Federação de Ginástica declara falência para resolver processos de abuso sexual

Medida vai parar os vários processos movidos pelas vítimas de abuso sexual por parte do ex-médico Larry Nassar. Seguradoras devem assegurar despesas mas responsável financeiro diz que pode não ser suficiente
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A Federação de Ginástica dos EUA (USA Gymnastics) declarou falência, justificando a medida com o peso que os processos judiciais movidos por centenas de mulheres que foram abusadas sexualmente por Larry Nassar, antigo médico da federação, cujas penas, uma pelos abusos e outra devido a pornografia infantil, podem chegar aos 300 anos de prisão.

A presidente da federação, Kathryn Carson, referiu que a medida é uma tentativa de reorganizar o organismo e acrescentou: "Devemos as vítimas uma resolução, total e final, as alegações baseadas em atos horríveis do passado".

"Vamos continuar a ser uma organização sem fins lucrativos que serve o desporto. Temos cerca 100 processos que envolvem cerca de 350 vítimas e pensamos que esta é melhor maneira de acelerar os processos e resolver a situação", frisou.

"A organização é forte financeiramente mas estamos preocupados com as centenas de processos por resolver", disse ainda Carson, explicando que a federação procura assim proteção de vários credores. Ao declarar falência, a USA Gymnastics deverá conseguir adiar temporariamente os restantes processos em que se vê envolvida., explica a Reuters.

De acordo com Scott Shollenbarger, responsável financeiro da federação, o impacto dos processos nas contas da organização está estimado entre aproximadamente 66 e 88 milhões de euros. "As alegações das vítimas pode exceder os recursos que temos disponíveis", disse.

E assim, enquanto a presidente da federação espera que os custos sejam suportados por seguradoras, Scott Shollenbarger diz que "pode ser insuficiente" para cobrir todas as possíveis despesas com os vários casos.

John Manly, advogado cuja firma representa cerca de 150 das alegadas vítimas de Larry Nassar (preso há mais de dois anos) critica a medida da federação: "Isto vai suspender todos os processos das vítimas e os seus contínuos esforços para descobrir a verdade sobre quem, na federação e no Comité Olímpico dos EUA, sabia da conduta criminal de Nassar e não a conseguiu parar".

O Comité Olímpico dos EUA, que também foi processado por várias vítimas, apresentou uma queixa no mês de novembro para tentar remover da Federação de Ginástica dos EUA o estatuto de órgão regulador desse desporto. Com a declaração de falência da federação este processo é também parado por enquanto, explicou uma advogada da USA Gymnastics.

Larry Nassar foi sentenciado, em dois julgamentos diferentes, a penas que podem ir até aos 300 anos de cadeia, depois do testemunho de mais de 350 mulheres que afirmaram ter sido abusadas sexualmente pelo ex-médico da seleção norte-americana de ginástica.

O escândalo, que veio a público em 2015, levou a uma demissão em bloco dos responsáveis federativos, bem como do presidente e diretor atlético da Universidade de Michigan State, onde Nassar também trabalhava. A escola chegou a acordo com as vítimas no início de 2018, numa solução que envolve 500 milhões de dólares (cerca de 440 milhões de dólares).

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