Falso piloto de aviões julgado por burlar seis mulheres
Segundo os despachos de acusação e de pronúncia, a que agência Lusa teve acesso, o arguido, de 57 anos, após "selecionar" as vítimas, algumas que conheceu através de salas de conversação na Internet, apresentava-se como "piloto de companhias aéreas comerciais e ex-piloto militar", conseguindo "criar nas ofendidas a ilusão de uma relação amorosa, levando-as a entregar avultadas quantias em dinheiro e objetos valiosos".
Desde, pelo menos, 2008, o homem terá burlado seis mulheres, com recurso "a identidade, estilos de vida e documentos falsos", tendo contado com a cumplicidade da ex-companheira, acusada de coautoria nos seis crimes de burla, pela intervenção no esquema fraudulento e em toda a encenação criada.
Segundo a acusação, o arguido apresentava-se às mulheres "trajado a rigor, com fardamento típico de pilotos das linhas comerciais, respetiva mala de bordo, insígnias e outros acessórios relacionados com a aviação", dizendo que era de "boas famílias, com brasão".
Apresentava ainda documentos falsos, como a licença de tripulante de aeronaves e um diploma do curso de engenharia mecânica que, alegadamente, tirou no Brasil.
Assim, sustenta o MP, o arguido, através de um "embuste" e de uma forma "astuta, minuciosa e ardilosa, encarnando personagens com identidades e costumes de vida falsos", levou as mulheres a acreditarem que era piloto com posses, e que pretendia encetar uma relação amorosa com elas.
"Quando o arguido já tinha obtido o enriquecimento pretendido e não era possível manter a fraude por si criada, punha fim à relação amorosa de forma repentina e inesperada, e passava à vítima seguinte. Recorreu à pressão psicológica e, nalguns casos, a agressões físicas, para que as vítimas terminassem o relacionamento", explica a acusação.
A ex-companheira chegou a "encontrar-se socialmente com algumas das vítimas, apresentando-se como magistrada/juíza do Tribunal da Relação de Lisboa, facto que era confirmado pelo arguido junto das mulheres".
Em consequência dos "comportamentos criminosos", o homem conseguiu depositar milhares de euros, retirados às vítimas, na conta da arguida e presumível cúmplice. O homem terá lesado as ofendidas em, pelo menos, 60 mil euros em dinheiro, além de lhes ter retirado bens materiais, como ouro, móveis e talheres de prata, entre outros objetos. Num dos casos terá roubado 12 anéis em ouro no valor de 24 mil euros, explica o despacho de acusação.
Quando foi detido, o arguido identificou-se aos inspetores da Polícia Judiciária como piloto de linha aérea comercial, conhecido por "Comandante Perestrelo". Durante as buscas foram apreendidos dois veículos e diversos objetos alusivos à aviação - nomeadamente fardamento diverso, capacetes de piloto, malas, fotos, crachás e coleções de aviões.
A acusação acrescenta que o arguido "não efetua descontos para a Segurança Social desde fevereiro de 2000" e que recebeu "Rendimento Social de Inserção entre 2006 e 2010".
O homem está acusado de seis crimes de burla qualificada, um crime de falsificação de documentos autênticos, um crime de furto e um crime de dano. Encontra-se em prisão preventiva ao abrigo deste processo no Estabelecimento Prisional de Lisboa.
A ex-companheira vai ser julgada pela prática, em coautoria, de seis crimes de burla qualificada. A arguida está em liberdade, mas com pulseira eletrónica.
Os dois vão ser julgados por um tribunal de júri, estando arroladas 43 testemunhas.
O início do julgamento está agendado para quinta-feira às 09:15 no Tribunal de Benavente.