Família portuguesa deportada do Canadá para Portugal, país que nunca conheceu

Uma família portuguesa que ruma a Portugal - país onde "não conhece ninguém" e onde tenta recomeçar "uma nova vida" - depois de terem sido deportados do Canadá, onde a sua estadia foi marcada por recusas atrás de recusas.
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Família portuguesa vai ser deportada do Canadá para Portugal, para um país que nunca conheceu, na próxima segunda-feira, segundo a agência Lusa que falou com um dos elementos do agregado familiar.

Luiz António Rodrigues Bonito, o pai de 56 anos, Sandra Suarez de Rodrigues, a mãe de 51, e a filha Ana Sofia, de 11 anos, vivem no Canadá desde 2015 e são oriundos da Venezuela. Mas no dia 18 de fevereiro, após os vistos de residência permanente lhe terem sido recusados por várias ocasiões, vão ser deportados.

"Eu a minha esposa (Sandra) e a minha (Ana Sofia) vamos ser deportados para Portugal. O avião sai de Winnipeg (Manibota) às 15:00 (21:00 de Lisboa) e chegamos no dia seguinte, às 09:00 a Lisboa", disse Luiz Bonito à agência Lusa.

Mas não vão sozinhos. Na sua companhia vai também a sua mãe, Teresa Madalena, e a sua irmã Cristina Bonito, que possuem a residência permanente, mas que também seguem caminho para Portugal porque não querem ficar desamparadas no Canadá.

Luiz Bonito, filho de emigrantes da Madeira no Brasil, nasceu em S. Paulo, mas aos 17 anos mudou-se para a Venezuela, país onde passou três décadas da sua vida. Foi um assalto à sua residência e um roubo ao seu estabelecimento comercial em 2014 que fez a família mudar-se para Winnipeg, em 2015, mas só com um visto de turista.

"Nunca estivemos na Madeira, os meus pais nasceram lá. Tenho lá uma tia, já com idade avançada, e alguns primos que nunca conheci. Já lhes pedi ajuda, mas disseram-me que também têm dificuldades financeiras e a Madeira também passa por dificuldades", contou.

A sua estadia no Canadá foi marcada por recusas atrás de recusas.

Luiz António Rodrigues Bonito, após ter-lhe sido recusado o visto para o Programa de Trabalhadores Qualificados do Canadá, pediu o visto para o Programa Provincial de Nomeação do Manitoba, mas também não teve sorte. Em 2017, o português tentou ainda candidatar-se ao estatuto de compaixão e humanitário, mas foi também recusado.

Sandra Suarez de Rodrigues, a mãe da família, candidatou-se ao estatuto de refugiada, mas foi-lhe recusado, tendo o tribunal canadiano alegado que como Luiz Bonito é cidadão português "também podem residir em Portugal".

Contactaram o governo português e os serviços diplomáticos portugueses. "Após contacto com o Governo Português, disseram-me que temos de ir diretamente para Lisboa, para resolver a situação do estatuto da minha esposa em Portugal. Tive de adquirir novas passagens, agora para Lisboa, onde vou permanecer", lamentou o emigrante.

O país onde a família "não conhece ninguém" e onde tentam recomeçar "uma nova vida" vai ser Portugal e a principal razão desse destino prende-se no facto de "tanto o Brasil como a Venezuela" não serem países seguros, com uma elevada taxa de criminalidade.

A Lusa contactou ainda a Agência de Serviços de Fronteiras (CBSA, sigla em inglês) canadiana, mas esta não quis comentar o caso. Uma fonte do organismo limitou-se a referir que as "decisões de deportar pessoas do Canadá não são tomadas facilmente".

"Todas as pessoas deportadas do Canadá podem recorrer do processo. Só após terem esgotado todas as hipóteses legais, é que se espera que cumpram as nossas leis e abandonem o país ou que sejam deportados", referiu a fonte da entidade canadiana.

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