A Taça da Liga, agora rebatizada de Allianz Cup, é a mal-amada do futebol nacional. Já lhe fizeram o funeral várias vezes, mas foi reanimada e está mais forte do que nunca. História não lhe falta em 16 anos de vida. Foi pensada numa reunião da Liga Portugal em 2006 por proposta do Sporting e do Boavista, equipas que estão na final four da 15.ª edição, que começa terça-feira, em Leiria, com o Benfica (o mais titulado) a jogar com os axadrezados e prossegue na quarta-feira com o Sporting a defrontar o estreante Santa Clara..Ninguém sabe ao certo de que cabeça saiu a ideia. Segundo as atas da Liga Portugal, a Taça da Liga nasceu numa reunião do organismo em novembro de 2006, quando se discutiam ideias sobre como fazer receitas extra, dar minutos aos jogadores menos utilizados, fazer aparecer talentos e preencher um vazio no calendário das competições nacionais, então reduzidas ao campeonato e Taça de Portugal..Sporting e Boavista faziam parte da direção da Liga e foram os grandes impulsionadores da proposta, pela voz de João Loureiro (na altura, presidente do Boavista) e Rogério de Brito (representante do Sporting), segundo contou Hermínio Loureiro, ao DN. O presidente da Liga na altura não esqueceu o "importante contributo de Tiago Craveiro" e o dele próprio, que teve de "lutar" pela ideia dentro da Federação Portuguesa de Futebol. "Não foi fácil criar uma nova competição. Foi preciso lutar contra o clima de desconfiança que havia entre a Federação e a Liga. O presidente da FPF era Gilberto Madaíl e ele achava que a competição era para dar cabo da Taça de Portugal. Garanti-lhe que isso era falso, justificando que era para preencher o vazio no calendário e não roubar espaço a outra taça. A prova disso é que ainda hoje a Taça da Liga não dá acesso às competições europeias", explicou Hermínio, destacando que "o tempo mostrou que havia espaço para outra competição em Portugal"..A prova foi para o campo pela primeira vez na época 2007-08 (ganha pelo V. Setúbal) e desde então que luta por voltar no ano seguinte. Ameaçada por boicotes de clubes e pela falta de patrocínios, foi do Algarve ao Minho, sobreviveu a polémicas de arbitragem e ao atirar da medalha ao chão do finalista vencido Pedro Silva (Sporting), que ainda chamou "ladrão" ao árbitro Lucílio Baptista. Teve campeões surpreendentes (ver quadro), lidou com protestos de perder a conta e teve de fazer orelhas moucas às críticas dos mais fortes e poderosos..Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica entre 2003 e 2021, ameaçou várias vezes não jogar a prova em protesto pelo não avanço da investigação do processo Apito Dourado (que envolvia o rival FC Porto). Já Pinto da Costa chegou a apelidá-la de "taça da cerveja", numa alusão ao patrocinador da altura, e na época 2008-09 liderou um FC Porto de segunda linha, que incluía jogadores juvenis, numa viagem a Alvalade - feita de comboio e no próprio dia do jogo -, num claro desprezo pela prova, que abandonou após pesada derrota com o Sporting (4-1). Aliás, este é mesmo o único troféu que falta ao museu dos portistas..Por tudo isto, Hermínio diz que "esta Taça da Liga cresceu a levar pontapés de muita gente, mesmo de quem a ganhou durante muitos anos". Para o antigo dirigente, "a competição nunca foi acarinhada pelos clubes, mas quase sempre por razões extra desportivas"..Agora está mais viva do que nunca e já vai na 15.ª edição. O formato final four (final a quatro), inaugurado na temporada 2016-17, deu-lhe nova vida. "Olho sempre para a Taça da Liga com orgulho. A competição tem um modelo diferente, que aposta na festa, no entretenimento e tem o ponto alto na final four. Mas no início a festa fazia-se nos campos dos mais pequenos. Os clubes da II Liga jogavam sempre em casa e havia mais proximidade com os adeptos", recordou o antigo dirigente, lembrando que o "inovador" regulamento inicial previa bonificações para as equipas que utilizassem portugueses e jovens..E quem diria que seria preciso recorrer a esse critério de desempate? Aconteceu na edição de 2008-09, quando Académica, Portimonense e Beira-Mar entraram na última jornada empatados. Os algarvios jogavam com os estudantes e o 0-0 persistia no marcador quando, perto dos 90 minutos, Litos, treinador do Portimonense, trocou um guarda-redes de 35 anos (Sapateiro) por outro de 19 (Pedro Silva), baixando assim a média de idades e fazendo a festa do apuramento, que seria depois revertido pelos tribunais desportivos após protesto da Académica..Há quem defenda que a conquista deste troféu devia valer uma qualificação europeia. A questão não é pacífica e Hermínio Loureiro questiona-a: "Atribuir uma competição europeia em janeiro e com mercado aberto é muito discutível do ponto de vista da verdade desportiva. Para o vencedor ter uma vaga europeia, Portugal teria menos uma equipa a apurar-se via campeonato e isso também é discutível. Dar uma vaga numa competição onde uma equipa faz cinco jogos ou numa em que faz 36 jogos, eis a questão.".isaura.almeida@dn.pt