Europa aposta num confinamento light

Epicentro da pandemia neste momento, a Europa, que já contabilizou dez milhões de casos e 275 mil mortes, está a tentar travar a segunda vaga de covid-19, pior do que a primeira. São vários os países que estão a optar por voltar a confinar, mas não de forma tão extrema como fizeram em março, procurando ao máximo proteger a economia. Fora do Velho Continente, os EUA continuam a liderar a lista de negra de casos e mortes, mas os números também estão a subir na Rússia.
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O recolher obrigatório não funcionou e, por isso, os franceses voltaram a estar confinados nesta sexta-feira, durante pelo menos um mês. "Tal como em toda a Europa, estamos assoberbados por uma segunda vaga que irá provavelmente ser mais difícil e mortal do que a primeira", avisou o presidente francês, Emmanuel Macron. Mas o novo confinamento é feito em moldes diferentes dos que existiram entre março e maio, para tentar evitar o impacto económico. Assim, as escolas e as creches vão continuar abertas, mas o comércio não essencial, incluindo bares e restaurantes, vai fechar. O teletrabalho é obrigatório para todos os casos em que isso é possível, mas as fábricas e o setor da construção continuam a funcionar. O Estado prevê gastar 15 mil milhões de euros por cada mês de confinamento em ajudas às empresas e aos trabalhadores. França já registou 36 020 mortes e 1,28 milhões de casos, numa média de 706 novos casos por cada cem mil habitantes nos últimos 14 dias (em Portugal é de 382).

Os alemães também enfrentam uma versão light do confinamento a partir de segunda-feira, pelo menos até ao final do mês. Não estarão obrigados a ficar em casa, mas os bares, os cafés e os restaurantes vão fechar (exceto para takeaway), assim como ginásios, teatros, cinemas ou óperas. Além disso, os contactos sociais estão reduzidos a, no máximo, dois agregados familiares e dez pessoas. As escolas vão continuar abertas. A Alemanha está perto dos 500 mil casos (182 por cada cem mil habitantes nos últimos 14 dias), tendo registado na sexta-feira o número recorde de 18 681 novas infeções em 24 horas. E já vai em 10 349 mortes, mais 77 num só dia. "O inverno será difícil, quatro longos e difíceis meses, mas chegará ao fim", disse a chanceler Angela Merkel, no Parlamento alemão.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, conseguiu apoios suficientes no Congresso para prolongar o estado de alarme até 9 de maio (com uma revisão em março). Cada comunidade tem assim luz verde para impor as medidas que considera adequadas, tendo a maioria optado por cercas sanitárias de forma a restringir as deslocações, pelo menos durante este fim de semana (que inclui um feriado na segunda-feira). Há, contudo, alguns líderes regionais que já estão a pensar num confinamento domiciliário caso a situação não melhore, algo que o ministro da Saúde, Salvador Illa, descarta para já. O recolher obrigatório foi decretado entre as 23.00 e as 06.00. A Espanha foi o primeiro país europeu a ultrapassar o milhão de casos (já vai em 1 185 678), com um acumulado de 508 novas infeções por cem mil habitantes nos últimos 14 dias. Só nesta sexta-feira foram registados mais 25 595 contágios e mais 239 mortes, num total de 35 878 desde o início da pandemia.

No cenário europeu, os belgas são os que têm mais casos novos por cem mil habitantes nos últimos 14 dias: 1600. Os hospitais já estão numa situação pior do que na primeira vaga, com os especialistas a avisar que na próxima semana será alcançado o número de dois mil doentes nos cuidados intensivos (o máximo que estava previsto). Desde o início da pandemia, já foram diagnosticados quase 400 mil casos, havendo registo de mais de 11 mil mortos. Um novo confinamento está a ser estudado pelas autoridades, mas cafés, restaurantes, clubes desportivos e instituições culturais já estão fechados. O teletrabalho deverá passar a ser obrigatório e as escolas só devem reabrir em meados de novembro. Não será permitido receber visitas em casa.

Primeiro país europeu a ser atingido pela pandemia, em fevereiro, a Itália registou um recorde de novos casos de covid-19 nesta sexta-feira. Foram mais 31 084 infeções em 24 horas, tendo morrido 199 pessoas no mesmo período. As autoridades italianas dizem que o país está à beira de um novo confinamento, com 11 regiões quase numa situação de risco 4 e outras quatro já nesse patamar - no qual o confinamento é aplicado. Itália, que está em estado de emergência até pelo menos finais de janeiro, registou 389 novos casos por cada cem mil habitantes nos últimos 14 dias.

O norte de Inglaterra continua a ser uma das regiões mais afetadas pela segunda vaga e, a partir de segunda-feira, mais 2,4 milhões de pessoas residentes em cinco distritos de West Yorkshire, incluindo a cidade de Leeds, entram no nível mais grave da pandemia e serão proibidos de socializar com outros agregados familiares dentro de casa. Os pubs e os bares que não sirvam "refeições substanciais" têm de fechar, tal como casinos e outros locais de jogo. No total, 11 milhões de ingleses (um quinto da população) estão nesta situação. Nos outros países do Reino Unido, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, já foram implementados confinamentos parciais para tentar conter o coronavírus. O Reino Unido registou, nesta sexta-feira, mais 274 mortes de covid-19 em 24 horas (num total de 46 229 desde o início da pandemia, e 24 405 novas infeções. Nos últimos 14 dias, foram 437 infeções por cada cem mil habitantes.

Na contagem decrescente para as presidenciais de 3 de novembro, os EUA estão a bater os recordes de novos casos. Na quinta-feira, foi ultrapassada pela primeira vez a marca dos 90 mil casos em 24 horas, mais precisamente 91 290, sendo contabilizadas mais 1021 mortes. Desde o início da pandemia, já morreram 228 625 pessoas e há registo de 8,94 milhões de casos - incluindo o próprio presidente Donald Trump, cujos comícios continuam a reunir centenas de pessoas sem distanciamento físico nem máscara. A região central dos EUA parecer ser agora a mais afetada.

O pico de novos casos diários foi atingido em meados de setembro, mas com 8 088 851 infeções acumuladas, a Índia é o segundo país do mundo com mais casos desde o início da pandemia a seguir aos Estados Unidos. Na sexta-feira foram registadas mais 563 mortes por covid-19 (já são mais de 121 mil) e 48 648 novos casos, cerca de metade do contabilizado no pior dia de setembro. Apesar de a nível nacional os números estarem a cair, na capital, Nova Deli, estão a aumentar, com mais de 30 mil casos ativos na cidade.

Apesar de também estar abaixo dos máximos de infeções registados em julho, o Brasil somou 513 mortos e 26 106 novos casos de covid-19 na quinta-feira, totalizando 158 969 óbitos e aproximando-se das 5,5 milhões de infeções. Os especialistas dizem que o país ainda não saiu da primeira vaga, tendo estabilizado em valores ainda considerados muito elevados - depois de meses com mil mortos por dia, agora rondam os 500. Ao contrário da Europa, que teve uma queda abrupta de números após o primeiro pico, no Brasil não houve um confinamento tão radical e o baixo número de testes também dificulta o controlo da doença.

O recorde de novas infeções diárias foi batido, pelo segundo dia consecutivo, nesta sexta-feira: foram mais 18 283 casos em 24 horas, 5268 dos quais em Moscovo, principal foco de infeção. Foram ainda registadas 355 mortes ligadas à covid-19, elevando para 27 656 as vítimas mortais no país desde o início da pandemia. Apesar de o número de infeções diárias ter quase triplicado nas últimas semanas, as autoridades russas não querem adotar medidas drásticas como um confinamento nacional, o recolher obrigatório ou a paragem de setores económicos. Em Moscovo, há ordem para 30% dos trabalhadores ficarem em teletrabalho, se isso for possível, sendo pedido aos maiores de 65 anos e portadores de doenças crónicas que fiquem em casa. O uso de máscara obrigatório nos locais públicos de todo o país.

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