vez, depois de o líder Pablo Casado ser acusado de espiar o irmão de Isabel Díaz Ayuso, à procura de material comprometedor contra a presidente da Comunidade de Madrid, todos voltaram a olhar para o veterano Feijóo. "Hoje sinto-me na obrigação institucional e moral de pôr-me à disposição do meu partido e do meu país", referiu quando confirmou a candidatura, conseguindo acalmar a crise. Foi eleito sem oposição interna, tomando posse amanhã.
O desafio de Feijóo, que deixa a liderança do PP da Galiza mas ainda não a da Xunta (disse que esse processo pode levar ainda algumas semanas), será travar a sangria de votos. Algumas sondagens, em plena crise no PP, colocaram o partido em terceiro, atrás do Vox, com quem quer marcar distância mas de cujo apoio depende para governar em várias regiões - incluindo na histórica coligação em Castela e Leão. Os inquéritos de opinião dizem que é um dos líderes políticos mais bem avaliados, mas resta saber se conseguirá transformar essa popularidade em votos para o PP. As próximas eleições serão até dezembro de 2023, mas a tensão na coligação entre o PSOE e a Unidas Podemos poderá obrigar Pedro Sánchez a antecipar a votação.
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