Faltou o rei no Parque dos Príncipes

Cristiano Ronaldo falhou um penálti a 12 minutos do fim, num jogo em que Portugal teve a bola e as oportunidades. Mas voltou a não ganhar e agora tem uma final pela frente, contra a Hungria
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Outro empate, desta vez a zero, foi o que a seleção conseguiu arranjar no segundo jogo deste Euro 2016. No Parque dos Príncipes, em Paris, faltou o rei, porque Cristiano Ronaldo falhou um penálti já no quarto de hora final que teria sido decisivo.

Ao fim de duas jornadas, Portugal tem dois pontos e está em terceiro atrás de Hungria e Islândia, que empataram. Portugal tem tudo para se qualificar e ser primeiro, o que deve obrigar a jogar com a Bélgica; e o segundo lugar até é melhor, pois dá para defrontar Gales ou Eslováquia, se calhar. Mas agora joga com a Hungria uma final na última jornada deste grupo F, o que é sempre um problema bicudo, embora os jogadores se mostrem confiantes, o que é bom sinal.

Mas essas são outras contas e não foi por isso que CR7 atirou o penálti ao poste ou Nani acertou também no poste na primeira parte. Faltou marcar um golo e, como de costume, vamos ter de fazer contas no fim. O futebol é muitas vezes assim: 59 por cento de posse de bola, 23-3 em remates, 10-0 em cantos e chegar ao fim a zero. Houve pressão intensa, soluções variadas, a equipa melhorou mas... Dois jogos e um golo é o inelutável saldo, com dois pontos.

Duas mudanças

Finalmente, houve apenas duas alterações na equipa: William Carvalho e Ricardo Quaresma em vez de Danilo e João Mário. André Gomes teve de jogar numa posição mais central, Quaresma mais à direita, Ronaldo e Nani trocavam entre o meio e a esquerda. A Áustria deixou o ex-portista Janko de fora, puxando Harnik para ponta-de-lança e Alaba para uma espécie de n.º 10, mas na prática a equipa defendeu muito, não conseguiu ter a bola muito tempo e acabou por estar em 4-5-1 a explorar o contra-ataque e bolas paradas. Uma delas, a acabar a primeira parte, um livre quase na linha de fundo de Alaba, foi salva por Vieirinha na linha de golo.

Mas a tendência do jogo era portuguesa: Nani isolado na esquerda permitiu a defesa de Almer (12"); dez minutos depois Ronaldo, ao primeiro poste, chutou ao lado um cruzamento de Raphael Guerreiro, que tinha feito um belo "2-1" com Nani; este mesmo Nani, de cabeça, ao poste após canto (29"); Ronaldo rematou fraco após canto (38").

Era um domínio constante, com 60 por cento de posse, cantos e remates sem fim, e um jogo bastante harmonioso, com boa nota artística. A Áustria defendia, sem marcações individuais mas com muitas faltas. E o árbitro italiano Rizzoli tinha dado mais amarelos a Portugal - um a Quaresma por este ter protestado em italiano vernáculo, se bem li os lábios. Não foi uma boa gestão disciplinar: Baumgartlinger pisou duas vezes Moutinho e não viu nada de mais o juiz italiano. Viu bem depois o penálti, ou melhor, a equipa ajudou-o bem, porque Hinteregger agarrou Ronaldo, que se preparava para o cruzamento de Guerreiro.

Primeira parte melhor

Tal como no jogo com a Islândia, a primeira parte foi melhor do que a segunda para a seleção portuguesa, mas o domínio territorial foi idêntico. João Moutinho fez um bom jogo a comandar o meio--campo, Guerreiro foi isso, um guerreiro, faltou sobretudo CR7, que até o penálti falhou, acertando no poste com o guarda-redes a cair para o outro lado. Ainda se gritou golo mais tarde, mas Ronaldo estava em claro fora-de-jogo.

Uma equipa assim não pode ficar fora dos oitavos-de-final, porque tem qualidade. Ontem, houve boas marcações, capacidade para ter a bola e a ideia de que se tivesse havido um golo desbloqueava as coisas. Mas não houve. É difícil encontrar defeitos na exibição a não ser no remate - e também faltou qualquer coisa a um meio-campo em que André Gomes foi sempre um pouco lento, perdendo algumas situações por isso mesmo.

O que se voltou a ver é que é difícil ganhar estes jogos sem um ponta-de-lança, mas Fernando Santos voltou a só fazer a primeira substituição nos últimos 20 minutos. Saiu Quaresma e entrou João Mário, mostrando que os tais 23 titulares são menos (há diferentes níveis de hierarquia). Éder e Rafa também entraram, mas não se pode pedir a estes o que não faz Ronaldo, que falhou quando não podia falhar. Mas o extraterrestre tem dias em que afinal é humano...

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