Europa. "Precisamos de colocar os jovens nos centros de decisão política"
Viver em casa dos pais aos 33,6 anos é uma realidade em Portugal. Os jovens portugueses são mesmo os que mais tarde saem de casa dos pais, segundo dados do Eurostat divulgados este mês. Isto representa praticamente mais sete anos do que a média da União Europeia (UE): 26,5 anos no caso dos homens. Se forem mulheres, a média desce um ano. No outro lado do espetro está a Suécia, país onde, em média, os jovens alcançam a independência com 19 anos.
A questão da emancipação dos jovens não é nova. Em maio de 2018 (um ano antes das últimas Europeias), foi publicada no jornal oficial da UE a Estratégia Europeia para a Juventude, um plano delineado pela Comissão Europeia (CE) com o objetivo de, entre 2019 e 2027, dar aos jovens melhores perspetivas para o seu futuro. No documento, a CE reconhecia as dificuldades que os jovens europeus sentiam ao tentar emancipar-se, serem "arquitetos das suas próprias vidas, apoiar o seu desenvolvimento pessoal e crescimento no sentido da autonomia". A questão não se resolveu e agora com a crise económica crescente em consequência da guerra na Ucrânia, mais difícil parece dar aos jovens a autonomia que desejam.
Aos 25 anos, Manuel Faria, natural da Ribeira Grande, nos Açores, diz ser necessário "uma política efetiva em certos campos, como a criação de emprego jovem. Só assim é que nos podemos emancipar" até porque "a União Europeia tem muito espaço para mudanças nas políticas de juventude".
Em setembro de 2021, o Conselho e o Parlamento Europeu acordaram que este ano seria de homenagem aos jovens, honrar "os esforços empreendidos para superarem as dificuldades causadas pela covid-19".
Por isso, iniciativas como o Summer CEmp ganham destaque, permitindo aos jovens juntar-se aos decisores políticos (e não só) para discutirem temas ligados à União Europeia e à vida comunitária. Para a representante da Comissão Europeia em Portugal há que olhar para os jovens e e ter no "contexto da UE, uma economia para as pessoas, como é o exemplo do programa NextGeneration EU".
"2022 é o Ano Europeu da Juventude para que os jovens possam recuperar dos impactos da pandemia e, além disso, há que pensar como encarar os custos da covid-19 e da guerra e como se podem ultrapassar", diz Sofia Moreira de Sousa.
No Summer CEmp, revela Sofia Moreira de Sousa, "uma das atividades deste ano é colocar os jovens na pele de Ursula von der Leyen [presidente da Comissão Europeia]", fazer com que "os participantes se imaginem a escrever o discurso da presidente. Comunicar é importante e ao escreverem os discursos, podem plasmar as suas preocupações", refere.
Outro dos rostos presentes na iniciativa é Mónica Ferro, diretora do escritório em Genebra do Fundo das Nações Unidas para a População, que coloca outros temas na equação: "Do que conheço, os jovens a nível europeu também se preocupam muito com questões de refugiados, migrações ou a saúde sexual e direitos reprodutivos, por exemplo".
Nas últimas eleições Europeias, em 2019, a abstenção em Portugal que ficou cifrada nos 69,27% teve entre os eleitores na faixa etária 18/30 anos o maior valor de abstencionistas.
A questão que se coloca é: como aproximar os jovens da política ou vice-versa? "Essa é a pergunta do milhão de dólares", considera Manuel Faria. "Um dos caminhos pode passar pela aposta em campanhas online e no digital", diz, mas "o essencial seria mesmo apostar na educação. A partir do sétimo ou do oitavo ano, podiam ser criadas disciplinas que permitam aos jovens perceber como funciona a União Europeia. Dizer-lhes o que é a Esquerda, a Direita e quais as organizações e estruturas políticas".
Para o jovem de 25 anos, as faixas etárias mais novas "terão de ser chamadas a participar e colocadas nos centros de decisão política". Como? "Com políticas ambientais fortes e vincadas, por exemplo, e que acabem por responder às necessidades dos jovens no contexto europeu e também global. Há que pensar em como assegurar, por exemplo, uma menor dependência energética, porque, como se viu recentemente, estamos muito dependentes do gás russo e o futuro pode não estar garantido". Mas deixa a ressalva: "Com a globalização, todos dependem uns dos outros."
Para Mónica Ferro, é também importante mostrar aos jovens a importância de ir às urnas : "A participação pelo voto é o mais importante e só assim se podem envolver nas questões da UE."
Na ótica de Sofia Moreira de Sousa, iniciativas como o Summer CEmp, ajudam, porque "tentamos envolver os jovens para participar e fazê-los sentir que são parte da União Europeia".
"Precisamos proteger o planeta, precisamos de uma economia que responda aos seus anseios e é precisamente por isso que 2022 [Ano Europeu da Juventude] é importante", defende.
Para a representante da Comissão Europeia em Portugal é necessário que as estruturas comunitárias coloquem mais os jovens no centro da decisão.
33,6: Os jovens portugueses são os que mais tarde saem de casa dos pais (33,6 anos), a nível europeu. A média está nos 26,5. A Suécia é onde se sai mais cedo, em média 19 anos.
28%: Em Portugal, 28% dos jovens entre os 20 e 24 anos têm um curso superior. A média europeia está nos 18,6%. No topo dos dados está a França (35,8%) e no fundo a Finlândia com 5,2%.
40,2%: Só 40,2% dos jovens portugueses entre os 20 e os 24 anos é que têm emprego. A média europeia é 50,6%. São os Países Baixos a ter a maior percentagem de emprego jovem (77,9%).
99%: Em Portugal, a faixa etária entre os 20 e 24 anos é das que mais utiliza a internet na Europa - está, inclusive, acima da média da União Europeia (95%). Os jovens búlgaros são os que menos usam tecnologia (91%).
9,1%: Segundo dados do INE, divulgados em maio, a taxa de jovens que não estudam, trabalham ou frequentam formação profissional estava nos 9,1%. Uma redução de 3,3 pontos percentuais face a 2021.
rui.godinho@dn.pt