Num cenário em que François Fillon está às voltas com o Penelopegate e os socialistas continuam em guerra aberta por causa das primárias de amanhã, a Frente Nacional parecia bem colocada para aproveitar os frutos dos problemas dos adversários. Mas, ao contrário do que é habitual, a extrema-direita francesa tem mantido o silêncio em relação ao escândalo que envolve a mulher do candidato da direita. Tudo porque o que Fillon fez com Penelope - empregá-la como assessora parlamentar quando alegadamente nunca terá trabalhado como tal - também o partido de Marine Le Pen foi acusado de fazer no Parlamento Europeu..Os serviços antifraude europeus exigem que Marine Le Pen e o pai, o fundador da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, devolvam 340 mil e 320 mil euros (respetivamente) para cobrir os salários dos seus assistentes parlamentares, cujas provas de trabalho dentro do Parlamento Europeu foram consideradas insuficientes. A pedido das instituições europeias, a procuradoria antifraude francesa está a investigar o caso. A única reação dos Le Pen ao Penelopegate foi de Jean--Marie, no Twitter: "A procuradoria tem uma tendência para abusar dos inquéritos preliminares.".Segundo o semanário Le Canard Enchaîné , Penelope ganhou, entre 1998 e 2012, mais de 500 mil euros como assessora parlamentar do marido e do seu suplente (quando este foi para primeiro-ministro). A prática não é ilegal - o site Mediaparte diz que em 2014 havia 52 mulheres, 28 filhos e 32 filhas contratados por parlamentares em França - desde que esse emprego não seja fictício. É isso que a procuradoria antifraude está a investigar, avaliando se há motivos para uma acusação de desvio de fundos públicos..Numa entrevista à televisão TF1 emitida na quinta-feira à noite, Fillon explicou o que fazia a mulher - nascida no País de Gales e formada em Direito, mas que nunca exerceu e optou por se dedicar aos cinco filhos: "Ela corrigiu os meus discursos, recebeu inúmeras pessoas que eu não podia ver, representou-me em manifestações, junto das associações, fazia-me a revista de imprensa e sobretudo trazia até mim os problemas das pessoas." Penelope deverá quebrar o silêncio para a semana, mas, para provar que não tem nada a esconder, marcará antes presença no grande comício do marido no domingo, em Paris..As últimas sondagens em França são de 20 de janeiro (ver gráfico), antes da revelação do Le Canard Enchaîné , mas as próximas já deverão refletir o impacto do caso. Uma pesquisa de opinião feita online, pela Odoxa, mostra uma queda de quatro pontos percentuais na popularidade de Fillon. O candidato d"Os Republicanos, até agora apontado como favorito à vitória numa eventual segunda volta contra Le Pen, fez campanha a prometer honestidade e transparência. "A única coisa que me impediria de ser candidato era se a minha honra fosse comprometida, se fosse acusado", disse à TF1, questionado sobre a possibilidade de desistir..Alain Juppé, que perdeu a segunda volta das primárias do centro e da direita para Fillon, já disse que não será candidato caso este desista. "Não, claramente e definitivamente", afirmou aos jornalistas, lembrando que o ex-primeiro-ministro foi escolhido pelos eleitores. "Não tenho intenção de me lançar numa operação de repescagem", referiu, dizendo acreditar que as explicações de Fillon são suficientes. Ainda assim, mostrou-se preocupado com a situação: "Não poderia dizer o contrário.".Nas sondagens, a esquerda não consegue chegar à segunda volta - independentemente de o candidato ser o ex-primeiro-ministro Manuel Valls ou o ex-ministro da Educação Benoît Hamon. Este venceu a primeira volta das primárias e a segunda realiza-se amanhã, mas o que o escrutínio está a revelar é uma grande divisão no Partido Socialista. "O PS está partido em dois", titulou o Le Parisien. Mais preocupados com o confronto a dois, os ataques contra Fillon foram controlados, com ambos a defender a proibição da contratação de familiares como assessores.