No final do ano passado, uma sondagem realizada pelo diário Nikkei concluía que 86% dos japoneses viam na China uma ameaça, uma percentagem maior do que a Coreia do Norte. Como que a alimentar esse medo, na segunda-feira da semana passada cinco navios chineses e outros tantos russos navegaram juntos pelo estreito de Tsugaru entre Hokkaido, a ilha mais a norte do arquipélago japonês, e a principal ilha japonesa, Honxu, rumando para o Oceano Pacífico..No sábado, a esquadrilha passou pelo estreito de Osumi, a sul de Quiuxu antes de prosseguir para o Mar da China Oriental. Os militares japoneses, que seguiram de perto as operações, avistaram um helicóptero que descolou e aterrou no convés de um contratorpedeiro chinês perto das ilhas Danjo e, em resposta, enviaram para o local aviões de combate..A patrulha conjunta sino-russa navegou em águas internacionais, não tendo portanto violado as águas territoriais nipónicas, mas marca uma escalada nas tensões entre blocos, tendo em conta que é a primeira vez que chineses e russos passaram tão perto do Japão. "Acreditamos que esta foi uma demonstração de força em relação ao Japão", disse o ministro da Defesa Nobuo Kishi, depois de ter "pela primeira vez confirmado atividade em tão grande escala e durante um período tão longo"..Também o ministro dos Negócios Estrangeiros Toshimitsu Motegi disse numa outra conferência de imprensa que o Japão notificou os dois países, através dos canais diplomáticos, tendo "exprimido as suas preocupações" relacionadas com a atividade nas águas circundantes..Para Drew Thompson, ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA, Pequim não pode agora condenar a passagem de navios norte-americanos ou de outro país no estreito da Formosa. "Isto torna a sua virulenta retórica antiestrangeira extremamente hipócrita", comentou à CNN..A resposta à esquadrilha não tardou. Na segunda-feira, a frota do Pacífico dos Estados Unidos anunciou que estava a conduzir operações com a Força Marítima de Autodefesa do Japão no Mar do Sul da China, uma demonstração do "compromisso inabalável de defender o direito internacional", segundo as palavras do contra-almirante Dan Martin. A frota do Pacífico dos EUA informou que as operações conjuntas incluiriam exercícios de voo, treino tático coordenado entre unidades de superfície e aéreas, reabastecimento no mar e exercícios de ataque marítimo..DestaquedestaqueO Partido Liberal Democrata tem no programa para a próxima legislatura elevar o investimento militar até 2% do PIB, investindo em material militar japonês, nos caças F35 e em tecnologias..Além da aliança bilateral, os Estados Unidos e o Japão fazem também parte de uma outra, mais informal, Quad, que envolve a Índia e a Austrália, e que tem como objetivo não declarado aplacar as pretensões da China no Indo-Pacífico (os EUA e a Austrália também são aliados, com o Reino Unido, na trilateral AUKUS, que tanta controvérsia gerou com a França devido ao negócio do submarinos)..Fumio Kishida, o novo primeiro-ministro em funções, que se recandidata nas eleições de domingo, ganhou fama de moderado e de pacifista, mas o seu Partido Liberal Democrata tem no programa eleitoral duplicar o investimento em defesa, até 2% do Produto Interno Bruto, deixando cair um teto de gastos que fazia parte do consenso nacional desde 1976, embora tenha sido quebrado em duas ocasiões, 1987 e 2010..Com esse dinheiro extra, as forças japonesas querem investir num novo caça furtivo de fabrico caseiro, mas também em aviões de combate F35, submarinos, navios, drones, e mísseis com maior alcance, além de reforçar as defesas cibernéticas. "As Forças de Autodefesa estão bem treinadas e bem equipadas, mas a sua sustentabilidade e resiliência é um dos problemas mais graves", disse à Reuters o antigo almirante da Força de Autodefesa Marítima Yoji Koda..A estratégia militar do Japão centra-se na defesa do território ao longo do Mar da China Oriental, onde Pequim ambiciona tomar as ilhas Senkaku, que a China chama Diaoyu (e Diaoyutai por Taiwan, que também as reclama)..cesar.avo@dn.pt