"É preciso garantir a segurança destas crianças de Calais"

UNICEF preocupada com destino de migrantes menores de idade que não têm familiares para recebê-los no Reino Unido
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Na quarta-feira a França deu por concluído o desmantelamento do acampamento ilegal de Calais, mas ontem ainda havia relatos de que cerca de uma centena de menores não acompanhados permaneceram no local durante a noite, abandonados à sua própria sorte.

"Implorámos às autoridades francesas que façam alguma coisa em relação a estas crianças, mas absolutamente nada foi feito", disse ontem, à BBC, Caroline Gregory, da organização humanitária britânica Calais Action. "Eu passei a noite aqui. Estou na fila dos menores para ir para Inglaterra ter com a minha família", contou, à AFP, um rapaz afegão.

Apesar de a prefeita da região de Pas-de-Calais, Fabienne Buccio, ter dado por cumprida a missão de desmantelamento e demolição do acampamento ilegal, a polícia francesa admitiu que ainda continua a encontrar migrantes escondidos. Não querem sair dali.

Buccio ressalvou que os 68 menores não acompanhados que ainda permaneceram no acampamento durante a noite de quarta--feira para ontem irão ser levados para centros em França, sublinhando, porém, que não haverá mais autocarros para transportar migrantes para centros.

Isto porque, disse, Calais não pode ser um íman para todos os que querem um lugar num centro. Buccio acrescentou que aqueles que permaneceram durante a noite no acampamento não estavam ali antes e tinham vindo "da Alemanha, de Paris e outros lugares".

A organização não governamental Save the Children indicou que "a situação das crianças em Calais após a demolição do acampamento é pior do que nunca" e que algumas crianças "não tinham lugar para onde ir". O Ministério do Interior britânico, por seu lado, fez saber que as autoridades francesas são responsáveis por "todas as crianças em Calais durante o processo de desocupação, incluindo por aquelas que estão a ser consideradas para uma possível transferência para o Reino Unido".

Em Calais, no Norte de França, chegaram a estar mais de oito mil pessoas antes da demolição, segundo a agência Help Refugees. Conhecido como A Selva, o acampamento ilegal de Calais fica a 50 quilómetros do Eurotúnel. Do outro lado do canal da Mancha, o Reino Unido, objetivo final dos migrantes e refugiados do acampamento. Para solo britânico serão levados os menores não acompanhados que se prove terem lá alguns familiares. Cerca de 500 crianças serão elegíveis para ir para o Reino Unido. O que preocupa as organizações não governamentais é o que poderá acontecer com as restantes (havia em Calais 1200 crianças com idades inferiores a 18 anos).

"Está tudo a acontecer muito rápido e é uma boa notícia que o Reino Unido esteja a aceitar crianças com ligações familiares lá. Mas estamos preocupados com as crianças que não vão para o Reino Unido por não terem quaisquer ligações familiares lá. É preciso garantir a segurança destas crianças. Elas são muito vulneráveis. As autoridades francesas têm de encontrar uma solução", declarou ao DN Sarah Crowe, porta-voz da UNICEF para a questão dos refugiados e migrantes.

A responsável desta agência da ONU para as crianças alerta: "Se estas crianças não tiverem onde ficar ficam à mercê dos traficantes. Temos provas de que isso já aconteceu no passado." Recém-regressada de Lampedusa, Itália, a visitar atualmente um centro para mães e crianças em Atenas, Grécia, Sarah Crowe diz que os menores não acompanhados que conheceu falam mais do que lhes aconteceu do que de expectativas para um futuro na Europa. "Uns fogem por exemplo do recrutamento militar em países como a Eritreia, outros da prostituição forçada na Nigéria. A sua situação é muito preocupante e desesperada."

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