"Eu estaria em pânico se o PT ainda estivesse no poder"
Como foi este ano na sua vida pessoal e profissional depois de liderar, ao lado dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Junior, o grupo que propôs o impeachment e se ter tornado uma figura pública?
Foi um ano normal: continuei a dar as minhas aulas, trabalhando nos meus casos e orientando mestrandos e doutorandos.
Sente orgulho quando olha para o que se passou há um ano? Quando defendeu o impeachment da presidente, inclusivamente perante o plenário de 81 senadores, de forma apaixonada?
Orgulho não é a palavra que eu utilizaria. Sinto sobretudo alívio. Eu estaria em pânico se o PT ainda estivesse no poder, ainda para mais com o Nicolás Maduro mostrando as garras aqui na vizinha Venezuela.
Como avalia o governo de Michel Temer? Melhor, pior ou mais ou menos a mesma coisa quando comparado com o da ex-presidente Dilma Rousseff?
Não acho apropriado falar em melhor ou pior. Michel Temer [do Partido do Movimento Democrático Brasileiro], infelizmente, perdeu uma grande oportunidade de entrar na história mas o seu possível crime é mais ligado aos defeitos da velha política à brasileira. Os crimes de Dilma, embora menos visíveis, são mais perigosos. O PT desviou dinheiro público por meio de operações muito sofisticadas e falseou toda a contabilidade pública. Isso sem contar as alianças com ditaduras sanguinárias, que eles não se envergonharam de apoiar. Digo, com tranquilidade, que o PT consegue ser pior do que o muito mau.
Sentiu vontade de voltar a agir quando viu na televisão, como milhões de brasileiros, a cena em que Rodrigo Rocha Loures, o assessor especial do presidente da República Michel Temer, recebeu uma mala com 500 mil reais de um emissário do empresário corrupto Joesley Batista à saída de uma pizzaria em São Paulo?
Sim. Só não foi necessário eu pedir o impeachment de Michel Temer porque a Ordem dos Advogados do Brasil agiu imediatamente [o presidente da instituição Claudio Lamachia protocolou pedido de impeachment de Temer dias após o caso vir a público]. No caso da Dilma, um ano antes, ninguém tinha coragem de agir porque o PT é um partido muito forte entre os formadores de opinião no Brasil.
Pensa, tal como muita gente no Brasil, que a Operação Lava-Jato e outras iniciativas anticorrupção têm vindo a perder fôlego ao longo dos últimos meses?
Eu não acho que a luta contra a corrupção, nas suas mais variadas formas, tenha perdido força. Mas que acho que há um discurso orientado a anular tudo, sim, isso acho. E como há interessados em todos os partidos nesse discurso, fica mesmo a sensação no ar de que ele é tecnicamente correto. Note que os petistas [militantes do PT], que sempre odiaram o juiz Gilmar Mendes [membro do Supremo Tribunal Federal acusado pelo Ministério Público nos últimos meses de tentar barrar a Operação Lava-Jato] pararam de atacá-lo, estrategicamente.
Tenciona participar nas eleições presidenciais brasileiras do próximo ano? Em que circunstâncias o faria?
Em princípio, não quero participar da politica partidária.
Em São Paulo