Em entrevista ao DN na semana passada, Tiago Pires afirmou que você seria um dos surfistas mais novos que este ano se poderia juntar à luta pelo título nacional. Como se sente com esta afirmação?.É bom ouvir isso vindo do melhor surfista português de sempre. Há dois anos estive na luta pelo título mas depois afastei-me um pouco, concentrei-me mais em viagens e penso que isso me fez evoluir de uma maneira um bocado diferente e com o surf que estou a fazer acho que estou em condições de lutar pelo título nacional..Que tipo de treino anda a fazer?.Há três anos tinha tudo muito esquematizado entre treinos no ginásio e surf, mas confesso que não estava muito contente com os resultados e mudei por completo a forma de me preparar. Tenho passado muitas horas dentro de água e feito yoga e jiu-jitsu para complementar e a verdade é que me tenho sentido melhor do que nunca. Sinto-me muito mais preparado, mais flexível, com mais força, mais vontade de surfar e cada vez mais feliz..Está a ser acompanhado por Zé Seabra, que esteve ao lado de Tiago Pires durante 20 anos. O que tem aprendido com ele?.Estou com ele há quase um ano e o trabalho que começámos a fazer já está a dar frutos. É uma maneira bastante diferente de trabalhar que envolve mais o espírito do surf, uma abordagem bem menos mecânica..No final do ano passado passou um bom tempo a surfar no Havai, como foi a experiência?.Já lá tinha ido antes duas vezes, passar três semanas, mas sempre senti que não era tempo suficiente, por isso desta última vez peguei nas malas e estive lá quase três meses. Foi uma experiência que vou recordar para o resto da minha vida porque é um sítio intenso, as coisas não são fáceis lá. Não é como em Portugal que saímos de casa, temos a nossa pastelaria, vamos surfar na nossa praia e toda a gente nos deixa ir nas ondas e depois vamos ao cinema à noite. Lá temos os locais, muita gente, as ondas são pesadas e isso puxa por nós e faz-nos chegar a outro nível. Dediquei a maior parte do meu tempo à onda de Pipeline, foi sem dúvida um bom investimento e estou feliz por ter chegado intacto..Vai competir em todas as etapas da Liga este ano? E quanto ao circuito mundial de qualificação vai corrê-lo na íntegra?.Organizei o meu calendário para poder competir e fazer free surf ao mesmo tempo. Vou estar presente em quatro etapas da Liga, são cinco no total, mas vou faltar a uma por causa de um campeonato em Bali. Depois, e já que lá vou estar, quero aproveitar o resto do tempo para poder explorar a Indonésia, surfar ondas boas e fazer filmagens. Só quero entrar nas provas mais pontuadas do circuito mundial de qualificação quando estiver preparado a 100%, não quero chegar lá a sentir-me mais ou menos, nem insatisfeito com o meu surf. Quero estrear-me com nível para fazer as coisas e qualificar-me..Acha que o circuito de qualificação pode acabar facilmente com a autoestima da maioria dos surfistas?.[Risos] Acho, acho mesmo! Não é fácil para ninguém viajar meio mundo, chegar à prova, apanhar ondas pelo joelho, perder na primeira ronda, rasgar o dinheiro que se investiu nessa viagem, sair sem pontos e sem prize money, e voltar para casa. Mas tudo isso faz parte e por isso é que acho que temos de estar muito bem preparados para esse desafio.