Esfaqueador de Munique deverá ser um "criminoso solitário"

Apesar de a Alemanha não ter sido vítima de um atentado como os que aconteceram em Bruxelas ou Paris, já houve lobos solitários a atacar em nome do Estado Islâmico.
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Um homem atacou com uma faca quatro pessoas numa estação de comboios na cidade de Grafing, cerca de 30 quilómetros a sudeste de Munique. Uma das vítimas, de 50 anos, morreu já no hospital em consequência dos ferimentos. As outras, que ficaram feridas, uma delas com gravidade, tinham 43, 55 e 58 anos. O ataque deu-se ontem de madrugada, às 04.50 locais (05.50 em Lisboa).

Apesar de testemunhas terem afirmado à imprensa germânica que o atacante terá gritado em árabe "Deus é Grande" e, em alemão, "vocês são todos infiéis e têm de morrer", as autoridades garantem que não há evidências de que o ataque tenha tido motivações islâmicas.

Joachim Herrmann, ministro da Administração Interna da Baviera, informou os repórteres de que o homem detido pela polícia é toxicodependente e padece de distúrbios psicológicos.

Ainda que não tenha sido identificado oficialmente, a imprensa alemã refere-se ao autor dos esfaqueamentos como Paul H. Nascido na Alemanha, tem 27 anos e é residente na cidade de Giessen.

"Pelo que sabemos até agora trata-se apenas de um criminoso solitário. Não há nada que aponte para ligações a redes islâmicas", disse aos jornalistas Petra Sandles, do departamento de investigação criminal da polícia da Baviera.

De acordo com Ken Heidenreich, porta-voz do Ministério Público, Paul H. prestou um depoimento muito confuso durante o interrogatório e deverá ser encaminhado para uma instituição psiquiátrica. Segundo o que avança a agência Reuters, o autor dos ataques poderá ter-se convertido ao islão mas não terá sido radicalizado.

Lobos solitários

Caso viesse a confirmar-se que Paul H. atuara em nome do Islão, não seria a primeira vez que um lobo solitário, com motivações islâmicas, decidiria levar a cabo ações em solo germânico.

A 26 de fevereiro, na estação de comboios de Hanôver, Safia S., uma adolescente de apenas 15 anos, de origem alemã e marroquina, esfaqueou um polícia no pescoço com uma faca de cozinha de seis centímetros. Os procuradores responsáveis pela investigação acreditam ter-se tratado de um ataque inspirado pelo Estado Islâmico. Em março de 2015, Safia chegou a viajar até à fronteira da Turquia com a Síria para juntar-se à organização terrorista, mas foi convencida pela mãe a desistir e regressou a casa no dia 28 de janeiro.

Em setembro do ano passado tinha sido Rafik Y. a esfaquear uma mulher-polícia em Berlim. O iraquiano, de 41 anos, foi depois abatido por um outro agente. Mais tarde veio a saber-se que Rafik tinha estado preso por suspeitas de, em 2008, planear um ataque contra o então primeiro-ministro iraquiano, Iyad Allawi.

Apesar de a Alemanha ainda não ter sido vítima de um atentado terrorista em larga escala como os de Bruxelas (22 de março), Paris (13 de novembro), Londres (7 de julho de 2005) ou Madrid (11 de março de 2004), a ameaça é real.

Alguns dias depois dos ataques na capital belga, o Estado Islâmico divulgou imagens instigando os muçulmanos alemães a levarem a cabo, em solo germânico, atentados semelhantes aos de Bruxelas. Os alvos sugeridos eram o aeroporto de Colónia e os escritórios da chanceler alemã Angela Merkel.

Em várias ocasiões chegou a temer-se o pior. Em novembro passado, em Hanôver, uma partida amigável entre as seleções da Alemanha e da Holanda foi cancelada 90 minutos antes do pontapé de saída depois de uma ameaça de bomba. O alerta era falso. O mesmo aconteceria na estação de comboios de Munique, pouco antes da meia--noite na última passagem de ano.

De acordo com as autoridades, mais de 800 alemães juntaram-se a grupos jihadistas na Síria e no Iraque e receberam treino para levar a cabo ações terroristas. Desses 800 houve cerca de 260 que já regressaram a casa. A hipótese de um atentado em larga escala na Alemanha está longe de ser negligenciável.

Suspeitos detidos em Bari

Ontem, os alarmes soaram também em Itália. A polícia transalpina prendeu dois afegãos suspeitos de estarem a planear ataques terroristas em Londres e em Roma.

De acordo com o Telegraph, Hakim Nasiri, 23 anos, e Gulistan Ahmadzai, 29, foram detidos em Bari. A polícia encontrou nos seus telemóveis fotografias de locais que - assim acreditam os investigadores - poderiam ser potenciais alvos, como o Coliseu de Roma, ou vários hotéis na cidade de Londres.

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