A família Correia - Hernâni, o pai, Rute, a mãe, e Pedro, o filho - foi expulsa do Canadá a 5 de janeiro, por não ter conseguido obter a residência legal, apesar de trabalharem no país, pagarem os impostos e estarem perfeitamente integrados. Falta-lhes o domínio da língua inglesa para conseguirem a regularização como trabalhadores qualificados. Viviam em Toronto..Estiveram dois meses em Lisboa, a residir na casa de familiares na Amadora, mas como não encontraram um trabalho compatível com as despesas que mantêm no Canadá, voltaram a emigrar, na última sexta-feira, desta vez, para o Reino Unido, para a casa de uma amiga em Manchester..Pedida nova documentação.Esperavam, assim, completar um ano antes de regressarem ao Canadá, o período de tempo em que não podem voltar ao país depois de uma deportação, isto nos casos em que cumprem a ordem de saída. Mas, nesta semana, receberam a notícia de que a situação da família estava a ser reavaliada.."A admissibilidade implica o envio de certidão médica, registo criminal, documentos da Segurança Social, das finanças e de identidade de cada potencial imigrante, bem como dos seus familiares", refere a carta dos serviços de imigração do Canadá. Pedem para enviarem a documentação para ser analisada antes de tomarem a decisão final.."O advogado ficou sem palavras, disse que essa resposta da imigração é muito positiva, que, quando pedem exames médicos, os dados biométricos do passaporte e os extratos bancários dos três últimos meses, é porque vão rever o processo e conceder a autorização de residência", explicou Hernâni Correia ao DN..O advogado é Richard Boraks, a cujo escritório chegou hoje o requerimento para realizarem os exames médicos, o que vão fazer num médico autorizado pelos serviços de imigração do Reino Unido. Têm, ainda, de enviar os extratos bancários dos últimos três meses e pagar 490 dólares (325 euros) para cada membro da família, que é a taxa cobrada pela residência permanente.."Através da reportagem do DN conseguimos sensibilizar não só os representantes do governo português mas também o governo canadiano para a situação dos imigrantes portugueses no Canadá", acredita Hernâni Correia. O texto foi publicado nesta terça-feira..O DN pediu informação aos serviços de imigração canadianos sobre as deportações de estrangeiros, em particular dos portugueses. O primeiro contacto foi para a Embaixada do Canadá, em Lisboa, a 20 de fevereiro, que remeteu as perguntas ao governo federal do Canadá, uma vez que não têm cá um gabinete de imigração. Os residentes em Portugal que queiram emigrar têm de o fazer através do consulado canadiano em Paris. As respostas chegaram no dia 5 de março..Jayden Robertson, porta-voz da Agência dos Serviços de Fronteiras do Canadá (CBSA), disse, até 26 de fevereiro, que 21 portugueses foram obrigados a deixar o Canadá e outros 22 têm de o fazer a curto prazo. A totalidade de deportações nessa data era de 1318, a que se juntam mais 4021 com ordem de saída. E, segundo Manuel Alexandre, presidente da Comissão de Trabalhadores Indocumentados, o governo canadiano prometeu deportar 5900 imigrantes irregulares no primeiro trimestre de 2019..O funcionário do governo do Canadá explicava que este é um processo em transformação e que, a qualquer altura, poderiam surgir impedimentos ou novos dados para a decisão ser revista..O que já é difícil de acontecer é reavaliar uma decisão pouco tempo depois de ser cumprida a ordem de expulsão, explicaram do escritório de Richard Boraks, o advogado da família Correia, bem como de outros imigrantes irregulares. Representam 240 famílias, sobretudo brasileiros, italianos, portugueses e polacos..Estão na base da constituição da Comissão de Trabalhadores Indocumentados, que apresentou queixa contra o governo do Canadá por considerarem que têm direito a regularizar a sua situação, uma vez que têm trabalho, pagam impostos e estão completamente integrados na sociedade canadiense. Esta quinta-feira vão reunir-se com representantes do Partido Conservador, a principal oposição ao Partido Liberal de Justin Trudeau, o primeiro-ministro..Substituir inglês por competências.Há três ramos de atividade em que o Canadá precisa de trabalhadores qualificados: alimentação, construção e mecânica. O que os indocumentados pedem é que as suas aptidões profissionais substituam o exame de inglês. É um exame muito exigente, 90% das pessoas não passam. Houve um estudo que demonstrou que uma a criança que ande no 6.º ano na escola canadiana não consegue fazer esse exame", sublinha Alzira Lima, assistente de Richard Baraks..O secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, disse ao DN que na reunião que teve com o ministro da Imigração do Canadá, Ahmed Hussen, este referiu que estava em debate a possibilidade de valorizar mais a dimensão das competências profissionais dos cidadãos e menos a vertente linguística (domínio do inglês)..Hernâni Correia, de 43 anos, emigrou em 2011, em plena crise em Portugal, com um contrato de dois anos e visto para trabalhar como chefe de cozinha no restaurante Bom Apetite, propriedade de uma tia. E contratou logo um advogado para regularizar a sua situação. Rute, de 38 anos, a mulher, e o Pedro, de 21 anos, o filho, juntaram-se-lhe pouco tempo depois. Rute arranjou emprego numa padaria alemã, onde agora era supervisora.Hernâni criou, depois, a sua empresa de remodelação de interiores (construção), Sebastian Renovation, e Rute manteve-se na padaria (alimentação), dois ramos de atividade enquadrados nas necessidades de mão-de-obra que o Canadá precisa.