A época oficial de provas e exames na educação arranca nesta quinta-feira, com o início das provas de aferição - que não contam para a nota - de Expressões Artísticas e de Expressões Físico-Motoras do 2.º ano. Mas se milhares alunos estarão já prontos para serem avaliados em educação física e artes, muitas escolas passam ainda por dificuldades para ter todo o material exigido para a realização das provas. Patins, capacetes, bancos suecos, espaldares, este é algum do equipamento desportivo pedido pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) que está a gerar dores de cabeça aos diretores, que muitas vezes nem ginásios têm. "Isto só vem pôr a nu a falta de material que afeta muitas escolas", dizem..Para as provas de Expressões Físico-Motoras do 2.º ano, que começam na quinta-feira e vão prolongar-se durante a próxima semana, até dia 10, o IAVE apresentou uma lista com 14 itens, que vai dos plintos de ginástica até aos planos inclinados de espuma, passando por raquetas de praia, bancos suecos, quatro colchões de ginástica e espaldares. Material que, neste último caso, pode ser substituído por uma barra fixa a uma altura que permita que os alunos se suspendam sem tocar com os pés no chão, numa espécie de admissão de que muitas escolas podem não ter todo o equipamento necessário. Para as provas do 5.º ano, que arrancam pouco mais de uma semana depois, a 20 de maio, a lista é ainda maior e abrange 17 itens, em que se incluem cinco pares de patins de quatro rodas ou patins em linha e cinco capacetes. O problema, apontam diretores e professores de Educação Física, é que os alunos não praticam patinagem na escola.."Os critérios incluem a patinagem, quando a maioria das escolas se foca em desportos mais tradicionais, não só por hábito mas também porque o acesso a materiais é mais fácil. Na minha escola [em Elvas], por exemplo, não temos patins nem espaldares", explica Alexandre Henriques, professor de Educação Física e autor do blogue Com Regras. Portanto, "há que tentar compatibilizar o programa com a realidade das escolas", pede a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas. "Os patins, por exemplo, são caros, serão raras as escolas que os têm. O que peço é que as provas sejam realistas, que se adequem aos programas e à prática dos alunos", reforça Filinto Lima, presidente da ANDAEP, que ainda assim até admite que "isto pode ajudar a expor a escassez de material que afeta as escolas"..A ajuda autárquica com que todos contam.As provas de aferição foram introduzidas em 2016, quando o governo acabou com os exames finais dos 4.º e 6.º anos e passou a focar-se numa avaliação nos anos intermédios (2.º, 5.º e 8.º) para detetar problemas antes do final de cada ciclo. Neste ano, as provas serão feitas por cerca de 300 mil alunos. A informação é unicamente qualitativa e destinada aos professores e às famílias para corrigir fragilidades de aprendizagem. "As provas têm essa enorme vantagem de aferir se os alunos estão onde queríamos", reconhece Manuel António Pereira, da Associação de Dirigentes Escolares, "de apontar defeitos e focar-se em áreas em que podem ter algum atraso". Mas têm também esse mérito indesejado à partida, o de chamar a atenção para as desigualdades de oportunidades entre alunos das várias regiões. "Porque no interior há muitas escolas sem condições, sem material e muitas vezes sem pavilhões", sublinha o também diretor do agrupamento de escolas de Cinfães (Viseu)..Como se ultrapassam, então, esses problemas, ainda mais num ano em que têm sido noticiados encerramentos de ginásios escolares por falta de assistentes operacionais? "Com imaginação", responde Manuel António Pereira, imaginação e ajuda das autarquias. "São elas que muitas vezes disponibilizam os espaços para que as provas se realizem ou que transportam material de ginástica, como plintos, para as escolas.".Uma ajuda com a qual o Ministério da Educação também já conta. Em repostas enviadas ao DN, o gabinete de Tiago Brandão Rodrigues realça o papel "inestimável" das câmaras municipais nesta "como em outras áreas". Mas as queixas dos diretores também não ficam sem resposta, argumentando o governo que "o material necessário à realização das provas é o necessário ao cumprimento do currículo ao longo do ano, não exclusivamente pedido para a realização das provas". O ministério garante ainda que a Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares colabora com as escolas para a resolução de eventuais faltas sinalizadas ao longo do ano..Escola sem aulas, pais sem alternativas.Mas a falta de equipamento não se limita à Educação Física. Segundo Manuel António Pereira, boa parte da lista de material exigido às escolas na altura das provas - dos simples lápis, borrachas e tesouras, até às colas, canetas de feltro e lápis de cera - vão faltando ao longo do ano. "É um faz-de-conta", resume Jorge Ascenção, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais. "É como pedir aos alunos para fazerem uma composição mas não lhes dar lápis e papel. Existem metas a alcançar, mas as escolas não têm materiais e condições para o conseguir.".A solução, para Jorge Ascenção, é colocar metas que sejam realistas e que não passem, no caso das expressões motoras, "por avaliar capacidades de patinagem quando não existem patins". Mas também, numa crítica às escolas, por preparar as provas com tempo e "não se lembrarem apenas de que não têm material em cima das datas"..O agendamento das provas de aferição de Expressões Artísticas e Expressões Motoras do 2.º ano (entre 2 e 10 de maio) e de Educação Física do 5.º (de 20 a 29 de maio) é gerível pelos próprios agrupamentos de escolas e é também uma das maiores dores de cabeça para os pais, que, como conta Jorge Ascenção, muitas vezes são informados de véspera de que os filhos não terão aulas - ainda mais em escolas mais pequenas, que recorrem ao modelo de turmas mistas, que juntam alunos de vários anos.."Muitas vezes a atividade do resto da escola é afetada pela realização da prova e neste ano não temos informação que nos assegure do contrário. Temos de encontrar respostas que não perturbem a vida das famílias, porque os pais não podem faltar ao trabalho. Precisamos de uma resposta em rede, com o apoio de associações e de quem já assegura a componente de apoio à família", defende o presidente da Confap, que não deixa de apontar o dedo aos próprios pais, "que muitas vezes não pressionam para que essa resposta seja dada"..As provas das restantes disciplinas ficam guardadas para junho: a 6 de junho, Português do 8.º ano e Matemática e Ciências Naturais do 5º; no dia 12 de junho, História e Geografia dos 8.º e 5.º anos; para depois acabar com as provas do 2.º ano, Português e Estudo do Meio no dia 17 e Matemática, a 19 de junho..Os relatórios individuais das provas (os RIPA), assim como os REPA, os relatórios de escola, são apresentados no início do próximo ano letivo. Foram eles que no passado mostraram, por exemplo, as dificuldades de quase metade dos alunos em completar uma cambalhota ou saltar à corda.