Eleições no estado mais populoso da Índia são um referendo a Modi

Resultados em Uttar Pradesh dirão se o primeiro-ministro ainda goza do apoio incondicional dos indianos ou se já começa a perder terreno na corrida para uma eventual reeleição em 2019
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Uma bicicleta, um elefante, uma flor de lótus, a palma de uma mão ou uma bomba de água. São os tradicionais símbolos em vez de siglas de partidos que os eleitores do estado indiano do Uttar Pradesh encontram nos boletins de voto para as eleições regionais, que se prolongam por sete fases e podem ditar o futuro do primeiro-ministro Narendra Modi. Em 2014, o estado mais populoso da Índia foi crucial para o resultado histórico dos nacionalistas hindus do BJP, que afastaram pela primeira vez desde a independência o Partido do Congresso do poder. Mas a polémica decisão do chefe de governo de retirar as notas de maior valor de circulação gerou protestos, pelo que será difícil o partido de Modi repetir a proeza.

"Os resultados vão dizer-nos se Modi continua a ter o apoio incondicional ou se este começa a desaparecer", disse à Reuters o analista político independente R.K. Misha, sediado em Lucknow, a capital do Uttar Pradesh. Após três anos no poder, estas eleições são quase um referendo ou "uma espécie de teste", disse à AFP o professor do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Giri, R.P. Mamgain, lembrando as promessas em matéria de "emprego, desenvolvimento urbano e rural" que foram feitas mas não cumpridas. Uma vitória poderá permitir ao governo de Modi garantir a maioria na câmara alta do Parlamento indiano, eleito pelas assembleias regionais, nas quais a oposição pode atualmente bloquear as reformas.

O principal adversário do BJP (flor de lótus) de Modi é o atual ministro-chefe (responsável pelo governo do estado) do Uttar Pradesh. Akhilesh Yadav é o candidato da aliança entre o Partido Samajwadi (a bicicleta) e o Partido do Congresso (a palma da mão) de Sonia Gandhi e do seu filho Rahul - que precisa desesperadamente de uma vitória depois dos resultados fracos dos últimos anos se quer ter esperanças de voltar ao poder em 2019. Quem pode estragar as contas é Mayawati, do BSP (literalmente o Partido do Povo em Maioria, cujo símbolo é o elefante). É conhecida como a rainha dalit, numa referência à mais baixa casta da sociedade indiana (anteriormente conhecidos como "intocáveis"), que com 39 anos foi a mais jovem ministra-chefe do Uttar Pradesh em 1995 e governou entre 2007 e 2012.

Modi recorreu à sua popularidade (e à promessa de dar portáteis, internet e bilhas de gás grátis) para fazer campanha pelo BJP em Uttar Pradesh, não tendo nomeado um candidato a ministro-chefe. Segundo alguns analistas, isso poderá custar-lhe votos - como aconteceu na derrota esmagadora no estado vizinho do Bihar, nas eleições de 2015. "O eleitorado sabe que terá Akhilesh Yadav como ministro-chefe se a sua coligação ganhar, mas não sabe o que poderá sair da caixa negra se o BJP ganhar", escreveu o jornalista R. Jagannathan no The Times of India. Em troca dos votos, numa prática que não é ilegal, Yadav prometeu telemóveis para todos - após vencer em 2014, cumpriu a promessa e deu portáteis aos estudantes.

Além disso, apesar de as filas frente aos bancos já terem há muito desaparecido, o BJP ainda pode sofrer as consequências da política monetária de Modi. Em nome da luta contra a corrupção, Nova Deli decretou em novembro que as duas maiores notas em circulação (500 e 1000 rupias, isto é, 86% do dinheiro líquido), já não tinham valor legal. A falta de liquidez provocou uma queda na procura e deverá ter um impacto no crescimento indiano, um dos mais rápidos do mundo.

Num estado com mais de 200 milhões de habitantes (se fosse independente era o quinto país mais populoso do mundo depois de China, Índia, EUA e Indonésia), as eleições são um processo complexo que dura um mês. Ontem foi a primeira fase da votação (participaram 63% dos 26 milhões de eleitores da zona ocidental), que só ficará completa a 8 de março. Os resultados são revelados a 11 de março, assim como os de outros estados onde já decorreram ou vão decorrer eleições: Punjab, Goa, Uttarakhand e Manipur.

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