A prova rainha do futebol português todos os anos coroa um rei, que este ano dá pelo nome de FC Porto. Os portistas venceram o Tondela (3-1), no regresso da final da Taça de Portugal ao Jamor, após dois anos de ausência devido à pandemia, e conquistaram a 9.ª dobradinha da história, uma semana depois de receberam o troféu de campeões nacionais. É a 18.ª taça da história azul e branca, que assim ultrapassa o Sporting (17) e passa a ser a segunda equipa mais titulada, só atrás do Benfica (26)..Tem o apelido de rainha e de prova mais democrática do futebol nacional por dar esperança e oportunidade a qualquer clube, seja grande ou pequeno, mas a verdade é que esta rainha tem ares de diva e tem coroado os três grandes. Benfica, FC Porto e Sporting reúnem agora 62 das 82 taças da história. E como se não bastasse lutar contra a história, os beirões tinham também de jogar com os novos campeões. .Tentaram, mas não o conseguiram. O Tondela entrou derrotado em campo. Não queria, mas entrou. Era preciso mais força anímica, aquela que o desfecho do campeonato lhes roubou ao condená-los à descida de divisão antes do jogo mais importante da sua história. Em campo a diferença entre o valor de uma equipa que acabou de ser campeã para uma que desceu de divisão sentiu-se desde o primeiro minuto e traduziu-se num jogo de sentido único (74% de posse de bola para os dragões)..Nuno Campos efetuou três alterações no onze titular (3x4x3) em relação ao jogo que ditou a descida de divisão - saíram Pedro Trigueira, Manu Hernando e Juan Manuel Boselli e entraram Babacar Niasse, Marcelo Alves e Daniel dos Anjos -, enquanto Sérgio Conceição só mudou uma peça (4x4x2). Marchesín manteve a titularidade, mas não teve que fazer. Até ao minuto 15 deram mais espetáculo os adeptos nas bancadas do que as equipas em campo. Exceção para a ilusão de golo criada por Pepê aos 14 minutos, mas o lance anulado por fora de jogo. Um minuto depois o VAR descortinou uma mão na bola na área e chamou Rui Costa a ver o lance... e após uma longa espera de cinco minutos o penálti foi confirmado e Taremi foi à marca dos 11 metros fazer o 1-0 para o FC Porto. Resultado que se manteve até ao intervalo..A segunda parte foi mais emotiva. Um golo de desvantagem dava alguma esperança ao Tondela e deveria ter servido de aviso para o FC Porto, que iria sofrer um golo de bola parada... e para Pepê em especial, que aos 49 minutos só tinha de encostar para o 2-0, mas encostou direito ao corpo de Niasse para desespero do próprio e dos adeptos..Quem não perdoou foi Vitinha. Com toda a calma do mundo, mas também com a pressa típica da juventude, o médio quis resolver a questão da entrega do troféu cedo e lançou a festa nas bancadas quando ainda faltava mais de meia de hora para o fim do jogo. Os adeptos não sentiam o perigo vindo da Beira Alta e rapidamente começaram a cantar : "Oh, oh, oh, lá, lá, lá, eh, eh, eh, vinde pra festa olé. "Oh, oh, oh, lá, lá, lá, eh, eh, eh, vinde pra festa olé...".E assim que Rui Costa - despediu-se da arbitragem, por limite de idade - assinalou mais uma grande penalidade a favor dos dragões os adeptos pediram que fosse Zaidu a marcar. Queriam agradecer-lhe o golo marcado ao Benfica que lhes permitiu festejar o título na Luz, festejando de novo com ele no Jamor, mas Sérgio não lhes deu ouvidos e manteve a escolha em Taremi, que falhou! O iraniano iria redimir-se, mas só depois do Tondela marcar aquele que seria o golo e honra. Aos 73 minutos, na marcação de um lançamento lateral, Salvador Agra descobriu Neto Borges na área e surpreendeu a defesa portista, deixando Marchesín com ar de quem podia ter feito melhor..A resposta portista foi imediata e não deu sequer tempo a qualquer esperança beirã no empate. Num lance que exemplifica na perfeição a pressão alta portista na perfeição, Marko Grujic conseguiu mais uma recuperação de bola, que culminou no golo de Mehdi Taremi, após um grande passe de Otávio..O iraniano saiu depois para os aplausos merecidos e com direito a abraço de Sérgio Conceição. Afinal acabou por ser eleito o homem do jogo, que permitiu aoFC Porto voltou a festejar a conquista da Taça de Portugal no Estádio Nacional do Jamor (a última conquista acontecera em Coimbra) 11 anos depois. Os dragões conseguiram a cereja para o topo de um grande bolo que foi a temporada de 2021-22 e juntaram a Taça ao campeonato, celebrando a tão desejada dobradinha..Assim que acabou o jogo começou o desfile dos campeões. Primeiro deram uma volta ao Estádio Nacional a saudar os adeptos, depois passaram pela guarda de honra beirã antes de subir a escadaria que os levaria até à Taça de Portugal. Diogo Costa foi a abrir caminho, Taremi foi ovacionado e precisou de segurança para se proteger da proximidade dos adeptos, que deram o preço do bilhete por barato ao terem lugar de plateia para o desfile a milímetros dos jogadores. Zaidu viu o seu nome cantado mais uma vez..Pepe e Sérgio Conceição fecharam o desfile. O capitão levantou o troféu aos 39 anos, tornando-se o jogador de campo mais velho a consegui-lo em 87 anos! E o treinador conseguiu a segunda dobradinha em três anos, tornando-se o único treinador com duas dobradinhas de dragão ao peito. Com a conquista de mais uma taça o técnico passou a ter sete títulos no total, estando a um de igualar Artur Jorge como o mais titulado da história portista. "Eu estou sempre presente. Nos bons e nos mais maus momentos. Mas fiz questão de estar ali para também aparecer na fotografia. Foi um bocado por aí", assim explicou o técnico a ida à tribuna do Estádio Nacional para levantar a segunda Taça de Portugal da carreira..Twittertwitter1528457306584784902.isaura.almeida@dn.pt