Sempre segura, ao contrário de Lianor avançando pela verdura, foi andando Marta Temido, em direção à fonte da autoproclamada glória, com a sobranceira certeza de um trabalho bem feito na prevenção e na luta contra a covid. Achando-se de tal forma imune a tudo que começou a dar ordens e sermões aos profissionais que tutela, quando eles ficaram esgotados e o SNS rebentou e se tornou no caos em que hoje o encontramos..Ainda que os serviços de Saúde rebentassem pelas costuras e os profissionais do setor arriscassem a vida diariamente para cumprir a sua missão de salvamento, à margem de ordens bacocas ou substituindo-se a quem falhava na orientação, houve quem louvasse o empenho da "ministra que chora como a gente"..Mesmo quando foi preciso chamar os militares para porem ordem na casa da vacinação, que resvalava desde os primeiros dias para a balda e o compadrio costumeiros, houve quem olhasse para Temido com admiração e a ovacionasse ao vê-la juntar-se à barcaça socialista, de mão dada com António Costa..Até quando já era mais do que óbvio que não havia tutela da Saúde mas uma espécie de ministério da covid, fraco, incompetente e inútil - com as restantes doenças obliteradas em favor de uma só, mesmo após conhecermos a real gravidade do novo coronavírus -, houve quem sorrisse e até se emocionasse ao escutar-lhe o nome. E a ministra, vaidosa, foi-se convencendo que o brilho que via não era só reflexo nos olhos de quem a via..Quando chegar a altura, faremos as contas e veremos os resultados, foi repetindo o governo, a várias vozes e em vários formatos de discurso, enquanto prolongava as restrições aos restaurantes, ao comércio, aos equipamentos culturais - apesar de andar tudo ao molho no comboio. No final, veremos como correu, dizia, enquanto cozinhava mais uma proibição surreal apoiada na convicção (sem prova científica) de que um concerto era maior foco de contágio do que uma sala de aula, de que havia sítios em que os miúdos se lambuzavam mais do que noutros e havia que vedar-lhes o acesso..Pois as contas estão aí. E a genial gestão de Marta Temido, com apoio declarado de Costa e dos socialistas, foi afinal, imagine-se, uma tremenda desgraça. Os dados são claros: quer na proporção de pessoas infetadas quer nas mortes, Portugal fica pior na fotografia do que a média europeia. E no retrato alargado, fica muitíssimo pior do que o registo mundial, com mais de metade dos portugueses a saberem ter contraído a doença (revelando a ineficácia de regras que só serviram mesmo para rebentar com a economia) e uma média superior a 27 mortos por dia (fazendo inclusivamente inverter a curva da idade da reforma pela primeira vez na história). A maioria desses eram velhotes que foram abandonados à sorte de terem quem deles gostasse e cuidasse onde quer que estivessem, nos longos meses em que ficaram proibidos de ver filhos e netos, ainda que isso não tivesse evitado que se tornassem vítimas da covid, traduzindo uma vez mais regras vazias de efeito mas reveladoras da brutal insensibilidade e nulo bom senso de Temido e do seu governo.