Estado Islâmico parece virar-se agora para o tráfico de órgãos

Cadáveres de prisioneiros encontrados na zona de Mossul, no norte do Iraque, apresentavam marcas de cirurgias em várias partes do corpo
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Com as receitas do petróleo a cair (por causa dos bombardeamentos da coligação internacional), o Estado Islâmico parece tentar agora ganhar dinheiro de outras formas para alimentar a máquina jihadista que controla vastas zonas da Síria e do Iraque. E o tráfico de órgãos de seres humanos parece ser uma delas.

"Estão a ser postas em prática as indicações da fatwa [datada de 31 de janeiro de 2015]. Estão a obrigar prisioneiros a doar sangue e aqueles que foram condenados à morte são submetidos a operações antes da execução para que lhes sejam extraídos os órgãos de que necessitam", disse, a partir de Bagdad, ao 'El Mundo', Hashem el Hashimi, especialista em segurança encarregado de manter abertas as vias de comunicação com a cidade de Mossul (no Norte do Iraque).

O Estado Islâmico conseguiu tomar controlo de Mossul em junho de 2014 e as forças iraquianas tentam, desde então, recuperá-la das mãos dos terroristas. Foi precisamente nos arredores de Mossul que, na semana passada, forças curdas iraquianas resgataram uma adolescente sueca que tinha ido com o namorado juntar-se às fileiras do Estado Islâmico. Arrependida, após ser salva, Marilyn Stefanie Nevalainen admitiu que a vida sob os desígnios do Estado Islâmico era muito dura.

A fatwa de que o especialista em segurança fala é a mesma que já tinha sido citada pela Reuters em dezembro do ano passado e que dizia o seguinte: "Há provas nos textos [sagrados], nos princípios e nas leis islâmicas que apoiam o transplante de órgãos sãos do corpo de um apóstata para salvar a vida de um muçulmano ou substituir algum dos seus órgãos danificados."

Mas se antes o Estado Islâmico só usava estes órgãos para tentar salvar os seus homens que eram feridos em combate, agora parece ir mais além. "Nunca Abu Musab al-Zarqawi [ex-líder da Al--Qaeda no Iraque - a antecessora do Estado Islâmico] nem Abu Omar al-Baghdadi [o seu sucessor à frente da organização] permitiram a venda dos cadáveres dos infiéis. Foi [o atual líder do Estado Islâmico] Abu Bakr al-Baghdadi quem deu ordens para se mudar de opinião", explicou ao 'El Mundo' Hashem el Hashimi.

O mesmo responsável explicou que o grupo terrorista tem uma frota especial com veículos equipados com refrigeradoras para transportar os órgãos. "Colocam-nos em pequenas arcas frigoríficas e levam-nos até à vizinha Síria e ao Curdistão." A estratégia, refere ainda o 'El Mundo', terá sido confirmada a uma televisão iraquiana pelo ex-chefe de segurança do Estado Islâmico, Abu Omar al-Yazaui, que foi entretanto capturado. "Lembro-me de ter estado num hospital muito grande gerido por médicos estrangeiros, entre eles egípcios, em que se recebiam cadáveres dos quais se retiravam órgãos para curar os combatentes ou então para os vender."

Na zona de Mossul, relata o artigo do jornal espanhol, vários cadáveres de jovens detidos e assassinados pelo Estado Islâmico no início do mês de fevereiro tinham marcas de várias cirurgias em diversas partes do corpo quando foram posteriormente recuperados pelos seus familiares. Grande parte das vítimas tinham idades entre os 20 e os 35 anos.

As acusações de tráficos de órgãos não são novidade em situações de guerra. Também no Kosovo os guerrilheiros albaneses do Exército de Libertação se dedicaram a essa prática, conforme indicaram anos mais tarde relatórios da ONU e do Conselho da Europa.

Com 'El Mundo'

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