Os herdeiros do antigo bispo de Lamego D. Américo Oliveira vão avançar com uma queixa-crime contra o actual bispo da diocese, D. Jacinto Botelho, por recusar entregar a herança à família, foi hoje anunciado. ."Já demos indicações ao nosso advogado para avançar com uma queixa-crime contra D. Jacinto Botelho, o actual bispo de Lamego, enquanto responsável máximo pela diocese que se recusa a entregar aos herdeiros a herança deixada por D. Américo Couto Oliveira, antigo bispo diocesano", disse à agência Lusa Américo Gomes, um dos sete herdeiros do bispo falecido em 1998..Há onze anos que os herdeiros do antigo bispo de Lamego tentam, sem êxito, recuperar a herança a que dizem ter direito após a morte de D. Américo Couto Oliveira..Natural de Vila das Aves, em Santo Tirso, o bispo apenas esteve cinco anos na diocese de Lamego..Quando faleceu, não deixou testamento mas, numa carta supostamente escrita três dias antes da morte manifestava a vontade de doar os bens ao seminário de Lamego e a uma ordem religiosa, referiu o porta-voz da família.."Existe uma carta escrita pelo nosso tio a fazer algumas doações mas, em nenhum ponto, excluiu a família da herança. Além de que uma carta não é um testamento", salientou Américo Gomes..Em causa estão quatro contas bancárias de que o antigo bispo de Lamego era titular.."Uma conta era na Caixa Geral de Depósitos e o dinheiro lá existente, depois de muitas peripécias, ficou para os sobrinhos", disse.."As outras três contas estavam no Istitute per Opere Religiosi, na cidade do Vaticano, uma em liras, outra em marcos e uma outra em dólares", acrescentou. .São estes depósitos o principal motivo de desentendimento entre a diocese e os familiares do bispo.."Pela nossa parte, está tudo resolvido. O dinheiro foi entregue tal como D. Américo Oliveira indicou e, com excepção de uns livros religiosos, não temos mais nada para entregar aos herdeiros", explicou à Lusa Joaquim Dias Rebelo, vigário-geral da Diocese de Lamego.."As únicas coisas que nos entregaram do nosso tio foram roupas e calçado", afirmou Américo Gomes..Desaparecidos estão ainda objectos como relógios, pratas e cristais que a família consegue descrever "ao pormenor" depois das muitas vezes em que viu o tio usar as prendas oferecidas por amigos.."O antigo vigário-geral da diocese de Lamego, Monsenhor Eduardo Russo, já falecido, disse-nos que D. Américo tinha dado tudo. Como é que o nosso tio fez isso se ele morreu de repente?", questionou o sobrinho.."Como recebemos contas para pagar, seguros, cartas da segurança social por causa do reembolso da reforma e tivemos outras despesas variadas, fomos considerados herdeiros nas dívidas mas já não temos direito a herdar os bens existentes", frisou a mesma fonte..Sem acordo com a diocese, os sete herdeiros vão avançar para tribunal numa tentativa de conseguir reaver o espólio de D. Américo Oliveira.."A diocese faz o que tiver que fazer, é verdade que não há um testamento formal mas existe um documento onde o senhor bispo deixou indicações claras sobre o que fazer com os seus bens", disse o vigário-geral de Lamego.."Os sobrinhos já levantaram o dinheiro que havia na Caixa Geral de Depósitos e levaram o que quiseram do tio. Não temos mais nada para entregar", adiantou..Os herdeiros não partilham da mesma opinião e acusam o responsável pela diocese de Lamego de usar como legal e definitiva uma carta que "no máximo, pode ter algum valor sentimental".."O nosso tio já era uma pessoa com bens consideráveis antes de ser bispo e nós só queremos que nos seja entregue a parte que pertence à família", concluiu Américo Gomes..EYM..Lusa/Fim