Pelo segundo ano consecutivo, a Finlândia arrecadou, em 2019, o primeiro lugar no pódio dos países mais felizes do mundo. O ranking resulta de um estudo levado a cabo pela Gallup e analisa seis fatores: rendimento per capita, segurança social, esperança média de vida, liberdade de fazer escolhas, generosidade e níveis de corrupção..De acordo com o relatório deste ano, a Finlândia conseguiu boas pontuações em todos os itens, mas revelou-se particularmente forte na generosidade: cerca de metade dos finlandeses fazem voluntariado regularmente ou donativos para instituições de solidariedade social..Diversos estudos internacionais sugerem que ajudar os outros faz-nos sentir bem. Se a isso somarmos excelentes sistemas de educação e de saúde públicos, o sisu - a arte finlandesa de viver com coragem -, a confiança que o povo deposita nas instituições públicas, pelas quais se sente apoiado, a sensação de liberdade para fazer escolhas e um bom equilíbrio entre a vida familiar e o trabalho, temos o país mais feliz do mundo..Um país que vai neste domingo a votos e que tem à frente nas sondagens o social-democrata SDP de Antti Rinne [ideologicamente equivalente ao Partido Socialista em Portugal], com 19% das intenções de voto, logo seguido pelo Partido dos Finlandeses, nacionalista, populista e de direita, com apenas três pontos de desvantagem e que tem vindo a crescer durante a campanha eleitoral..Nos últimos quatro anos, a Finlândia foi governada por uma aliança tripartida de centro-direita-liberal, liderada por Juha Sipilä, o primeiro-ministro, do Partido do Centro, que conduziu uma política de controlo do défice das contas públicas e fez cortes orçamentais em áreas-chave como a educação e a saúde, tendo falhado, no entanto, a sua grande bandeira: a reforma da saúde e da segurança social. Não conseguiu reunir consenso no Parlamento..Igualdade em causa?.Esse tem sido o grande tema da campanha e o modelo escolhido para a tão almejada reforma poderá moldar o futuro do país. De acordo com a embaixadora da Finlândia em Portugal, Tarja Laitiainen, ninguém tem dúvidas sobre a necessidade de encontrar um modelo alternativo. O desacordo reside na definição do mesmo.."A Finlândia é um dos países do mundo com mais rápido envelhecimento da população. O sistema de segurança social e de saúde é muito completo e de alta qualidade, mas por questões estruturais tem de se encontrar um novo modelo para garantir a sua sustentabilidade e assegurar a qualidade dos serviços prestados. A diferença de opiniões está em como reformar o sistema", diz ao DN a diplomata, que faz notar que a ideia de igualdade tem sido sempre um fio condutor na sociedade e na política finlandesas em todas as áreas..Mas essa ideia poderá estar em causa se, por exemplo, o Partido dos Finlandeses ganhar o maior número de assentos no Parlamento. Esta formação aliou-se recentemente à Liga do italiano Matteo Salvini e a outros populistas e nacionalistas, tendo em vista uma aliança no Parlamento Europeu, após as eleições de 23 a 26 de maio na UE..Para Egan Richardson, jornalista britânico da YLE, empresa pública de rádio e televisão, que vive na Finlândia desde 2006 e já tem dupla nacionalidade, esse perigo é real..Surpreende-o a forma detalhada e até técnica como os políticos finlandeses debatem as questões, procurando mostrar exatamente o que fariam para melhorar as coisas. "É fantástico. Discutem-se questões como a igualdade na licença parental, a reforma da segurança social ou o rendimento básico. É muito "adulto" comparado com o debate político noutros países", afirma ao DN..No entanto, alerta, também "no país mais feliz do mundo" o populismo e a extrema-direita estão a ganhar terreno. "O Partido dos Finlandeses tem passado a ideia de que estas eleições são sobre política de imigração e tem tirado dividendos disso, o que se deve por um lado a casos de polícia que têm refugiados como principais suspeitos e por outro a uma retórica ao estilo de Trump.".Tarja Laitiainen confirma que "também na Finlândia o populismo, que tem na sua narrativa a questão das migrações, tem vindo a ganhar terreno na última década". "Até 2015, quando se deu a crise das migrações, a Finlândia tinha recebido as quotas anuais de refugiados e requerentes de asilo estabelecidos na política de refugiados, mas os números não ultrapassavam alguns milhares por ano. Em 2015, recebeu cerca de 32 mil refugiados, tendo sido um dos países que receberam o maior número per capita, o que criou preocupação nas pessoas", recorda, justificando o peso que o tema tem ganho nesta campanha eleitoral..A imigração e as alterações climáticas, com o Partido dos Verdes a aproveitar a onda ambientalista avivada pela jovem sueca Greta Thunberg, têm sido, além da segurança social, os assuntos a dominar o debate eleitoral. Como é que isso vai determinar os resultados de domingo?.Egan Richardson não se compromete: "O SDP tem liderado as sondagens, mas esta eleição é estranha porque pode acontecer que nenhum partido consiga mais de 20% dos votos expressos. Isso exigiria uma coligação alargada. Existe ainda a hipótese de o Partido dos Finlandeses ser o partido mais votado e caber-lhe a formação de governo, o que é complicado, já que o seu discurso é diferente de todos os outros. Se essa responsabilidade couber ao SDP, a dúvida é se se vira para o centro-direita ou para a esquerda, para parceiro como a Aliança de Esquerda e os Verdes.".Tudo em aberto, portanto..O QUE DEFENDEM OS PRINCIPAIS PARTIDOS FINLANDESES?.SDP O partido social-democrata, de centro-esquerda, tem como prioridade o crescimento, o emprego e a sustentabilidade e justiça social..KOK O Partido de Coligação Nacional é de centro-direita e defende o liberalismo económico e uma reforma do sistema de saúde e segurança social que inclua os privados..KESK O Partido do Centro, do primeiro-ministro cessante, tem uma visão tradicionalista, dando prioridade às políticas de família e sustentabilidade e igualdade entre as regiões..PS O Partido dos Finlandeses é de direita, anti-imigração, populista e quer assegurar os serviços do sistema de segurança social finlandês para os finlandeses..VIHR O Partido dos Verdes tem como questões centrais a sustentabilidade e alterações climáticas, bem como a oposição aos cortes na área da educação.